Bolsa fecha em queda de 0,49% com cenário político e fiscal; dólar tem leve alta e sobe a R$ 5,39
Investidores mantêm a atenção no cenário externo e nos ruídos políticos e fiscais domésticos
A Bolsa fechou em queda de 0,49% nesta segunda-feira, 23, caindo aos 117.471,67 pontos, descolando do exterior e com os investidores atentos ao cenário político e fiscal doméstico.
No radar do mercado seguem as expectativas sobre a reforma do imposto de renda, a definição do novo Bolsa Família -o Auxílio Brasil -, e a PEC dos precatórios, o que penaliza o desempenho do Ibovespa num pregão positivo para o exterior, analisa a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Durante a manhã, o Banco Central divulgou o Relatório Focus, que traz as estimativas dos economistas do mercado sobre os principais indicadores econômicos do País. Segundo a edição desta semana, a inflação segue subindo para este ano. De 7,05%, foi ajustada para 7,11%.
Com isso, o índice segue se afastando cada vez mais da meta estipulada pelo BC de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para frente ou para trás.
Para o ano seguinte, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, também foram elevadas: de 3,90% para 3,93%. E ficou estável em 3,25%. Já a Selic, considerada a taxa básica de juros, ficou estável em 7,50%, tanto para este ano quanto para 2022.
Sobe e desce da B3
Nesta segunda-feira, as ações da Petrobras fecharam em alta, puxadas pela valorização de mais de 3% do preço do petróleo. Mas mesmo assim, esse movimento não foi suficiente para impulsionar o Ibovespa em direção à alta. Os papéis da petroleira subiram 1,88% e os da PetroRio tiveram valorização de 4,05%.
Na esteira de alta, os bancos viveram um dia de ganhos, o que ajudou a amortizar a queda da Bolsa. O Itaú, Bradesco e Santander avançaram 1,21%, 1,11% e 1,34%, na sequência.
As siderúrgicas fecharam majoritariamente em baixa com a queda no preço do minério de ferro na China. As ações da Vale, CSN e Usiminas caíram 1,35%, 0,60% e 1,17%, respectivamente, enquanto Gerdau subiu 1,08%.
Após anunciar a aprovação de um programa de recompra de ações de emissão, a incorporadora Eztec registrou perdas de 1,94%.
A Sabesp, com a informação de que o governo paulista está pronto para privatizar a empresa, também registrou perdas. As ações da companhia recuaram 0,38%.
Dólar em alta
O dólar fechou com leve alta de 0,19%, cotado a R$ 5,387, acompanhando a cautela dos investidores com o cenário fiscal, a inflação e a crise política e institucional no Brasil.
Essa tensão com, principalmente com o risco fiscal, enfraqueceu o real num pregão marcado pela queda do dólar ante moedas de outros países emergentes.
Cenário político e fiscal
O cenário de tensão política e fiscal segue deixando o investidor apreensivo. Nesta manhã, o presidente Jair Bolsonaro recuou e sancionou a previsão de pagamento das emendas do relator-geral e das comissões na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022.
Com isso, os parlamentares poderão indicar esses recursos no Orçamento do ano que vem, em pleno período eleitoral. As emendas de relator estão no centro do orçamento secreto. Essas verbas foram incluídas no Orçamento nos dois últimos anos e aumentaram a quantidade de recursos com a digital dos parlamentares.
O governo do presidente Jair Bolsonaro usou a distribuição para negociar apoio político no Congresso, reforçando uma velha prática conhecida como "toma lá, dá cá" na liberação de recursos em troca de votos no Legislativo.
Dessa forma, o Planalto coloca a digital nesse modelo e abre mão dos próprios argumentos adotados na semana passada para vetar os dispositivos, como a ampliação da segregação de emendas e o grau de "engessamento" da despesa pública.
Além disso, Bolsonaro voltou a levantar suspeitas sobre as urnas eletrônicas e disse “esperamos contagem pública de votos no ano que vem, não podemos conviver com suspeição”, inflando apoiadores que organizam atos para o dia 7 de setembro contra a urna eletrônica e a democracia.
Após prometer ingressar com um segundo pedido de impeachment contra o ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), e entrar com uma solicitação semelhante no Senado contra Alexandre de Moraes, na noite da última sexta-feira, 20, o presidente voltou a atacar também a vacina Coronavac.
"Uma chinesa aí, tem gente que tomou 2ª dose e está morrendo", afirmou Bolsonaro. A fala sugere dúvida sobre a eficácia do imunizante chinês e pode resultar em novo problema diplomático e comercial para o Itamaraty e ministério da Agricultura administrarem, porque a China é principal parceiro comercial brasileiro.
NY: bolsas no azul
Nos Estados Unidos, os contratos negociados nas bolsas de Nova York fecharam em alta, com os investidores tirando proveito da “liquidação” da semana anterior, porém sem deixar de lado a preocupação com a variante delta do coronavírus e a possível retirada de estímulos à economia pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) ainda neste ano.
O índice S&P 500 reportou avanço de 0,85%, com Dow Jones e Nasdaq 100 na mesma esteira, com valorização de 0,61% e 1,46%, respectivamente.
Na visão de Edward Moya, analista da Oanda, Wall Street "aguarda ansiosamente" o pronunciamento do presidente do Fed, Jerome Powell, em Jackson Hole, na próxima semana.
“A maioria das manchetes pessimistas da variante delta sugere que Powell pode querer aproveitar as oportunidades antes de se juntar aos membros com uma postura mais dura para iniciar a redução gradual de suas compras de ativos".
Neste cenário, os "investidores estão aumentando a proteção em ações de tecnologia", segundo Moya. Na última sexta-feira, 20, as ações da Apple subiram 1,02%, Microsoft fechou o pregão com ganhos de 2,56%, Tesla com valorização de 1,01% em seus papéis e a Coinbase avançou 3,66% com o avanço do bitcoin.
Outro assunto que se mantém na atenção dos investidores é a retirada das tropas americanas do Afeganistão, o que tem causado algumas críticas ao presidente Joe Biden por conta da rápida tomada do grupo extremista Taleban sobre o controle do país.
Em coletiva de imprensa, no final da semana anterior, o presidente Joe Biden afirmou não ter visto qualquer questionamento de aliados americanos à credibilidade de seu governo no cenário internacional por conta da saída das tropas americanas de Cabul.
Segundo Biden, todos os aliados dos EUA concordaram com sua decisão, que foi tomada sob consenso de sua equipe. O mandatário ainda confirmou que se reunirá com as outras nações do Grupo dos Sete (G7) nesta semana para acordar um posicionamento em relação ao Afeganistão após o avanço do Taleban. De acordo com ele, os EUA e as nações aliadas farão pressão sobre o novo governo afegão em prol dos direitos humanos no país.
Agora, no entanto, o foco é retirar os cidadãos americanos e outras pessoas que contribuíram com os EUA do Afeganistão, disse Biden. "Haverá muito tempo para criticar a nossa decisão quando esta operação terminar", afirmou o presidente, que classificou a evacuação em curso como "um dos maiores e mais difíceis transportes aéreos da história".
Bolsas asiáticas fecham em alta
As bolsas asiáticas fecharam em alta nesta segunda-feira, em dia de recuperação após perdas recentes, incentivadas pelo bom desempenho dos mercados de Nova York no fim da semana passada.
O índice acionário japonês Nikkei subiu 1,78% em Tóquio hoje, aos 27.494,24 pontos, enquanto o chinês Xangai Composto avançou 1,45%, aos 3.477,13 pontos, e o Hang Seng se valorizou 1,05% em Hong Kong, aos 25.109,59 pontos.
Em outras partes da região asiática, o sul-coreano Kospi avançou 0,97% em Seul nesta segunda, aos 3.090,21 pontos, o Shenzhen Composto - índice chinês de menor abrangência - subiu 2,35%, aos 2.445,04 pontos, e o Taiex saltou 2,45% em Taiwan, a 16.741,84 pontos.
Na Oceania, a bolsa australiana também ficou no azul, interrompendo uma sequência de cinco pregões negativos. O S&P/ASX 200 teve alta de 0,39% em Sydney, aos 7.489,90 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado