Mercado Financeiro

Bolsa fecha em queda de 0,66%, com inflação, cenário político e fiscal; dólar cai a R$ 5,19

Investidores repercutem os dados da inflação de julho e a ata da última reunião do Copom

Data de publicação:10/08/2021 às 10:46 - Atualizado 3 anos atrás
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A Bolsa fechou em queda de 0,66% nesta terça-feira, 10, caindo aos 122.202,47 pontos, refletindo a preocupação dos investidores com o avanço da inflação de julho e as indicações da ata do Copom, divulgada nesta terça-feira. O pregão também foi marcado por uma elevação no nível de tensão do cenário político interno e temor com os riscos fiscais.

Não bastassem esses fatores, os papéis dos bancos viveram um dia de baixas, devolvendo os ganhos dos últimos dois pregões, o que ajudou a derrubar o Ibovespa. A desvalorização do índice só não foi maior ao longo do dia porque as ações das empresas ligadas às commodities de petróleo e minério de ferro registraram altas consistentes, recuperando as perdas da véspera.

Sede da Bolsa de Valores em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

Política monetária

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, considerado a inflação do País, subiu 0,96% no período ante 0,53% em julho. O resultado acima das expectativas do mercado, entre 0,93% e 0,95%. Com esse número, o IPCA acumula alta de 4,76% no ano e de 8,99% nos últimos 12 meses, acima dos 8,35% registrados no período até junho.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinalizou, na ata de seu último encontro divulgada nesta manhã, que existem novas pressões em componentes voláteis da inflação, como nos custos de energia elétrica e alimentos.

Além disso, o BC pontuou que a inflação ao consumidor “continua se revelando persistente”. A autoridade monetária destacou no documento “a surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços e continuidade da pressão sobre bens industriais, causando elevação dos núcleos”.

Na ata, o BC também repetiu a afirmação, já expressa no comunicado da semana passada, de que "as diversas medidas de inflação subjacente se apresentam acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação".

Na semana passada, o Copom elevou a Selic em 1,00 ponto porcentual, para 5,25% ao ano. Foi o quarto aumento consecutivo.

Sobe e desce da B3

Após dois pregões seguidos de alta, refletindo os bons resultados apresentados nos balanços trimestrais, as ações dos bancos devolveram os ganhos nesta terça-feira. O setor, que compõe boa parte da carteira teórica da B3, é a principal porta de entrada para os investidores estrangeiros na Bolsa por sua liquidez. Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander registraram forte queda de 1,89%, 1,43%, 2,54% e 2,24%, respectivamente.

Já as ações de commodities se beneficiaram de um projeto aprovado pelo Senado americano, que prevê uma injeção de US$ 1 trilhão para o setor siderúrgico, na expectativa de uma demanda crescente dos consumidores. Na mesma esteira, o preço do minério de ferro subiu na China, contribuindo para o movimento de alta do setor na Bolsa.

Os papéis da Vale, CSN, Usiminas e Gerdau avançaram 0,96%, 1,06%, 2,52% e 2,70%, na sequência.

O preço do petróleo no mercado internacional também subiu ao longo do dia. Assim, Petrobras registrou alta de 0,32% em suas ações. Enquanto isso, a PetroRio disparou 6,48%, configurando a maior alta da B3 no dia.

As ações da Embraer também fecharam no azul, com o anúncio da companhia sobre a conclusão da venda de 16 novos jatos E175 para a empresa norte-americana SkyWest, no valor de US$ 798,4 milhões. Os papéis da companhia tiveram variação positiva de 3,27%.

Depois de apresentar seus números do segundo trimestre, Minerva, Iguatemi e Direcional registraram queda em seus papéis. Na sequência, as empresas caíram 1,69%, 3,56% e 4,15%.

O Grupo Oncoclínicas estreiou no pregão da Bolsa nesta terça-feira também em queda. A companhia precificou sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) a R$ 19,75 por papel. As ações da empresa de saúde recuaram 3,24%, negociadas a R$ 19,11.

Dólar em queda

O dólar fechou em queda de 0,75% nesta terça-feira, cotado a R$ 5,193. O comportamento da moeda reflete o avanço do IPCA e as sinalizações do Banco Central, pela ata da última reunião do Copom, com duas indicações de que os juros vão continuar subindo de forma mais acentuada, o que pode atrair investimento estrangeiro para a renda fixa e deprimir as cotações da moeda.

O mercado já trabalha com a perspectiva de que o BC venha aplicar mais um reajuste de 1 ponto porcentual na Selic, taxa básica de juros, no próximo encontro do Copom.

Novo Bolsa Família

No front fiscal, causa mal-estar no mercado a proposta de criação do programa Auxílio Brasil, nova versão do Bolsa Família, formalizada na medida provisória que o presidente Bolsonaro levou pessoalmente ao Congresso no dia anterior.

O auxílio não tem ainda valor definido, mas o número de beneficiários do novo programa deverá ser ampliado de 14,4 milhões para cerca de 16 milhões.

Outra indefinição é a fonte de recursos para bancar o benefício - e aí está o principal temor dos investidores - diante da ideia do governo de parcelar o pagamento de precatórios como forma de obter recursos para o programa, visto pelo mercado como forma de burlar o teto de gastos.

O receio do mercado é que o aumento de gastos públicos, sem contrapartida de crescimento de receitas, crie mais instabilidade econômica e pressão inflacionária, em um cenário de elevação da taxa Selic para combatê-la que poderia fragilizar a retomada de crescimento.

Voto impresso e desfile

No cenário local, os ruídos políticos e fiscais seguem na pauta de atenção dos investidores. Nesta terça-feira, a proposta de voto impresso deve ser votada pelo plenário da Câmara, após o parecer do deputado Filipe Barros ter sido derrotado na comissão especial que analisa o assunto.

Segundo o presidente da Câmara, Arthur Lira, a decisão de enviar o texto ao Plenário foi tomada após conversa com muitos líderes, sem que houvesse unanimidade, e visa apaziguar e superar o assunto.

No mesmo dia, houve a realização de um desfile de veículos militares blindados nos arredores do Congresso Nacional . O evento tem como mote, segundo informações oficiais, a entrega de convite a diversas autoridades da República para participarem do dia de Demonstração Operativa da Operação Formosa.

A Marinha informou por meio de nota que o desfile foi planejado antes da agenda de votação. No entanto, a coincidência da data causou desconforto a parlamentares, que acusam Bolsonaro de tentativa de intimidação do Parlamento brasileiro.

Além disso, em uma ação coordenada com ministros do Supremo, o TSE decidiu, por unanimidade, determinar duas medidas contra o presidente Jair Bolsonaro.

Além do inquérito sobre as denúncias falsas feitas por Bolsonaro contra o sistema eleitoral, o TSE pediu ao Supremo que o investigue no caso das fake news.

Trata-se de um inquérito conduzido pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, que já tem provas de participação de aliados de Bolsonaro em ataques orquestrados às instituições. Moraes acatou a solicitação para incluir o presidente.

O desfecho dessas investigações pode tornar Bolsonaro inelegível, caso ele seja responsabilizado criminalmente, além de levar à impugnação de eventual registro de sua candidatura a um segundo mandato.

NY: bolsas mistas

No cenário externo, os contratos negociados nas bolsas de Nova York fecharam sem direção única. O mercado segue monitorando notícias sobre a variante delta do coronavírus, cujo avanço tem provocado uma onda de volatilidade nos mercados.

O índice S&P 500 subiu 0,10%, Dow Jones na mesma esteira, avançou 0,46% e Nasdaq 100, na contramão, registrou baixa de 0,53%.

"Se a variante delta continuar a levar à adoção de medidas mais restritivas globalmente, os problemas da cadeia de suprimentos podem não desaparecer tão cedo", diz o analista da Oanda, Edward Moya.

Além disso, o mercado acionário tem acompanhado as sinalizações do Fed sobre o processo de 'tapering', como é conhecida a retirada de estímulos monetários, e a elevação de taxa de juros.

O presidente da distrital de Richmond da entidade, Thomas Barkin, disse na véspera que, apesar de achar que houve avanço na meta de inflação, o mercado de trabalho ainda tem espaço para melhorar.

O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, por sua vez, adotou uma postura mais dura e disse que a instituição pode iniciar o tapering entre outubro e dezembro. No entanto, Bostic ponderou que a cepa delta pode apresentar desafios à retomada e adiar a retirada de estímulos.

Bolsas asiáticas fecham sem sinal único

Os mercados acionários da Ásia fecharam sem sinal único nesta terça-feira. Entre os principais mercados, Xangai e Tóquio registraram ganhos, mesmo que a variante delta da covid-19 e seus riscos à atividade tenham continuado no radar de investidores.

Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei teve ganho de 0,24%, aos 27.888,15 pontos, na volta de um feriado com mercados fechados no Japão na segunda-feira. A fraqueza do iene ajudou ações de exportadoras, contrabalançando os temores com a covid-19.

Na China, a Bolsa de Xangai terminou em alta de 1,01%, aos 3.529,93 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, subiu 0,85%, aos 2.598,99 pontos. Ações ligadas a bebidas alcoólicas e as do setor financeiro estiveram entre as que avançaram hoje.

No caso das empresas de bebidas, houve recuperação, após recuos na semana passada por temores de uma eventual investida regulatória no setor.

Em Hong Kong, o índice Hang Seng terminou em alta de 1,23%, aos 26.605,62 pontos, com ações de tecnologia e consumo em destaque. Em Taiwan, o índice Taiex caiu 0,92%, aos 17.323,64 pontos.

Na Oceania, o índice S&P/ASX 200 fechou com ganho de 0,32%, aos 7.562,60 pontos, novo recorde histórico da Bolsa de Sydney. Ações ligadas a tecnologia e finanças se destacaram, mesmo com os riscos da covid-19 e seus impactos ainda em foco. / com Júlia Zillig e Agência Estado

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