Mercado Financeiro

Mulheres no mercado financeiro: um fenômeno ou uma realidade?

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, fizemos uma análise do crescimento feminino no mercado financeiro. Confira os dados atuais.

Data de publicação:08/03/2022 às 12:30 - Atualizado 3 anos atrás
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Mais do que uma data comemorativa, o dia 8 de março é uma data política. O Dia Internacional da Mulher deve ser dedicado, especialmente, a reflexões sobre as desiguldades da sociedade, entre elas a de gênero.

Pensando na importância dessa data para a representatividade feminina no mercado financeiro, hoje vamos trazer uma análise do crescimento das mulheres como empreendedoras e investidoras.

A torcida é para que o mercado financeiro brasileiro seja cada vez mais diversificado do ponto de vista de gênero, pois todos ganham com a inclusão de ideias e pontos de vista distintos.

O mercado financeiro ainda é machista?

O Dia Internacional das Mulheres não é apenas uma data comemorativa, mas principalmente uma data política. É um ponto importante de reflexão sobre igualdade de gênero e de romper com alguns padrões machistas que, infelizmente, ainda existem na sociedade brasileira e mundial.

Historicamente, por conta dessa cultura patriarcal, o homem sempre foi visto como o responsável pelas finanças da família, enquanto a mulher se dedicava a cuidar do lar e dos filhos. Sabemos que a realidade de hoje é completamente diferente, mas o cenário fez com que o dinheiro fosse uma espécie de "assunto masculino".

Prova disso é que até o Google acaba parecendo machista quando pesquisamos por "grandes investidoras". Veja na imagem abaixo como há uma correção para a versão masculina da busca, algo que apenas reflete os próprios usuários.

 

Felizmente, aos poucos, essa cultura está se tornando mais inclusiva para o público feminino também. Isso vale tanto para as mulheres investidoras, como para profissionais do mercado financeiro. Vamos entender um pouco melhor sobre o cenário atual.

Quantas mulheres investem na Bolsa de Valores?

Quando falamos sobre a representatividade feminina no mercado financeiro, a primeira pergunta que pode surgir é a participação das mulheres na renda variável.

Segundo dados da própria B3, companhia responsável pela bolsa de valores do Brasil, as mulheres representam atualmente 24% dos investidores de empresas. O gráfico abaixo traz essa informação, sendo a barra azul para os homens e a barra amarela para as mulheres. Você pode baixar o relatório completo neste link.

 

O número ainda é extremamente baixo, considerando que, no Brasil, a população é dividida muito próxima a 50% para cada gênero. Além disso, o percentual feminino na bolsa de valores não vem registrando um crescimento ao longo dos últimos anos — algo que, ao menos em tese, mostra que não vem acontecendo uma mudança de cultura no país.

Por outro lado, há uma melhoria na diversificação das investidoras brasileiras. A concentração em ações, que já foi de 75% em 2016, hoje é de apenas 42%. A maior variedade nos investimentos pode ser atribuída à educação financeira, que vem crescendo e se popularizando nas mídias sociais nos últimos anos.

 

Quantas mulheres investem na renda fixa?

Se não vemos uma mudança de perfil no investidor de ações, há uma clara melhoria nos indicadores de investidoras de renda fixa. Um reflexo disso é o Tesouro Direto, plataforma pela qual o governo disponibiliza títulos públicos aos investidores. 

Observe, no gráfico abaixo, como o cenário entre homens e mulheres era muito similar ao que temos atualmente na renda variável: apenas um quarto dos investidores pertencia ao público feminino. No entanto, nos últimos anos, esse percentual já vem atingindo uma faixa de 40%.

 

Já dados da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que incluem também os fundos de investimentos, trazem um cenário mais próximo do ideal. Segundo uma pesquisa realizada pela instituição, 45% dos investidores brasileiros são mulheres. Você pode conferir todos os dados neste link.

 

Por que as mulheres ainda resistem à renda variável?

Os dados que vimos até aqui trazem um cenário claro: há sim um crescimento da participação feminina no mercado financeiro. No entanto, ele não se reflete na renda variável, onde há maior risco.

Não há uma resposta clara para isso, mas podemos inferir, com base em dados das instituições responsáveis pelo mercado financeiro, que o público feminino é mais cuidadoso ao investir do que o público masculino.

O mais provável é que as mulheres estejam sim querendo aprender sobre investimentos e rentabilizar o próprio patrimônio, mas só estão dispostas a entrar na renda variável após entender bem os riscos do mercado. Esse, aliás, é um cenário ideal, evitando assim que um investimento seja feito com base em empolgação — algo que, possivelmente, é mais comum entre os homens.

Esse estudo reforça a teoria, indicando que as mulheres, em média, obtêm um retorno até 1,8 pontos percentuais superior aos homens com seus investimentos. Há também uma tendência especulativa no público masculino, enquanto que o público feminino tende a ser mais cauteloso e olhar para o longo prazo. Não por acaso, o título da pesquisa é "meninos serão meninos".

Mulheres empreendedoras brasileiras de sucesso

Não é apenas com investimentos no mercado financeiro que podemos ganhar dinheiro e expandir o nosso patrimônio. O empreendedorismo é outro caminho a seguir e, neste caso, temos diversos exemplos de mulheres bem sucedidas. A seguir, listamos alguns exemplos bem legais para que você possa conhecê-las.

Luiza Trajano

É bem provável que você já tenha escutado falar sobre a gigantesca valorização das ações da Magazine Luiza, certo? De fato, os papéis da companhia apresentaram um excelente retorno para os investidores que apostaram nela em um momento desafiador do passado.

O que poucos se lembram é que o novo patamar da empresa de e-commerce é fruto de uma mudança completa na gestão do negócio que foi comandada por uma mulher: a Luiza Trajano. Ela foi a principal responsável por assumir um caso de turn around que se tornou um grande case de sucesso no mercado financeiro.

Zica Assis

Com uma infância difícil, Zica Assis começou a trabalhar cedo. Além de atuar como babá, também foi contratada por salões de beleza até perceber uma grande oportunidade de oferecer soluções para cabelos crespos e ondulados. Ela então criou, em parceria com outros colegas, o Instituto Beleza Natural, que está perto de completar 30 anos de existência.

Cristina Junqueira

O mundo atual é marcado pela forte presença de fintechs e bancos digitais. É o caso do popular Nubank, que cresce fortemente a sua base de clientes e já possui capital aberto na bolsa de valores dos Estados Unidos (acessível aos brasileiros por meio de BDRs).

O que poucos sabem é que, por trás de uma tendência inovadora, estão as ideias de outra mulher: a Cristina Junqueira. Ela é cofundadora do banco digital e, com o sucesso da fintech, veio a se tornar a segunda mulher brasileira bilionária com seu empreendedorismo, atrás apenas de Luiza Trajano. Seu nome consta, inclusive, na famosa lista da revista Forbes.

Grandes investidoras do mercado financeiro

Apesar do amplo domínio masculino no mercado financeiro, existem mulheres que se destacaram na história como grandes investidoras também. Assim como fizemos com as nossas empreendedoras, vamos compartilhar brevemente a história de cada uma delas.

Geraldine Weiss

Nascida nos Estados Unidos, Geraldine Weiss ficou conhecida como a "grande dama dos dividendos". A associação tinha relação com a sua estratégia de investir em grandes companhias, as chamadas Blue Chips, que pagavam bons rendimentos aos seus acionistas.

Uma curiosidade interessante é que ela tinha um boletim informativo sobre dicas de investimentos, com um retorno médio anual de 11,2%. Infelizmente, contudo, tinha que assinar apenas como G. Weiss, escondendo o fato de ser uma mulher em um contexto de mercado bastante machista.

Oprah Winfrey

Você provavelmente já conhece a Oprah Winfrey por conta do seu sucesso global como apresentadora de televisão. Com os seus ganhos da televisão, passou a comprar ações de companhias americanas e obteve um ótimo resultado também como investidora. Existem relatos de que ela teria conseguido multiplicar em oito vezes o seu patrimônio.

Eufrásia Teixeira Leite

A primeira investidora brasileira da bolsa não poderia ficar de fora dessa lista. É verdade que ela herdou uma boa fortuna dos seus pais, que eram barões de café, mas isso não tira em nada o seu mérito como investidora, que multiplicou ainda mais o seu patrimônio. Também trabalhou com ativos globais e esteve na Europa durante sua trajetória.

A importância do crescimento feminino no mercado financeiro

O ambiente machista do mercado financeiro fica sem sentido quando avaliamos os resultados obtidos de cada gênero. De um modo geral, conforme compartilhamos anteriormente em um estudo realizado, as mulheres possuem uma melhor rentabilidade do que os homens ao investir o seu capital.

Por outro lado, ainda que os resultados sejam animadores, uma pesquisa realizada pela CMI Research apontou que 67% das mulheres ainda não possuem confiança para tomar decisões financeiras sobre investimentos. E, neste caso, elas acabam terceirizando essa gestão para alguém — em muitos casos, o próprio parceiro.

O nosso objetivo enquanto educadores financeiros, portanto, é que as mulheres também possam confiar cada vez mais em si na hora de investir o seu dinheiro. Neste cenário, naturalmente elas estarão mais confortáveis em participar da tomada de risco, algo que inclui a participação na renda variável.

Vale lembrar que a inclusão feminina no mercado financeiro tende a trazer novos componentes que são muito benéficos. Segundo a Hargreaves Lansdown, as mulheres realizam 49% menos operações no mercado de ações e 67% menos operações em fundos de investimentos em relação aos homens.

Esses dados corroboram a ideia de que as mulheres possuem mais calma na hora de realizar suas movimentações financeiras e possuem uma visão de longo prazo. E, como sempre defendemos por aqui, essas são duas características positivas para quem deseja encontrar bons resultados com os seus investimentos.

Portanto, a nossa torcida é que cada vez mais mulheres participem do mercado financeiro e tornem assim o nosso ambiente de investimentos mais diversificado, inclusive no que diz respeito às ideias e comportamentos.

Sobre o autor
Stéfano BozzaFormado em Administração pela PUC-SP. Trabalhou em empresas do segmento financeiro (Itaú BBA) e varejo (BRMALLS) até 2016, quando iniciou a jornada de produção de conteúdo para a internet com foco em finanças.