Finanças Pessoais

O que representa excesso de confiança no mercado financeiro?

Data de publicação:09/05/2023 às 05:32 - Atualizado 2 anos atrás
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Já tomou uma decisão e se arrependeu depois? Pensou algo do tipo “porque não pensei nisso antes?”, é exatamente o que acontece quando somos guiados pelos vieses comportamentais.

foto reprodução

Como a prática é bem diferente da teoria, ter sucesso no mercado financeiro engloba muitos fatores, sendo bem mais do que apenas conseguir o maior retorno possível nas opções disponíveis.

Um dos pilares que ajuda muito as pessoas é saber qual é o seu perfil de investidor, no qual mede qual é a tolerância ao risco que cada um possui, se classificando em conservador, moderado e arrojado. 

Mas, e se te falarmos que existem diversos fatores que vão além? Pois bem, é o lado da Economia Comportamental que mostra como há outras características a se considerar na hora de investir.

Isso porque lá no início da humanidade, quando as teorias econômicas davam seus primeiros passos, muitos pensadores defendiam que as decisões eram puramente racionais. O que não é 100% verdade. Outros especialistas argumentam que nem sempre as decisões são bem pensadas e fundamentadas, às vezes podem ceder ao imediatismo, desespero, confiança e demais emoções.

Os vieses comportamentais (e como você não os percebe)

O viés comportamental é algo intrínseco do ser humano. São conceitos tão implementados na nossa mente que parecem verdades absolutas, sem nenhuma contestação. É uma linha de raciocínio que dita as decisões, das mais simples até as mais complexas.

É algo que todo mundo faz o tempo todo durante a vida, não é mesmo? Também podemos chamar isso de heurísticas na tomada de decisão, tida como uma regra geral que valida erros e julgamentos sistemáticos.

O cérebro desenvolve e lapida formas de tomar uma atitude, agilizando e simplificando o entendimento e a avaliação das informações que recebemos. Mas isso não significa que toda interpretação baseada no viés seja correta ou a melhor opção, e é aí que mora o perigo.

O primeiro passo para evitar que isso te afete negativamente é reconhecer o que está suscetível a acontecer: você não está imune ao efeito dos vieses comportamentais.

Investir é estar em um universo de possibilidades

Os investimentos não estão isentos de serem impactados pelos vieses comportamentais que regem nossa linha de pensamento. Até porque quando o assunto é aplicar dinheiro, decisões erradas, irracionais e até mesmo enviesadas podem causar danos ao seu bolso.

Quem nunca tomou alguma atitude por impulso ou influência de outra pessoa? O que mais tem na internet são histórias de investidores que saíram do lucro direto para o fundo do poço.

Com um universo de possibilidades na renda fixa e variável, conhecer o que interfere na sua tomada de decisão é saber onde pisar no campo minado. Vamos ver alguns exemplos:

  • Efeito Manada

Aqui, é quando as pessoas seguem o que as outras estão fazendo, igual a famosa expressão "maria vai com as outras". Então, nesse tipo de viés comportamental, ao invés de usar suas próprias informações, julgamentos e análises para tomar decisões independentes, o investidor segue a manada. Inclusive, dentro do mercado financeiro, é comum que isso aconteça, principalmente na Bolsa de Valores, onde vemos grandes movimentos de compra e venda baseados em especulações.

  • Aversão à perda

Já ouviu a frase "perdas maiores do que ganhos”? É exatamente como pode ser definido o viés de aversão à perda. A dor da perda é muito mais poderosa do que a sensação do prazer de ganhar, o que faz com que as pessoas acabem ficando mais dispostas a correr riscos para evitar uma perda do que para conquistar um ganho. A aversão pode comprometer um investidor ao ponto de fazê-lo assumir mais riscos só para evitar perdas.

No viés da confirmação, temos a tendência de buscar apenas as informações que vão ao encontro do nosso ponto de vista já estabelecido. Por exemplo, tendo uma opinião prévia, só consumimos notícias que alimentam essa linha de pensamento. É igual perguntar a um investidor posicionado em determinado ativo porque ele acha que é um bom investimento, ao invés dele falar os pontos positivos e negativos, apenas dará informações que comprovem o quanto o investimento é ótimo.

Dentre todos os vieses comportamentais, como efeito manada e aversão à perda que falamos acima, existe um em especial que é extremamente perigoso.

E é sobre ele que vamos falar por aqui.

Nunca confie demais no seu próprio taco

Calma, não estamos também incentivando a insegurança. Mas o excesso de confiança pode te colocar em grandes ciladas.

Esse viés é quando há uma confiança subjetiva das pessoas em relação a sua própria habilidade, ou seja, é uma certeza utópica bem maior do que seu desempenho real.

Pode acontecer quando os investidores julgam entender determinadas informações de forma muito além do que a própria informação explica de fato. É como se a pessoa superestimasse a sua capacidade de avaliar eventos, estando sempre certo e sabendo exatamente o que vai acontecer no mercado financeiro.

O excesso de confiança vem do termo “overconfidence”, em inglês. É o foco de várias pesquisas sobre o comportamento humano e de como isso é capaz de envolver a percepção do indivíduo quando analisa os dados para tomar uma atitude. Nesse viés, a pessoa acredita que a sua decisão é melhor que a de outras pessoas, fazendo com que acredite que não caia em ciladas e nem balance com as incertezas.

A ótica superestimada pode levar a crer que o que dá errado não tem a ver com suas decisões e sim está relacionado a fatores externos, algo que não possui controle. Uma decisão política de última hora, por exemplo. Só que confiar demais no próprio taco envolve a vida financeira também.

Mapear como esse viés funciona e entender como equilibrar a confiança e a insegurança contribui (e muito) para investir no mercado financeiro de uma maneira mais assertiva. Se atentar a esse comportamento e pisar no freio é útil para traçar uma estratégia de investimento realista e bem estruturada.

Outro ponto muito positivo é que contratar uma assessoria especializada no assunto ajuda muito. É um profissional qualificado que vira seu melhor amigo, pois é treinado para diminuir os fatores emocionais e enviesados na hora de investir.

Para isso, basta entrar em contato com sua instituição financeira ou escolher uma pessoa autônoma que no mercado. Não se esqueça de verificar se é um profissional certificado e autorizado através da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). 

O excesso de confiança impacta os investidores?

Você já teve a sensação de que é capaz de analisar o cenário de uma maneira mais diferenciada em relação aos demais investidores? Ou conheceu alguém que sempre é o maioral?

É um exemplo clássico de como o excesso de confiança impacta os investidores. Outra situação é quando a pessoa acredita que nem sequer precisa fazer uma análise fundamentada e aprofundada, considerando as variáveis específicas do contexto, antes de aplicar em ações ou fundos.

Um fator que potencializa esse viés é que pode não acontecer sozinho. Isso quer dizer que pode estar relacionado a outros vieses, como o da representatividade. Aqui, é quando o investidor usa do próprio repertório para decidir, ou seja, não consulta nada e acredita que a sua previsão é a mais adequada. 

Também pode se associar ao viés da confirmação, como se entrasse numa bolha e só consumisse informações que estejam alinhadas com a sua ideia pré definida. Com esse ponto compatível com o que acredita, o investidor se sente bem mais confiante para escolher o que fazer.

Será que não vale (mesmo) analisar outros pontos de vista? Parece óbvio que sim, mas para muitos não.

Como o excesso de confiança pode afetar os investimentos na prática?

No dia a dia, quando um investidor possui uma autoconfiança fora da curva, é possível que assuma riscos maiores do que realmente devia. Por exemplo, uma consequência disso é tomar a decisão de comprar um ativo na alta ou vendê-lo rapidamente.

Além do mais que, a pessoa pode passar a ser dependente do acaso. Jogado à própria sorte, digamos assim. Uma vez que não realiza outras interpretações e usa os dados que recebe da melhor forma que convém, optando até por decisões aleatórias, se forem vistas mais racionalmente.

O maior desdobramento negativo do excesso de confiança é a dificuldade em colocar a sua estratégia em prática de maneira eficiente, de modo que coloque em risco a chance de colher bons frutos no longo prazo.

Inclusive, que isso nos leva a tomar decisões erradas ou evitar que aproveitemos de todas as possibilidades no universo de investimentos, você já sabe. Mas e sobre as tributações?

Sim, os investidores mais confiantes tendem a realizar mais operações que os demais e com isso, os custos aumentam. No final, a rentabilidade líquida da carteira diminui.

Para entender melhor, vamos ilustrar

Se restou alguma dúvida de como isso afeta os investidores, veja abaixo um exemplo mais concreto de como o excesso de confiança pode te dar uma rasteira! 

Joãozinho é um investidor na Bolsa de Valores, é a sua grande paixão. Depois de alguns anos como especulador, operando com pouco dinheiro, cerca de R$ 3 mil ao todo, percebeu que se tivesse mais capital, seus retornos seriam maiores.

Isso porque Joãozinho acredita que já pegou as malícias do mercado e sabe operar muito bem, podendo se arriscar mais. Dito isso, ele efetuou um empréstimo de R$ 50 mil para operar em volumes mais altos.

Com mais dinheiro disponível, o especulador começou a operar mais vezes ao dia e com mais contratos de uma vez. O primeiro efeito dessa decisão foi que passou a pagar mais taxas pelas operações, diminuindo a receita líquida da carteira de investimentos.

O segundo efeito foi quando passou a ignorar outras informações. Nisso, no dia que estava sendo discutido e divulgado sobre o novo teto de gastos e os embrulhos do arcabouço fiscal, Joãozinho foi lá e aplicou em dobro na bolsa, a qual oscilou muito na semana. O resultado: perdeu R$ 5 mil.

Não satisfeito, já que analisou como apenas um dia ruim. Aplicou no setor varejista que tem sofrido várias quedas e instabilidades no mercado financeiro. Para ele, a jogada era de mestre pois a baixa é apenas uma fase. Mas o resultado foi ao contrário, perdeu mais R$ 5 mil.

Claro que há sim estratégias que visam os momentos ruins no mercado para que quando haja uma alta, aproveitem melhor. Entretanto, é algo que precisa de cautela e análise de todos os fatores, não apenas a própria intuição.

Joãozinho, frustrado que perdeu R$ 10 mil em uma semana e ainda possui um empréstimo altíssimo para pagar, se deparou com um artigo sobre excesso de confiança e se identificou. Já que tomou várias decisões achando que sabia o que estava fazendo.

Agora, o especulador da B3 pensa mais em todo o contexto e também analisa melhor antes de tomar uma decisão. Mas vamos combinar que não precisava chegar a esse ponto, não é? / Texto escrito por Gabriela Bulhões

Sobre o autor
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