Petrobras subiu 28% desde o início de maio; entenda a alta e os riscos
Fundamentos da empresas são sólidos, mas empresa pode sofrer pressão política com eleições se aproximando
As ações da Petrobras voltaram ao radar do mercado e a compor a carteira dos investidores. O retorno desse interesse está cristalizado na vistosa valorização dos papeis da petroleira, sobretudo no período mais recente.
Em pouco mais de um mês, desde 3 de maio até 10 de junho, a ação ON acumula valorização de 28,21% e a PN, 22,54%, de acordo com dados da Economatica, plataforma de Informações financeiras. Um desempenho bastante acima da variação de 9,12% do Ibovespa (Índice Bovespa, o principal indicador de referência da B3, que reflete a evolução das ações mais negociadas) que surpreende positivamente analistas e especialistas de mercado. E anima investidores.
Os dados sugerem que a Petrobras deixou para trás dois percalços colocados em seu caminho - um em 2020 e outro neste ano. O primeiro foram as incertezas com a economia global, pela chegada da pandemia do coronavírus, que derrubaram a demanda e as cotações do petróleo.
A ação PN, que esteve cotada por R$ 31,12 em 8 de janeiro de 2020 e por R$ 29,59 em 17 de fevereiro, considerado período pré-pandemia, despencou para o nível de R$ 12,00, em 20 de março, num dos momentos de maior tensão com a escalada mais severa de coronavírus pelo mundo.
O segundo foi a troca no comando da companhia, em fevereiro deste ano, com a demissão de Roberto Castello Branco e a nomeação do general Joaquim Silva e Luna, episódio que gerou uma crise de confiança nos investidores. O temor de que a mudança abriria caminho para a volta de interferência do governo na política de preços da estatal fez despencar as ações da petroleira, com perda estimada em R$ 28 bilhões em um dia.
Os sinais de que a substituição nada mudaria na política de preços não demorou a pôr as ações da Petrobrás em uma gradual recuperação. Processo que teve sustentação também na retomada de valorização externa do barril de petróleo, puxada pela perspectiva de recuperação de atividade econômica global, com o avanço da vacinação nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.
Desde 22 de fevereiro, dia do mergulho dos papeis como reação à troca na Petrobrás, até 10 de junho, a ação ON da estatal acumulada valorização de 41,54% e a PN, de 38,35%, bastante acima da variação de 15,45% do Ibovespa no mesmo período, de acordo com a Economatica.
Otimismo e cautela com Petrobras
Especialistas consideram a perspectiva positiva para as ações da Petrobrás, embora não descartem vendas no curto prazo, para realização de lucros acumulados no período mais recente. Lembram, contudo, que o cenário continua favorável para novas altas de Petrobras. Senão por outros motivos, porque os preços – R$ 28,57, a PN, e R$ 29,30, a ON, no fechamento de sexta-feira, 11 – estão ainda abaixo do período pré-pandemia.
A economista Simone Pasianotto, da Reag Investimentos, projeta um preço-alvo de R$ 32,50 para Petrobrás PN e R$ 35,00 para a ON – uma perspectiva de alta, respectivamente, de 13,76% e 19,45%, sobre as cotações de sexta-feira. “Os fundamentos microeconômicos da Petrobrás estão sólidos, com fluxo de caixa bastante consistente.” Ela prevê uma distribuição de dividendos em torno de R$ 1,20 por ação.
A expectativa é otimista porque o novo presidente da Petrobras tem cumprido à risca a política de preços seguida pela direção anterior, afirma Romero Oliveira, head de Renda Variável da Valor Investimentos. Uma gestão que teve ajuda também do recuo do dólar, reforça. “A manutenção de regra de reajuste de combustíveis reduziu um pouco a percepção de risco e fez o papel voltar pelo menos mais próximo do patamar de preço com que vinha sendo negociado anteriormente.”
A retomada de alta dos preços do petróleo no exterior foi outro fator que atraiu o investidor aos papeis da estatal. Após desabar e encostar em US$ 20 o barril – US$ 23,34, em abril de 2020 -, a cotação do barril vem em marcha batida de recuperação, puxada pelos sinais de reativação econômica global. O barril do petróleo tipo Brent fechou sexta-feira valendo US$ 72,59. Analistas estimam que poderá chegar a US$ 85 se persistir a demanda mundial por petróleo.
A Petrobrás é bastante sensível ao preço da commodity e as ações da estatal vão continuar acompanhando a melhora do preço do petróleo, avalia Rodrigo Moliterno, head de Renda Variável da Veedha Investimentos. Ele compara essa ligação com a relação existente entre as empresas do setor de mineração com a alta do minério de ferro. “A correlação da Petrobrás com o preço do petróleo é muito forte.”
Governança preocupa
A manutenção da política de reajuste de preços de combustíveis atrelada à variação da cotação internacional do petróleo dá certo conforto, mas o investidor precisa considerar que é um papel de uma empresa que corre o risco de ser pressionado por governança, alerta Oliveira, da Valor Investimentos.
“Principalmente quando se projeta uma eleição à frente, a companhia pode vir a ser foco de disputa política, o que traz certo receio.” Embora a empresa continue gerando caixa, apresentando excelentes resultados operacionais, “a percepção de risco continua elevada no papel que projetamos para os próximos meses”.