Mercados: expectativa é de que mais volatilidade ronde os indicadores nesta semana
Sentimento crescente de incerteza com o cenário político e econômico do País afeta o preço dos ativos
A semana começa com perspectiva de renovada volatilidade nos mercados, de acordo com especialistas. Especialmente no de ações e no de dólar, que estariam incorporando nos preços o sentimento de maior incerteza do investidor com o cenário político e econômico.
Analistas afirmam que o acirramento da crise política, pela continuidade de ataques do presidente Bolsonaro contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), agrava as preocupações com os desdobramentos desse conflito entre Poderes sobre os rumos do País.
Principalmente sobre a área econômica, que interessa diretamente ao mercado financeiro. Investidores veem paralisia do governo, sem condições de liderar a aprovação de reformas no Congresso.
Especialmente a mudança do imposto de renda embutida no projeto de reforma tributária, de cuja definição depende o arredondamento da proposta orçamentária para 2022, que precisa ser enviada ao Congresso até o fim deste mês.
Ao mesmo tempo que propostas de mudança que influenciam a gestão de contas públicas permanecem empacadas no Congresso, o mercado vê com preocupação o governo se movimentar em torno de criação de programas sociais, como o Auxílio Brasil, que teriam elevado potencial de colocar o ajuste fiscal fora dos trilhos.
O que o mercado teme é que o governo, por motivos eleitorais, crie despesas que ultrapassem o teto de gastos, o que tende a gerar mais inflação e levar a taxas de juro mais altas.
O desconforto com essa possibilidade, segundo analistas, estaria refletido na resistência do dólar à queda, apesar das seguidas altas da Selic que tornam as aplicações em renda fixa no País mais atraentes. Principalmente porque os juros no mercado internacional rondam nível perto de zero.
Teto de gastos no radar dos mercados
Se os juros altos não atraem o investidor estrangeiro à renda fixa, por aversão ao risco, tampouco o mercado de ações doméstico tem encorajado o ingresso de capital externo para a compra de ações.
A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, começa a semana, praticamente a última de agosto, com queda acumulada de 3,08% no mês e o dólar, valorização de 3,26%.
Com o olhar atento ao cenário doméstico, sobretudo à evolução da crise política e seus possíveis desdobramentos sobre a economia, o mercado financeiro acompanhará os principais eventos da agenda econômica da semana. Tanto domésticos quanto internacionais.
Internamente, nesta segunda-feira, 23, o foco dos investidores será o boletim Focus, que explicitará a quantas andam as expectativas do mercado financeiro em relação à inflação e à taxa Selic. Ambos os indicadores têm passado por seguidas revisões para cima e podem continuar dando o tom a todos os mercados.
Tensão fiscal
O presidente Jair Bolsonaro decidiu vetar, na noite da última sexta-feira, o valor de R$ 5,7 bilhões definido em junho pelo Congresso para o fundo eleitoral. Pressionado por sua base eleitoral, que criticou fortemente nas redes sociais o aumento do fundo, Bolsonaro havia feito várias críticas ao valor aprovado pelo Legislativo.
O presidente também resolveu vetar a possibilidade de emendas de relator para o Orçamento de 2022. Essa modalidade de emendas está no centro do escândalo do orçamento secreto.
O caso apontou o uso desse dispositivo pelo Palácio do Planalto para garantir a vitória dos aliados Arthur Lira e Rodrigo Pacheco nas eleições para o comando da Câmara e do Senado, respectivamente.
Ao justificar o veto, o governo disse que o fez "por motivos de política fiscal". A Secretaria-Geral da Presidência afirmou em nota que as modalidades de emendas vetadas "ampliam a segregação" de emendas de livre escolha de responsabilidades de ministérios e "que engessa excessivamente a despesa".
"O que pode prejudicar a condução e execução efetiva de políticas públicas sob responsabilidades de cada Pasta", destacou.
Em 2020 os partidos obtiveram R$ 2 bilhões de fundo eleitoral para as disputas municipais. Nas eleições gerais de 2018 o total distribuído foi de R$ 1,8 bilhão.
Bolsonaro deve agora encaminhar um novo projeto ao Congresso, alterando o cálculo para a despesa. O valor deve ficar entre R$ 3 bilhões e R$ 3,5 bilhões, de acordo com o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO). A análise do novo valor ocorrerá em dezembro durante a votação do Orçamento.
Tensão política
No dia anterior, dez partidos de centro e de esquerda se manifestaram contra o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, alvo de uma inédita tentativa de destituição por parte doa presidente Jair Bolsonaro.
A manifestação dos partidos, todos com representantes no Congresso Nacional, reforça a tese de que o processo terá dificuldade de prosperar, como preveem lideranças parlamentares. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já disse que não antevê fundamentos na denúncia.
O decano da corte máxima, Gilmar Mendes afirmou que a 'fabricação artificial de crises institucionais infrutíferas afasta o país do enfrentamento dos problemas reais'.
A estratégia de Bolsonaro inquieta a toga. A cúpula da Justiça reagiu energicamente à pretensão do presidente em tentar tirar Alexandre do caminho cobrando do Senado reação à 'toda e qualquer tentativa de rompimento do Estado de Direito e da ordem democrática'.
Alvo do momento de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes tem sob sua relatoria diferentes processos que são sensíveis ao Palácio do Planalto, entre eles inquéritos que miraram recentemente aliados do presidente, como o ex-deputado Roberto Jefferson e o cantor Sérgio Reis - sob suspeita de 'incitar a população a praticar atos violentos e ameaçadores contra a Democracia' ao lado de empresários do agronegócio.
Além disso, Moraes será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral - atualmente chefiado por Luís Roberto Barroso, outro alvo de ataques de Bolsonaro - durante as eleições 2022.
NY: futuros em alta
Nos Estados Unidos, os futuros negociados nas bolsas de Nova York operam em alta, com os investidores tirando proveito da “liquidação” da semana anterior, com a preocupação com a variante delta do coronavírus no radar e a postura do Fed sobre uma possível retirada de estímulos ainda neste ano.
Na visão de Edward Moya, analista da Oanda, Wall Street "aguarda ansiosamente" o pronunciamento do presidente do Fed, Jerome Powell, em Jackson Hole, na próxima semana.
“A maioria das manchetes pessimistas da variante delta sugere que Powell pode querer aproveitar as oportunidades antes de se juntar aos membros com uma postura mais dura para iniciar a redução gradual de suas compras de ativos".
Neste cenário, os "investidores estão aumentando a proteção em ações de tecnologia", segundo Moya. Na última sexta-feira, 20, as ações da Apple subiram 1,02%, Microsoft fechou o pregão com ganhos de 2,56%, Tesla com valorização de 1,01% em seus papéis e a Coinbase avançou 3,66% com o avanço do bitcoin.
Outro assunto que se mantém na atenção dos investidores é a retirada das tropas americanas do Afeganistão, o que tem causado algumas críticas ao presidente Joe Biden por conta da rápida tomada do grupo extremista Taleban sobre o controle do país.
Em coletiva de imprensa, no final da semana anterior, o presidente Joe Biden afirmou não ter visto qualquer questionamento de aliados americanos à credibilidade de seu governo no cenário internacional por conta da saída das tropas americanas de Cabul.
Segundo Biden, todos os aliados dos EUA concordaram com sua decisão, que foi tomada sob consenso de sua equipe. O mandatário ainda confirmou que se reunirá com as outras nações do Grupo dos Sete (G7) nesta semana para acordar um posicionamento em relação ao Afeganistão após o avanço do Taleban.
De acordo com ele, os EUA e as nações aliadas farão pressão sobre o novo governo afegão em prol dos direitos humanos no país.
Agora, no entanto, o foco é retirar os cidadãos americanos e outras pessoas que contribuíram com os EUA do Afeganistão, disse Biden. "Haverá muito tempo para criticar a nossa decisão quando esta operação terminar", afirmou o presidente, que classificou a evacuação em curso como "um dos maiores e mais difíceis transportes aéreos da história".
Bolsas asiáticas fecham em alta
As bolsas asiáticas fecharam em alta nesta segunda-feira, em dia de recuperação após perdas recentes, incentivadas pelo bom desempenho dos mercados de Nova York no fim da semana passada.
O índice acionário japonês Nikkei subiu 1,78% em Tóquio hoje, aos 27.494,24 pontos, enquanto o chinês Xangai Composto avançou 1,45%, aos 3.477,13 pontos, e o Hang Seng se valorizou 1,05% em Hong Kong, aos 25.109,59 pontos.
Em outras partes da região asiática, o sul-coreano Kospi avançou 0,97% em Seul nesta segunda, aos 3.090,21 pontos, o Shenzhen Composto - índice chinês de menor abrangência - subiu 2,35%, aos 2.445,04 pontos, e o Taiex saltou 2,45% em Taiwan, a 16.741,84 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana também ficou no azul, interrompendo uma sequência de cinco pregões negativos. O S&P/ASX 200 teve alta de 0,39% em Sydney, aos 7.489,90 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado