O que esperar da reunião do CMN sobre nova meta de inflação?
A expectativa é que haja manutenção da meta atual, com mudança na maneira que a meta é estabelecida, de ano-calendário para meta contínua; confira
A reunião desta quinta-feira do Conselho Monetário Nacional (CMN) chama a atenção pelas expectativas de alterações no sistema de metas de inflação, usado pelo Banco Central para calibrar os juros.
A meta de inflação para o ano de 2026 será definida na reunião. Atualmente, a meta estabelecida para 2024 e 2025 é de 3%. No entanto, o receio do mercado é de que o governo viesse a pressionar para elevar essa régua, de modo a permitir uma flexibilização maior dos juros.
Segundo o Itaú, as expectativas são de que o governo e o Conselho Monetário Nacional (CMN) (i) mantenham a meta de inflação em 3%, (ii) estabeleçam um intervalo de tolerância de 1,5 pontos percentuais e (iii) modifiquem a meta de ano calendário para contínua, ajustando a política de verificação do cumprimento da meta.
No entanto, seguindo o padrão internacional, será atribuído ao Banco Central do Brasil (BC) a definição do horizonte de convergência.
“O regime de metas de inflação atual tem funcionado bem e a manutenção da meta de inflação em 3% e o seu intervalo de confiança em 1,5pp são as decisões mais importantes” entende o banco.
Para a instituição, a confirmação das metas e do intervalo de confiança será positivo, uma vez que uma possível elevação poderia resultar em aumento de expectativas para inflação.
Outro ponto destacado pelo Itaú é que a situação também poderia culminar em inflação mais alta, o que prejudica principalmente a população de menor renda.
Meta contínua
Além da própria meta, há também expectativa de mudança da meta de “ano calendário” para meta “contínua”. Isso significa que haveria manutenção da meta de forma constante, não por período.
Na visão do Itaú, a mudança também poderia trazer avanços, uma vez que institucionalizaria um olhar para um cenário contínuo (e não com recortes anuais), que já é praxe para o BC e poderia trazer estabilizada para expectativas de longo prazo.
Atualmente, há necessidade de determinação pelo Conselho Monetário Nacional da meta de três anos à frente. Outra questão destacada pelo banco é que a meta contínua evitaria “medidas ineficientes que distorçam preços relativos para mostrar uma inflação dentro dos limites estabelecidos em dezembro”.
Um dos entraves para a implementação da meta contínua seria a necessidade de definição de algum processo de verificação de seu cumprimento. De acordo com o Itaú, seria possível sanar a questão com publicação de documento, como uma carta, sempre que a inflação em 12 meses ultrapassar o intervalo de tolerância.
A carta, hoje, é publicada em janeiro e poderia ser publicada em algum mês ao longo do ano, quando houvesse a necessidade pelas circunstâncias.
Entre as formalidades necessárias para alterações, seria também modificado o Decreto 3.088. O dispositivo legal teria que apontar a necessidade, ou não do CMN definir a meta anualmente.
“Acreditamos que o Decreto/CMN não deveria especificar um prazo para o BCB buscar o cumprimento da meta. Essa decisão deve ficar a cargo do próprio BCB, levando em conta a potência da política monetária ao longo do tempo e a necessidade ou não de uma convergência mais rápida para a meta", explica o banco.
Como exemplo, o banco cita a possibilidade de o Decreto determinar um prazo mínimo de 24 meses como negativo para o BC buscar o cumprimento da meta. Da mesma forma que elevar a meta de 3% pode ser interpretado como “oportunístico" e dificuldade a ancoragem de expectativas.
Por fim, o Itaú entende que a decisão sobre a meta e a atuação do BC devem ajudar nas expectativas de inflação e também modificar a inflação para meta de 3% em 2024/2025.
"Se for confirmada uma meta contínua de 3%, intervalo de tolerância de 1,5 pp e prazo determinado pelo BCB, esperamos continuidade na estratégia do BCB. Em particular, acreditamos que o BCB continuará perseverando na convergência da inflação para 3% no horizonte relevante de política monetária, próximo e 18 meses", conclui o Itaú.