Mercado Financeiro

Mercado está de olho em dados de empregos nos EUA nesta 6ª feira

Houve uma mudança de humor na virada do semestre com cenário político, inflação em alta e variante do vírus

Data de publicação:02/07/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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O mercado financeiro deverá estar atento ao mercado de trabalho (payroll), cujos dados serão divulgados nos Estados Unidos nesta sexta-feira, 2. A expectativa é de que eles comuniquem a criação de quase 700 mil vagas.

Números do emprego nos Estado Unidos acima do esperado poderão afetar as bolsas - Foto: Envato

Um número forte, acima das previsões, seria um sinal de que a economia americana estaria com mais tração no processo de retomada, o que mais cedo ou tarde poderia levar a uma revisão da política de juros pelo Fed (Federal Reserve, banco central americano).

Segundo o analista da Constância Investimentos, Gustavo Akamine, esse é o primeiro payroll após última reunião do Fed na qual a autoridade monetária adiantou o processo de retirada de estímulos da economia.

Confirmada essa perspectiva de número maior de vagas, o mercado domestico, já enfraquecido por outros fatores, poderá cair ainda mais diante da perspectiva de aumento dos juros americanos e maior concorrência das Treasuries com aplicações em países emergentes.

Mudanças de humor do mercado

O humor do mercado financeiro mudou nesta virada de semestre. A proposta de tributação de dividendos, contida na reforma tributária enviada pelo governo na semana passada ao Congresso, continua repercutindo negativamente no mercado.

Ações de bancos, um dos setores considerados bons pagadores de dividendos, são os que mais têm sofrido com as mudanças tributárias propostas aos dividendos.

E o motivo do desapontamento no mercado não se limitou a isso. O mal estar entre os investidores foi potencializado pelo risco político, que aumenta à medida que se colhem denúncias cada vez mais pesadas na CPI da Covid contra pessoas que têm proximidade com o núcleo do poder.

O ambiente de instabilidade, agravado pelo pedido de investigação contra o presidente Bolsonaro enviado pela ministra Rosa Weber, do STF, à Procuradoria Geral da República (PGR), sobre suposto envolvimento em propina na compra de vacinas, abriu caminho para uma correção mais forte dos mercados neste início de julho.

A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, não só amargou a terceira queda consecutiva como perdeu o suporte de 127 mil pontos e, de acordo com análises grafistas, teria iniciado um processo de correção que traria o Ibovespa para patamares ainda mais baixos.

O dólar, por sua vez, não apenas andou na contramão do mercado de ações, como parece estar com fôlego renovado, ao sustentar a terceira valorização seguida. Mais do que isso, passou de R$ 5 na véspera, pressionado pela insatisfação dos investidores com a reforma tributária e pelo agravamento de incertezas políticas.

Outro fator de pressão veio do cenário externo, com o dólar andando de carona na valorização da moeda americana diante de moedas de países emergentes em um ambiente de expectativas e cautela, com a divulgação do relatório de emprego nos Estados Unidos nesta sexta-feira.

Especialistas preveem um aumento de volatilidade nos mercados no começo deste semestre. Além dos fatores de instabilidade domésticos, relacionados à economia e à política, notícias do exterior trazem preocupações com a disseminação da variante delta do coronavírus, apontam os analistas.

NY: futuros em leve alta

No cenário externo, os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam em leve alta com o mercado em compasso de espera sobre o anúncio do payroll logo mais, que é um importante sinalizador da retomada econômica do país.

Em meados do mês passado, o Fed sinalizou que está propenso a retirar estímulos monetários mais cedo do que se imaginava, à medida que os EUA se recuperam com força dos choques da pandemia de covid-19.

Na véspera, o índice Dow Jones fechou em alta de 0,38%, aos 34.633,53 pontos, enquanto o S&P 500 subiu 0,52%, cravando o sexto recorde seguido de fechamento, aos 4.319,94 pontos, e o Nasdaq Composite avançou 0,13%, aos 14.522,38 pontos.

O S&P vive neste momento sua mais longa sequência de ganhos desde o início de fevereiro. O índice havia emendado seis máximas recordes de fechamento seguidas pela última vez em agosto do ano passado.

“Dados históricos mostram que se você tem um primeiro semestre forte, a segunda metade do ano vai, na verdade, ser mais forte ainda”, disse Ross Mayfield, analista de estratégias de investimento da Baird Private Wealth.

“Para os mercados, até este momento do ano, o chato tem sido maravilhoso”, afirmou David Carter, diretor de investimentos da Lenox Wealth Advisors em Nova York.

“O crescimento econômico tem sido forte o suficiente para dar suporte aos preços, e muitas classes de ativos têm operado com níveis historicamente baixos de volatilidade”, ressalta.

CPI: reviravolta

Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid seguem na pauta de atenção do mercado.

Na véspera, o colegiado ouviu o vendedor de vacinas Luz Paulo Dominguetti. Marcado por tensão, o depoimento de Dominguetti ganhou ainda mais tempero quando ele mostrou à CPI um áudio de uma conversa com o deputado Luis Miranda.

Na gravação, Miranda diz ter um “comprador com potencial pagamento instantâneo”. Aos senadores, o vendedor afirmou que a gravação fora enviada ao representante oficial da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho.

O áudio seria a prova de que o deputado quis negociar vacinas dentro do Ministério da Saúde, local onde trabalha seu irmão, Luiz Ricardo Fernandes Miranda, chefe de importação do departamento de Logística da pasta.

Porém, os senadores suspeitaram da tentativa de colocar Miranda, que denunciou irregularidades no processo de aquisição de vacinas, como alguém que também tenha intermediado negociações.

Dominguetti confirmou à CPI que o diretor de Logística, Roberto Dias, que acabou sendo demitido, lhe cobrou propina de US$ 1 por d0se da vacina AstraZeneca, sob alegação de que para fechar contrato com a pasta era preciso pagar pedágio.

Bolsas asiáticas fecham em baixa

As bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em baixa nesta sexta-feira, um dia após o presidente chinês, Xi Jinping, fazer forte discurso contra a interferência externa e à espera dos últimos números do mercado de trabalho dos EUA.

Na China continental, o Xangai Composto recuou 1,95% hoje, aos 3.518,76 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto teve queda semelhante, de 1,86%, aos 2.396,78 pontos. Em Hong Kong, o Hang Seng caiu 1,80%, aos 28.310,42 pontos.

Em discurso pela comemoração do centenário do Partido Comunista Chinês, Xi Jinping fez apelos à unidade nacional e desafiou pressões internacionais.

O povo do país "jamais permitirá que nenhuma força estrangeira nos intimide, oprima ou escravize", afirmou o líder, em tom contundente.

A fala de Xi vem num momento de crescente pressão externa, em especial dos EUA, por supostas violações de direitos humanos cometidas pela China.

Investidores na Ásia também estão na expectativa para o último relatório de emprego dos EUA, que será publicado às 9h30 (de Brasília).

Também permanece no radar a variante delta do coronavírus, que se espalha rapidamente por dezenas de países e ameaça planos de reabertura econômica.

Em outras partes da região asiática, o índice acionário Kospi teve baixa marginal de 0,01% na bolsa sul-coreana hoje, aos 3.281,78 pontos, assim como o Taiex, que caiu 0,02% em Taiwan, aos 17.710,15 pontos.

Por outro lado, o japonês Nikkei subiu 0,27% em Tóquio, aos 28.783,28 pontos, impulsionado por ações dos setores automotivo e petrolífero.

Na Oceania, a bolsa australiana também contrariou o tom predominantemente negativo da Ásia, e o S&P/ASX 200 avançou 0,59% em Sydney, aos 7.308,60 pontos, igualmente ajudado por ações de petroleiras. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.