O que está no radar e o que esperar dos mercados em março
Proposta de novo arcabouço fiscal deverá ser um dos principais temas em discussão no mês
Março começa com apreensão e expectativas. Temas relevantes como a proposta de arcabouço fiscal, decisões sobre os juros nos Estados Unidos e, por tabela, também no Brasil, impacto da reoneração dos combustíveis no IPCA, e as dificuldades financeiras de empresas com crédito caro e escasso, são temas que estarão na pauta do mês e podem trazer volatilidade aos ativos.
Nesta quarta-feira, 1, os combustíveis ficam mais caros com desdobramento sobre os preços de muitos outros itens que entram na composição da inflação, porque o transporte também encarece. O impacto do imposto de R$ 0,47% sobre a gasolina e de R$ 0,02 sobre o álcool será amortecido em parte pelo desconto concedido pela Petrobras sobre os produtos.
Prós e contras da alta dos combustíveis
“A reoneração dos combustíveis ajuda a melhorar a perspectiva fiscal do País é positivo para o mercado de risco", argumenta o especialista da Valor Investimentos, Paulo Luives, que também reconhece que a medida tende a pressionar os preços da economia.
“Isso deve trazer um certo impacto na inflação, mas parcial para o consumidor, com a Petrobras fazendo um colchão na tarifa, ou seja, usando parte do colchão que ela tem na paridade de preços para subsidiar um pouco do aumento sem, ao mesmo tempo, abrir mão do PPI (Preço de Paridade Internacional)", complementa Luives.
De todo modo, o especialista da Valor identifica uma deterioração nas expectativas de inflação para 2023 e 2024. Por conta disso, ele não descarta a volta de discussões em torno de mudanças na meta de inflação, entre governo e Banco Central.
Consequências dos juros altos
“Na minha visão, para março as perspectivas não são as melhores”, diz Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos. "Eu vejo uma Selic estável ou subindo, não consigo imaginar ela caindo, ainda mais com o Fed (banco central americano) subindo os juros em breve". No âmbito internacional, o analista diz que é preciso acompanhar novos dados da economia americana e a reabertura da economia chinesa para saber se o mundo está recessão, ou não.
A Selic em 13,75% já produz estragos entre as empresas que precisam de financiamento, aponta o analista da Gava. Não somente as varejistas, como Americanas e Marisa, mas as companhias aéreas, como Azul e Gol. Em sua opinião, a situação pode se agravar, porque se os juros americanos chegarem em 6% ao ano, o Banco Central aqui pode subir os juros para 14% ou 15% ano, para conter a saída de capital estrangeiro do País.
A desconfiança em relação à saúde das empresas deve provocar uma piora no mercado de crédito, segundo o analista fundamentalista da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, Leonardo Piovesan. Sua expectativa é de que em março o governo possa dar andamento à reforma fiscal.
Risco fiscal
Para Piovesan, o risco fiscal é uma das questões que mais preocupa o mercado hoje. A divulgação de uma prévia do que pode vir a ser o novo arcabouço fiscal e sinalização de como ficarão as contas públicas podem retirar pressão sobre a inflação e também sobre os juros na curva longa, que refletem essas incertezas.
Nessa extensa pauta, Luives da Valor, acrescenta o início das discussões sobre a reforma tributária, que devem ganhar corpo no segundo semestre deste ano.