Mercado: definição de juros europeus deve atrair atenção em dia de agenda fraca
Taxa básica deve ser mantida em zero pelo Banco Central Europeu
A ausência de novidades de maior impacto, tanto positivo quanto negativo, assegurou mais um dia de recuperação do mercado de ações na véspera e de continuidade de queda do dólar. Especialistas não têm expectativa de mudança no cenário nesta quinta-feira, 22, marcada ainda pela agenda fraca de indicadores no dia.
O único evento que tende a atrair a atenção, prevista na agenda externa, é a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). A expectativa consensual de especialistas é que a taxa básica nos países do bloco europeu seja mantida em zero ao ano para uma inflação estimada em 2%. Os juros continuariam rodando em terreno negativo.
Os juros permanecem abaixo da inflação, nesses países, em um ambiente de bastante liquidez, mas esse estoque abundante de recursos está começando a se reduzir, analisa o economista Richard Rytenband, CEO da Convex, research independente.
A reversão de liquidez, observa o economista, gera impacto nos preços dos ativos, como ações, e na própria atividade econômica no curto prazo. Rytenband diz visualizar há algum tempo sinais de desaceleração na China e na própria economia global.
Os recursos que ficam empoçados no sistema, sem investimento na produção ou em ativos financeiros rentáveis, refletem em boa medida a cautela dos investidores, preocupados, mais recentemente, com as idas e vindas da pandemia do coronavírus. A disseminação da nova variante delta apenas agravou as incertezas dos investidores.
Insegurança no mercado brasileiro
Especialistas afirmam que, no caso do Brasil, o sentimento de insegurança é reforçado pelos ruídos políticos. O mais recente vem da tumultuada relação entre o governo e o centrão nas negociações do fundo eleitoral.
O possível veto do presidente Bolsonaro ao valor definido pelo Congresso pode criar novo foco de atrito e tensão entre os dois Poderes.
Além disso, Bolsonaro voltou a repetir publicamente a ameaça feita pelo Ministro da Defesa, Walter Braga Netto, sobre o voto impresso. "Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições".
Para especialistas, a falta de entendimento em torno do valor representa um potencial risco ao andamento da agenda de reformas econômicas.
Uma agenda que está empacada no Congresso. As negociações sobre a reforma tributária não avançam e tampouco a tentativa de acordo sobre uma parte dela, a proposta de reforma do imposto de renda para pessoas físicas e empresas.
NY: futuros em alta
Nos Estados Unidos, os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam em alta com o mercado retomando o apetite por risco após a forte queda registrada no início da semana, além da atenção voltada à divulgação dos resultados trimestrais das empresas.
O aumento das expectativas de lucros corporativos está diminuindo as preocupações com o pico de crescimento econômico e a propagação da variante Delta do coronavírus, que agitou o mercado no começo da semana.
Cerca de 86% das empresas do S&P 500 que reportaram resultados até agora superaram as previsões dos analistas, enquanto as previsões de lucros no consolidado de 12 meses prometem o melhor resultado nas últimas décadas.
"As ações dos EUA estão subindo depois que uma onda de lucros mostrou resultados e orientações melhores do que o esperado, exceto para Netflix", diz o analista da OANDA em Nova York, Edward Moya.
Para ele, além dos balanços, o movimento no mercado de Treasuries também deve ser observado com atenção por acionistas, uma vez que sinaliza que Wall Street deve esperar volatilidade "excessiva" nos próximos meses, "à medida que o Fed administra um anúncio de redução conforme aumenta a pressão para normalizar as taxas".
CPI da Covid
Na véspera, o senador Davi Alcolumbre sugeriu que foi o ministro Onyx Lorenzoni, hoje na Secretaria Geral da Presidência e ex-chefe da Casa Civil, quem exerceu influência sobre Roberto Ferreira Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, em atividades ligadas à pasta
A declaração liga um integrante do núcleo duro do presidente Jair Bolsonaro ao personagem que está no centro das principais denúncias de corrupção no Ministério da Saúde sob apuração da CPI da Covid.
Roberto Dias é alvo de denúncias relacionadas ao contrato da Covaxin e às negociações com a empresa Davati, que se apresentou como intermediária da vacina Astrazeneca. No Brasil, a farmacêutica só tem parceria com a Fiocruz.
Ao prestar depoimento à CPI da Covid, o ex-diretor acabou preso em flagrante porque, segundo os senadores, cometeu crime de perjúrio por ter mentido ao responder perguntas. Alcolumbre agiu pessoalmente para pedir que o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), recuasse.
Bolsas asiáticas fecham em alta
As bolsas da Ásia fecharam em alta nesta quinta-feira, com a melhora do sentimento global. Após a aversão ao risco que predominou no começo da semana devido ao avanço da variante delta do coronavírus, os índices acionários asiáticos, depois de dois pregões mistos, acompanham agora a recuperação dos mercados em Nova York e na Europa.
Na China continental, o índice Xangai Composto subiu 0,3%, aos 3.574,73 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto avançou 0,5%, aos 2.503,85 pontos. No Japão, um feriado manteve os mercados fechados e, portanto, o índice Nikkei não abriu.
Em Hong Kong, o Hang Seng encerrou com ganho de 1,8%, aos 27.723.84 pontos, e o Kospi subiu 1,1% em Seul, aos 3.250,21 pontos.
A bolsa sul-coreana registrou alta pela primeira vez em cinco pregões, impulsionada por ações de tecnologia, finanças, aço e varejo. Os investidores deslocaram o foco das preocupações com a pandemia para os balanços corporativos do segundo trimestre.
No final da noite de ontem, a Fitch reafirmou o rating AA- da Coreia do Sul e manteve a perspectiva estável para a nota de crédito do país asiático.
Na Oceania, a bolsa da Austrália subiu mesmo em meio ao lockdown no país para conter a piora da pandemia de covid-19. O S&P/ASX 200 registrou alta hoje de 1,1% em Sydney, ao recorde de 7.386,4 pontos, também com foco em notícias corporativas.
Apesar da recuperação vista hoje nos mercados acionários, a cautela com a variante delta do coronavírus na Ásia ainda fica no radar, ainda que esteja em segundo plano. A Indonésia, por exemplo, tornou-se o epicentro da pandemia, segundo especialistas, enquanto o número de hospitalizações também tem subido na Malásia.
Ficam também no radar as tensões entre os Estados Unidos e China. Na véspera, Washington anunciou que a vice-secretária de Estado americana, Wendy Sherman, viajará a Pequim nos dias 25 e 26 de julho.
Nesta semana, os EUA e países aliados acusaram a China de ter usado o sistema de e-mails Microsoft Exchange para praticar ciberespionagem no mundo, o que foi negado pelas autoridades chineses. / com Júlia Zillig e Agência Estado