Mercado Financeiro

Mercado está atento à prévia da inflação, após alívio na véspera

Expectativa é de que prévia da inflação oficial, com o IPCA-15, fique em torno de 0,77%

Data de publicação:25/08/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Nesta quarta-feira, 25, o mercado financeiro tomará conhecimento do primeiro índice de inflação de agosto, com o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga logo pela manhã.

Considerado prévia da inflação oficial, o índice está estimado ao redor de 0,77%, pressionado por condições climáticas adversas sobre alimentos “in natura”, alta dos preços de combustíveis e gás de cozinha, além de reajuste de energia elétrica.

A possibilidade de a inflação impactar o caixa preocupa 26% dos entrevistados - Foto: Envato

Mercado viveu dia de alívio

O mercado financeiro passou por um momento de alívio nesta terça-feira, de carona em um cenário mais positivo no exterior. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, sustentou forte valorização de 2,33%, que trouxe o Índice Bovespa (Ibovespa) de novo acima de 120 mil pontos (120.210,75 pontos). O dólar andou na contramão da bolsa e recuou 2,23%, para R$ 5,26.

O dia no ambiente internacional foi marcado por uma reviravolta no pessimismo que vinha contribuindo para dar o tom negativo aos mercados domésticos.

Flavio de Oliveira, head de Renda Variável da Zahl Investimentos, diz que a alta das commodities, principalmente com a recuperação dos contratos futuros de minério de ferro na China, impulsionou as ações de siderúrgicas brasileiras, como Vale, CSN, Usiminas e Gerdau, movimento que puxou a bolsa para cima.

O rali das commodities, com a alta de 6% do minério de ferro, refletiu a redução do temor do mercado com o surto da variante delta da covid 19 na China, o que repercutiu positivamente por aqui com a alta também das ações de companhia aéreas, analisa Oliveira.

Em boa medida, o bom humor do mercado doméstico dependerá da manutenção desse clima positivo no exterior, de acordo com analistas e especialistas, porque o cenário interno, embora menos estressante ontem, ainda gera preocupações provocadas por ruídos políticos e incertezas com o controle das contas públicas.

Uma declaração bem recebida pelos investidores ontem que reduziu a pressão sobre os juros futuros, cuja alta vinha incomodando o mercado, foi a do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que o Congresso estuda opções para o pagamento de R$ 90 bilhões de precatórios em 2022 sem o descumprimento da meta fiscal nem recorrer a “calote institucional”.

Auxílio emergencial

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o governo não tem mais capacidade de pagar o benefício de auxílio emergencial aos moldes que fez no ano passado.

"Quando a parcela era de R$ 600 por mês, nós nos endividamos na ordem de R$ 50 bilhões. É impossível continuar com essa política. Não basta a Casa da Moeda imprimir papel, precisamos que o campo produza e a cidade também", disse o presidente em entrevista.

Bolsonaro reconheceu que o pagamento do auxílio emergencial contribuiu para o aumento da inflação, mas ressaltou que o aumento de preços aconteceu no mundo inteiro e não apenas no Brasil. As declarações acompanham o trabalho do Ministério da Economia para ampliar programas sociais a partir de novembro, um mês após ter sido paga a última parcela do auxílio.

Segundo o presidente, o trabalho pode evitar um mal maior, uma vez que pessoas "sem trabalho e sem renda morrerão de fome". "O trabalho ajuda a prevenir as consequências mais nefastas da pandemia. Ter o corpo são é a melhor maneira de se imunizar contra tudo que está aí", afirmou.

CPI da Covid: FIB Bank

Nesta quarta-feira, o colegiado da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado ouve o presidente do FIB Bank, Roberto Ramos Junior.

Na véspera, os senadores ouviram o empresário Emanuel Catori, sócio da Belcher Farmacêutica, que representou por alguns meses o laboratório chinês CanSino para a venda da vacina Convidencia ao governo federal.

Catori foi convocado a depor em razão das ligações entre a Belcher e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, que é formalmente investigado pela comissão pelo suposto envolvimento em negociações de imunizantes.

Durante a oitiva, Catori negou que tenha tratado com Barros sobre a proposta de venda do imunizante da CanSino, mas admitiu que mantém uma relação com o líder do governo, com quem teria conversas periódicas.

A Belcher representou a CanSino para venda da Convidencia no Brasil, mas o negócio não foi fechado. A CanSino revogou unilateralmente as credenciais da Belcher para representar o laboratório no País por razões de compliance, e hoje a farmacêutica brasileira avalia se irá judicializar contra a iniciativa do grupo asiático.

Essa medida em estudo foi uma das justificativas dadas por Catori para não abrir detalhes da relação da Belcher com a CanSino, entre eles a forma como seria remunerada caso o negócio com o governo tivesse sido efetivado.

Aras: recondução aprovada

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal aprovou, na véspera, por 21 votos a 6, a recondução de Augusto Aras para o cargo de procurador-geral da República. Ele foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para um segundo mandato de dois anos mesmo estando fora da lista tríplice aprovada pela classe.

A indicação ainda vai passar por votação no plenário da Casa Legislativa. Aras precisa da maioria absoluta dos votos dos senadores - 41 dos 81 - para ter sua nomeação confirmada.

O procurador-geral da República chega ao final do primeiro mandato sob críticas por um suposto alinhamento ao governo federal.

Nas últimas semanas, ele foi alvo de notícias-crimes no Supremo Tribunal Federal (STF) e de uma representação no Conselho Superior do Ministério Público Federal (MPF) que lhe atribuíram crime de prevaricação - quando um servidor público não toma determinada ação que lhe compete em benefício de terceiros - para favorecer o presidente.

EUA: futuros próximos da estabilidade

Em Wall Street, os futuros negociados nas bolsas de Nova York operam estáveis, com os investidores um pouco mais otimistas com a perspectiva de avanço no combate à covid-19 nos Estados Unidos e no aguardo das falas dos dirigentes do Fed no Simpósio de Jackson Hole, que acontece na próxima sexta-feira, 27.

Na véspera, os índices S&P 500 e Nasdaq renovando mais uma vez as máximas históricas de fechamento, este último ultrapassando a marca de 15 mil pontos pela primeira vez. O Dow Jones fechou em alta de 0,09%, aos 35.366,26 pontos, o S&P 500 subiu 0,15%, aos 4.486,23 pontos, e o Nasdaq avançou 0,52%, aos 15.019,80 pontos.

Depois de o governo norte-americano ter concedido à Pfizer, na última segunda-feira, 23, o registro definitivo de sua vacina contra covid-19, o infectologista e principal conselheiro médico da Casa Branca, Anthony Fauci, disse esperar que os imunizantes da Moderna e da Johnson & Johnson recebam autorização integral da FDA, o órgão regulador de alimentos e medicamentos dos EUA, "relativamente logo".

As licenças permitem aos gestores públicos desenvolverem novas políticas para o combate à doença, alimentando expectativas de superação da pandemia e abrindo espaço para maior apetite a risco nos mercados.

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, no dia anterior, uma medida para avançar com um orçamento de US$ 3,5 trilhões, além de marcar para o fim de setembro outra votação, sobre o pacote de infraestrutura de quase US$ 1 trilhão.

O acordo final, por 220 votos a 212, encerra um impasse entre um grupo de democratas de centro e seus líderes sobre a agenda legislativa do partido.

"Dada a pequena vantagem que os democratas têm no Congresso, Wall Street está confiante de que seria feito um acordo para garantir os gastos com infraestrutura e avançar o orçamento", disse Edward Moya, analista da Oanda.

Com a votação sobre o marco orçamentário nesta terça na Câmara, foi destravado o processo que permitirá aos democratas aprovar um projeto com medidas sobre saúde, educação e clima no Senado sem o apoio do Partido Republicano, contando que os governistas tenham os votos de todos os seus 50 senadores.

O mercado segue ainda na expectativa pelo Simpósio de Jackson Hole. Para o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, a LPL Markets, aponta que apesar dos comentários contínuos de alguns dirigentes que indicam que um aumento inicial das taxas de juros em 2022 pode ser apropriado, os investidores permanecem não convencidos.

Por sua vez, "o mercado estará atento a quaisquer pistas de Powell na sexta-feira que possa alterar essa visão", projeta.

Outro assunto que volta aos holofotes é a tensão EUA-China. O presidente da Comissão de Valores Mobiliários do país, Gary Gensler, prometeu cumprir um prazo de três anos para que as empresas chinesas listadas nas bolsas do país permitissem inspeções de suas auditorias financeiras ou enfrentarão o fechamento de capital.

Bolsas asiáticas fecham mistas

As bolsas asiáticas fecharam mistas nesta quarta-feira, com a tensão entre Estados Unidos e China de volta ao centro das discussões.

O índice japonês Nikkei fechou próximo da estabilidade, com leve queda de 0,03%, aos 27.724,80 pontos. Já o sul-coreano Kospi concluiu o pregão em alta de 0,27%, aos 3.146.81 pontos.

Já na Oceania, o índice S&P/ASX200 fechou o dia em alta de 0,39%, aos 7.531,90 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.