Economia

Bolsa e dólar fecham em queda. Uma reação à Selic mais alta, nesta 5ª feira

A Bolsa de Valores de São Paulo e o dólar recuaram no primeiro dia de negócios após a elevação da Selic, de 2,00% para 2,75% ao…

Data de publicação:18/03/2021 às 08:53 - Atualizado 4 anos atrás
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A Bolsa de Valores de São Paulo e o dólar recuaram no primeiro dia de negócios após a elevação da Selic, de 2,00% para 2,75% ao ano. Tanto o mercado de ações como o de dólar trafegaram com o sinal negativo ao longo de toda esta quinta-feira,18. E no final dos negócios, tanto a bolsa como o dólar fecham em queda.

Especialistas comentam que, cauteloso, o mercado passou o dia analisando e digerindo o impacto da decisão do Copom na véspera. Em vez de uma alta de 0,50 ponto porcentual na Selic, estimativa majoritária entre analistas do mercado, o Banco Central surpreendeu. Calibrou uma elevação maior, de 0,75 ponto porcentual.

Na parte da tarde, os mercados foram influenciados pela queda das bolsas americanas. Não o suficiente para inverter a tendência. Às 16h30, o índice Nasdaq recuava 2,81%, o Standard & Poor’s, 1,45% e o Dow Jones, 0,40%.

De olho nesse compasso externo, a B3 aprofundou a trajetória negativa no período da tarde e recuava 1,81%, para 114.443,84 pontos, às 16h30. No fechamento, houve ligeira recuperação e o Ibovespa cravou em 114.835 pontos com queda de 1,47%.

O dólar também não saiu do negativo, embora tenha reduzido a perda. No encerramento das negociações no câmbio comercial, a moeda ficou cotada a em R$ 5,57, com baixa de 0,30%. Mas isso depois de cair quase 1% pela manhã.

O que essas posturas podem trazer para o Brasil e EUA

 A medida hawkish está atrelada ao objetivo do Banco Central do Brasil com esse ajuste - o primeiro após seis anos: manter uma política austera, com taxas de juros mais altas. E, com isso, inibir a demanda para ter uma inflação mais controlada.

Porém, essa decisão também cobra o seu preço: a atividade econômica pode ficar ainda mais desacelerada e o nível de desemprego atingir patamares mais elevados.

Já o Fed adotou um estilo dovish, ao optar pela manutenção da taxa e dos estímulos, estimulando o consumo e, consequentemente, aquecendo a economia. Entretanto, a economia pode ter que lidar com uma elevação dos preços.

Taxa Selic surpreende o mercado brasileiro

Contrariando a expectativa de boa parte dos analistas, que acreditavam em um reajuste moderado de 0,50%, o Copom optou pelo reajuste de 0,75% na taxa Selic.

Fed adota estilo mais dovish em sua política monetária, enquanto o BC no Brasil opta por conduta hawkish, marcada pela austeridade

Alguns fatores pesaram na decisão de levar o aumento da Selic para um porcentual mais elevado, como a alta do dólar dando mais força para a inflação, que, por conta da pressão da alta de preços vai sendo impulsionada cada vez mais para perto do teto.

E, por último, a alta dos juros no mercado futuro, que reflete as incertezas.

Porém, a perspectiva de a economia entrar em recessão técnica no segundo semestre de 2021, com o recrudescimento da pandemia e lockdown, amplia o desconforto com a medida adotada pelo BC.

Efeitos na economia do país

Com a inflação em 12 meses próxima de 7% em abril, desemprego e PIB negativo, a economia vive uma situação de estagflação – diminuição da atividade econômica combinado com aumento da inflação.

Segundo Pedro Nunes, sócio e economista-chefe da RIVA Investimentos, essa elevação na taxa Selic deve gerar uma valorização do Real frente ao dólar, além de um ciclo de juros mais longo, podendo finalizar o ano perto de 4,5%. “O motivo disso é que, pelo comunicado e pelos dados, a recuperação econômica está a caminho, com um crescimento econômico na margem”.

Nunes destaca ainda que, para a Bolsa, se essa nova taxa reduzir o risco Brasil, essa alta não será prejudicial. “Gerar uma desinclinação da curva de juros é positivo para a economia. Juros mais altos impactam as empresas mais endividadas e as com muito caixa se beneficiam”.

Mercado misto em Wall Street e Treasuries na pauta

Após um dia movimentado com o anúncio do presidente do Fed, que manteve a taxa de juros do país entre 0% e 0,25%, os índices acionários da Bolsa de Nova York mantém a rota sem direção única nesta quinta-feira.

Às 12h10, o Dow Jones registrava alta de 0,30%. Já o S&P 500 mudou o sinal e caiu 0,54%. E o Nasdaq está em descida, com perdas de 1,56%.

As atenções seguem voltadas para os rendimentos (yields) dos Treasuries. Após terem recuado ontem, os juros voltaram a superar o patamar de 1,7% no dia de hoje, o que gerou pressão nos papéis futuros do índice Nasdaq.

“Isso gera dúvida se essa pressão inflacionária será transitória ou não. Esse é um dado que deve ser acompanhado nos próximos dias”, avalia Victor Hasegawa, gestor de ações da Infinity Asset.

Alívio para os mercados mundiais

Segundo Filipe Teixeira, gestor da Wisir Research, as declarações de Jerome Powell, presidente do Fed, sobre a manutenção da taxa de juros por pelo menos para os próximos dois ou três anos, serviram como um grande suspiro de alívio para as ações.

De acordo com o presidente do BC americano, os juros por lá poderão ter a primeira elevação apenas em 2023, mesmo que a inflação supere a marca dos 2%, teto que faz parte da política econômica do governo estadunidense. “Não quero pensar em uma alta das taxas em dois ou três anos”, afirmou.

Outra afirmação do presidente do Fed que gerou reflexos nas bolsas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, foi de que o governo americano não pretende parar de comprar títulos, destacando que esse momento está longe de acontecer. “Daremos o máximo de aviso prévio antes de iniciar o tapering (em inglês, diminuição de estímulos)”, ressaltou.

Isso já foi sentido no próprio desempenho dos principais papéis da casa, que fecharam o pregão do dia em alta. O Dow Jones subiu 0,58%, o S&P 500 avançou 0,29% e o Nasdaq, 0,40%.

Fechamento ontem no Brasil

Após o anúncio do Fed, a B3 disparou na tarde de ontem, e o dólar seguiu o caminho contrário. O Ibovespa atingiu o patamar de 116 mil pontos e concluiu o pregão do dia com alta de 2,22%, aos 116.549. Foi o maior patamar da Bolsa desde o dia 19 de fevereiro, quando a B3 encerrou a sessão aos 118.430 pontos.

O resultado também foi puxado pelo desempenho positivo dos papéis dos principais bancos do país, da Petrobras e da Vale. Já o dólar comercial fechou em queda de 0,61%, cotado a R$ 5,58.

Para os analistas, o comportamento da Bolsa não foi uma reação direta à manutenção da taxa de juros, mas sim à fala do presidente do BC americano, Jerome Powell, durante a coletiva.

Caos na Saúde e mais mortes por Covid-19

No mercado doméstico, a situação segue delicada na Saúde. A média móvel diária de mortes por Covid-19 no Brasil ficou ontem, pela primeira vez acima de 2 mil, de acordo com dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa. O volume bate recordes consecutivos há 19 dias.

De acordo com o boletim divulgado pela Fiocruz, 24 Estados brasileiros e o Distrito Federal estão com 80% dos leitos ocupados para o atendimento a pacientes com Covid-19. Em 15 unidades da federação, esse índice já supera 90%.

O juiz Alberto Nogueira Júnior, da 10ª Vara Federal do Rio de Janeiro, proibiu o governo Bolsonaro de divulgar informações sobre o combate à pandemia que não sejam baseadas em estudos científicos.

A decisão foi proferida após uma ação movida pelo Ministério Público Federal após a veiculação da campanha “O Brasil Não Pode Parar”, que defendia a flexibilização do isolamento social em março do ano passado.

Bolsas asiáticas animadas com a decisão do Fed

Os mercados asiáticos também reagiram positivamente às projeções do Federal Reserve.

O índice acionário japonês Nikkei subiu 1,01% em Tóquio hoje, a 30.216,75 pontos.

Os rendimentos dos títulos do governo japonês aumentaram com a divulgação de um relatório do Nikkei destacando que o Banco do Japão está avaliando a possibilidade de ampliar a faixa de negociação em torno da meta de 10 anos, o que pode gerar preocupações sobre o aperto da política monetária.

Na China, o Hang Seng avançou 1,28%, aos 29.405,72 pontos, em Hong Kong. Em Taiwan, o Taiex registrou ganho de 0,44%, aos 16.287,84 pontos.

Já o Xangai Composto teve alta de 0,51%, aos 3.463, 07 pontos, e o Shenzhen Composto subiu 0,87%, a 2.237,50 pontos.

Na Austrália, a Bolsa do país seguiu caminho contrário. O S&P/ASX 200 recuou 0,73% em Sydney, aos 6.745,90 pontos, reflexo do aumento dos rendimentos de bônus do governo local sobre as expectativas do mercado de trabalho doméstico.

A taxa de desemprego australiana caiu para 5,8% em fevereiro, e a previsão dos analistas era de que se mantivesse no patamar de 6,3%, registrada no mês anterior. / com Agência Estado.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.