Mercado Financeiro

Mercado segue cauteloso com tensões no exterior e cenário doméstico

Tomada de poder pelo Talibã no Afeganistão e crise entre Poderes e risco fiscal aqui afetam o mercado

Data de publicação:17/08/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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O mercado financeiro deve permanecer cauteloso, sem grandes iniciativas, nesta terça-feira, 17, em que as expectativas tendem a continuar ditando o rumo dos negócios. Tanto com o cenário local quanto o internacional.

Pelo lado externo, o mercado deverá ficar atento à reação dos Estados Unidos à tomada do poder pelo Talibã no Afeganistão. Uma troca no poder, por um grupo fundamentalista, que tem o potencial de criar uma crise geopolítica e acirrar a disputa pelo domínio na região, de interesse não só dos EUA, mas também de outras potências, como a China.

Tensão no cenário interno e externo segue na atenção dos investidores - Foto: Envato

A expectativa é que a volta do grupo Talibã ao poder no Afeganistão sem o anúncio ainda de um governo formal continue gerando instabilidade e volatilidade nos mercados globais, um dos fatores que ontem derrubaram a Bolsa de Valores e impulsionaram o dólar no País.

Mercados e investidores permanecem atentos ainda à propagação da nova variante delta do coronavírus, considerada ameaça à retomada econômica. Temor que se reforçou também com os dados industriais e de varejo que apontaram para uma desaceleração da economia chinesa.

Embate entre Poderes preocupa o mercado

O cenário doméstico é outro fator que contribui com a perspectiva de maior volatilidade nos mercados., segundo especialistas. Um dos motivos é a instabilidade política provocada pelos embates entre os Poderes, desta vez com a ameaça do presidente Bolsonaro de pedir o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A preocupação dos investidores se estende ainda ao campo fiscal, relacionada ao pagamento dos precatórios devidos pela União, despesas originadas de decisão judicial em caráter definitivo.

Teme-se que o pagamento desse compromisso venha a estourar o teto de gastos. O governo é obrigado a quitar essa dívida, mas, sem recursos, pensa parcelar o pagamento, o que também é malvisto pelo mercado financeiro.

Ao lado da crise política e fiscal, investidores e gestores de mercado também se sentem desconfortáveis com a trajetória da inflação, que não dá sinais de trégua. Dados do boletim Focus divulgado nesta segunda-feira revisaram para cima, mais uma vez, as projeções de inflação e Selic.

A estimativa de inflação para 2021 de analistas e economistas do mercado estampada no relatório do Banco Central passou de 6,88% para 7,05%, o que levou também para um reestimativa da Selic de 7,25% para 7,50%. Inflação mais alta, que consome a renda, e juro mais elevado, que inibe a procura por crédito e a demanda, são fatores que limitam a retomada.

CPI da Covid: TCU

A continuidade dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid no Senado segue sendo acompanhada pelo mercado. Nesta terça-feira está previsto o depoimento do auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Marques, que produziu um documento que dizia haver supernotificação nos números oficiais de mortes por coronavírus.

O documento, que não encontra respaldo no TCU e nem qualquer outra comprovação, foi usado pelo presidente Jair Bolsonaro para minimizar os efeitos da pandemia.

NY: futuros em queda

No cenário externo, os contratos futuros negociados em Nova York operam em queda com os investidores em compasso de espera sobre o discurso do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) que acontece hoje e divulgação da ata da última reunião do Fomc (Copom americano), que acontece na próxima quarta-feira, 18, e pode trazer mais pistas sobre a inflação e a retirada de estímulos.

Segundo Filipe Teixeira, sócio da Wisir Research, os ganhos corporativos e a liquidez ainda abundante devem sustentar os mercados por mais algum tempo, “mas já não seria surpresa se verificarmos uma realização mais consistente nesta segunda metade do ano”.

Nos últimos comentários do Fed, o presidente de Boston, Eric Rosengren, disse que apoiaria o anúncio do início da redução em setembro se os EUA obtivessem outro relatório “forte” do mercado de trabalho.

Bolsas asiáticas fecham em baixa

Os mercados acionários asiáticos registraram queda nesta terça-feira. Papéis ligados ao consumo de serviços estiveram entre os mais pressionados em Xangai, enquanto Tóquio chegou a avançar, mas sucumbiu ao tom negativo geral.

Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei terminou em baixa de 0,36%, aos 27.424,47 pontos, na mínima do dia. O mercado japonês chegou a subir, mas perdeu fôlego ao longo do dia, com investidores à espera de notícias de hoje dos Estados Unidos, como o dado de vendas no varejo e evento com o presidente do Fed.

Na China, a Bolsa de Xangai fechou em queda de 2,00%, aos 3.446,98 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, caiu 2,52%, aos 2.503,35 pontos.

Papéis ligados ao consumo de serviços estiveram entre os mais penalizados, como agências de turismo e vendedoras de bebidas e alimentos. Além disso, os dados abaixo do esperado da economia chinesa continuaram a repercutir.

Em Hong Kong, o índice Hang Seng teve baixa de 1,66%, aos 25.745,87 pontos. Na Bolsa de Taiwan, o índice Taiex caiu 1,17%, aos 16.661,36 pontos.

Na Coreia do Sul, o índice Kospi fechou em queda de 0,89%, aos 3.143,09 pontos. Ações ligadas a viagens estiveram sob pressão, ao lado daquelas de empresas de transportes de mercadorias por via marítima. Estrangeiros continuaram a vender papéis na bolsa sul-coreana, com os riscos da covid-19 sobre a atividade também em foco.

Na Oceania, o índice S&P/ASX 200 terminou em baixa de 0,94%, aos 7.511,00 pontos, na Bolsa de Sydney. Após recordes recentes, o mercado australiano teve jornada negativa para algumas de suas maiores empresas, com o setor financeiro entre as maiores baixas. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.