Bolsa fecha em leve alta de 0,05% após Fed minimizar avanço de inflação e sinalizar manutenção dos juros; dólar recua
A Bolsa encerrou o pregão desta quinta-feira, 20, em leve alta de 0,05%, aos 122.700,79 pontos, depois de passar a maior parte do dia em queda….
A Bolsa encerrou o pregão desta quinta-feira, 20, em leve alta de 0,05%, aos 122.700,79 pontos, depois de passar a maior parte do dia em queda. O setor financeiro respondeu positivamente à garantia de manutenção das atuais taxas de juros por parte do Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, que demonstrou tranquilidade em relação à inflação. A Vale e as siderúrgicas, por outro lado, recuaram ainda em virtude das intervenções da China na produção do aço. O dólar caiu 0,73%, cotado a R$ 5,277.
De acordo com o analista da corretora Clear Rafael Ribeiro, o mercado segue processo de reajuste dos papéis da Vale e das siderúrgicas, ainda como resposta às notícias de ontem, de que o governo da China interveio na produção de aço para reduzir a demanda por minério de ferro.
A mineradora viveu dia de perdas: os papéis da mineradora apontavam queda de 1,24%. Na mesma esteira, a Gerdau registrou recuo de 2,73%, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em baixa de 0,33% e Usiminas, de 1,46%.
"O mercado está receoso por conta da possibilidade de novas intervenções do governo chinês para limitar a alta da commodity. A queda não é maior por conta do setor financeiro, porta de entrada dos investidores estrangeiros na bolsa brasileira e que acompanham o bom humor do mercado norte-americano".
Nesta quinta-feira, os papéis do BTG Pactual registraram forte alta na B3. A notícia sobre a possibilidade de compra do grupo Universa, que integra a corretora Vitreo e a Empiricus, levou as ações do banco a valorizarem 3,16%, cotadas a R$ 119,31.
O temor com a inflação americana passou a ser protagonista nos mercados, afirma Júlia Aquino, especialista de investimentos da Rico Investimentos, mesmo sem novidades na ata do Fomc (Copom americano) divulgada ontem.
Na ata da última reunião do comitê divulgada na véspera, os membros do Fomc reafirmaram o que vem sendo dito desde a semana passada, quando o temor com a inflação ficou reforçado, de que a pressão inflacionária por lá é pontual, portanto, passageira.
Apesar da insistência nessa linha de discurso, declarações de alguns participantes da comissão já admitem que poderão ocorrer mudanças na política de compra de ativos, se a inflação permanecer caminhando rapidamente em direção à meta. O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) não mira uma meta formal ao calibrar os juros, mas historicamente ela gira em torno de 2% ao ano.
A compra de ativos faz parte da política de estímulos monetários e fiscais, para o combate aos efeitos deletérios da pandemia na economia. A aquisição tem como consequência a injeção de recursos no sistema para estimular a atividade.
A redução no ritmo de compra de ativos, como sugerem as declarações para os investidores, indicaria que a economia americana não precisa mais de estímulos para crescer e, mais que isso, estaria gerando inflação.
O ponto mais preocupante para o mercado financeiro é que os bancos centrais reagem ao risco inflacionário com elevação da taxa de juros para desaquecer a economia e conter a alta de preços.
Sobe e desce na B3
A Petrobras também lidou com um dia de desvalorização de seus papéis por conta da queda no preço do petróleo. As ações da petroleira obtinham 1,26% de perdas.
Os papéis da Eletrobras iniciaram o pregão em alta, após a notícia de aprovação da medida provisória na Câmara que permite a privatização da companhia. Porém, acabou mudando o sinal e fechou em queda de 2,66%.
Dólar em queda
Refletindo os efeitos da ata do Fomc, o dólar caiu 0,73% nesta quinta-feira. A moeda renovou mínimas intraday pouco tempo depois da abertura aos R$ 5,28. Segundo analistas, foi um movimento rebote à alta registrada na véspera. Após o encerramento das negociações, o dólar estava cotado a R$ 5,277.
Também pesa favoravelmente para ativos brasileiros o recuo dos juros dos Treasuries nos Estados Unidos e a aprovação pela Câmara dos Deputados da Medida Provisória da privatização da Eletrobras.
NY: bolsas em alta
As bolsas de Nova York tiveram alta nesta quinta-feira, dia em que investidores pesaram a ata do Fed e a divulgação dos novos números de pedidos de seguro-desemprego no país, abaixo do volume anterior, o que aponta sinais de retomada econômica para o mercado.
O índice S&P 500 apontou alta de 1,06%, Dow Jones na mesma esteira, com elevação de 0,55% e Nasdaq, com avanço de 1,96%.
De acordo com dados divulgados pelo Departamento do Trabalho nesta manhã, foram solicitados 444 mil benefícios, contra os 478 mil anteriores. A estimativa do mercado era de 450 mil solicitações.
Para analistas do CIBC, a ata do Fed mostrou que alguns dirigentes do Fed estavam percebendo em abril mais pressões inflacionárias do que antes.
No documento, participantes mencionaram os riscos representados pelos gargalos nas cadeias de produção, que desequilibram oferta e demanda. No entanto, o CIBC ressalta que o movimento de alta nos preços ainda foi majoritariamente atribuído a fatores transitórios.
Com a reunião ocorrendo entre os dias 27 e 28 de abril, o documento não refletiu a publicação mais recente do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do país, que registrou avanço forte.
Segundo a ata, os dirigentes da autoridade financeira discutiram a possibilidade de instituir um programa permanente de recompra de ativos (repo).
"Quase todos os dirigentes comentaram que um mecanismo de recompra permanente, agindo como uma barreira, poderia ajudar a lidar com pressões nos mercados de títulos do Tesouro dos EUA e recompra do Tesouro que poderia se espalhar para outros mercados de financiamento e prejudicar a implementação e transmissão da política monetária", destaca o documento.
A avaliação dos dirigentes do Fed é que a instalação de um repo permanente poderia fornecer uma resposta oportuna e automática às pressões do mercado, muitas vezes difíceis de prever.Também foi cogitada a criação de um repo permanente para autoridades monetárias estrangeiras e internacionais.
Seguindo a sugestão das discussões sobre QE, a Oxford Economics prevê que o Fed anunciará os planos de redução das compras de ativos em agosto e começará a diminuir o relaxamento quantitativo (QE) no início de 2022, com alta da taxa básica de juros em 2023.
Segundo a Pantheon Macroeconomics, o movimento não é "surpreendente", ainda que os mercados de ações "não tenham gostado" tendo em vista uma possível retirada de estímulos.
De acordo com o sócio da Wisir Research, Filipe Teixeira, qualquer sugestão de um cronograma para reduzir o estímulo excepcional pode exacerbar a tendência de queda nas ações, embora os legisladores insistam em manter uma posição acomodatícia por um período prolongado.
Eletrobras: privatização aprovada
A privatização da Eletrobras ganhou um novo capítulo. Por 312 votos a favor a 116 contra, a Câmara dos Deputados aprovou durante a noite anterior o texto-base da medida provisória que permite a privatização da companhia estatal.
A proposta autoriza o governo a diluir sua participação na estatal, hoje em torno de 60% para 45%, por meio da oferta de novas ações no mercado. Os deputados analisam agora os “destaques”, que podem alterar o teor da proposta.
Enviado pelo governo em 23 de fevereiro, a proposta é uma das prioridades do Executivo e aposta na área econômica para ampliar investimentos da empresa, que atua no setor de geração e transmissão de energia elétrica. A proposta terá de ser analisada pelo Senado Federal até 22 de junho, quando perde a validade.
A MP foi aprovada sem apoio da oposição e com resistência de partidos da base aliada. Pela manhã, partidos entraram com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar impedir a votação. O líder da oposição, Alessandro Molon, afirmou que a votação era uma afronta à democracia por não ter sido discutida em uma comissão mista, formada por deputados e senadores.
Apesar da negociação do governo com o relator da proposta, deputado Elmar Nascimento, nos últimos dias, a MP foi aprovada com diversos "jabutis", como são chamadas as emendas que mudam o teor do texto do Executivo.
Por meio de um acordo, o deputado chegou a retirar algumas das medidas, mas manteve propostas que terão como consequência o aumento da conta de luz do consumidor final.
CPI da Covid: Pazuello de volta
O mercado financeiro segue atento a mais um dia de trabalhos intensos na CPI da Covid no Senado. Na véspera, o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prestou depoimento ao colegiado e sua participação foi marcada pela tensão. Após passar mal, Pazuello retorna nesta quinta-feira para a continuidade da sabatina no Senado.
Ao longo do primeiro dia, as informações fornecidas pelo ex-ministro da Saúde apresentaram contradição em vários momentos. E o clima esquentou quando o ex-ministro afirmou que só soube do risco de desabastecimento de oxigênio em Manaus no dia 10 de janeiro, data que não coincide com o depoimento dado anteriormente ao Supremo Tribunal Federal (STF).
As respostas de Pazuello sobre a negociação do governo brasileiro para a compra de vacinas da Pfizer culminaram em uma forte discussão entre ele e o relator, Renan Calheiros.
Segundo o ex-ministro, as propostas da Pfizer nunca teriam ficado sem resposta do Ministério da Saúde, informação que não condiz com as informações concedidas pela farmacêutica de que houve sete tentativas de conversa sobre a vacina que ficaram sem retorno do governo.
Segundo Pazuello, foram "inúmeras" vezes que a pasta falou com a farmacêutica. O ex-ministro argumentou que as negociações enfrentaram desafios em razão das cláusulas do contrato e questões logísticas, além do preço.
"Essas discussões nos consumiram em setembro e outubro. De agosto a setembro estávamos discutindo com a Pfizer ininterruptamente", disse Pazuello.
O depoimento da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, que estava marcado para esta quinta-feira, foi remarcado para o próximo dia 25.
Conhecida como “capitã cloroquina”, a secretária chegou a pedir ao STF habeas corpus pelo direito de não se autoincriminar perante a CPI. Porém, o pedido foi negado.
Meio Ambiente: esquema de corrupção
Os investidores mantêm na pauta de atenção a operação da Polícia Federal que aponta o envolvimento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em um suposto esquema de corrupção que atua na exportação ilegal de madeira.
Além de Salles, o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, e a cúpula do órgão são suspeitos de favorecer o contrabando de produtos florestais no País.
As suspeitas, que passam por nove tipo de crimes, atingem em cheio um dos principais auxiliares do presidente Jair Bolsonaro, eleito com a bandeira do combate à corrupção e que costuma repetir não haver irregularidades em seu governo.
Bolsas asiáticas fecham sem sinal único
As bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam sem direção única nesta quinta-feira, após o Japão divulgar robustos dados de exportação, sinalizando recuperação da pandemia de covid-19, e de a China deixar seus juros básicos inalterados pelo 13º mês consecutivo.
Em Tóquio, o índice acionário japonês Nikkei subiu 0,19%, aos 28.098,25 pontos, graças ao bom desempenho do setor de eletrônicos.
Em abril, as exportações do Japão deram salto anual de 38%, impulsionadas pela demanda dos EUA e da China, segundo dados do Ministério de Finanças do país.
Já os mercados de Hong Kong e da Coreia do Sul, que voltaram de feriados, ficaram no vermelho. O Hang Seng caiu 0,50% em Hong Kong, aos 28.450,29 pontos, e o sul-coreano Kospi recuou 0,34% em Seul, aos 3.162,28 pontos.
Na China continental, o Xangai Composto teve leve baixa de 0,11%, a 3.506,94 pontos, mas o menos abrangente Shenzhen Composto apresentou ligeiro ganho de 0,12%, a 2.330,36 pontos.
Como se previa, o banco central chinês (PBoC) manteve suas taxas de juros de referência para empréstimos de curto e longo prazos, conhecidas como LPRs, pelo 13º mês seguido. A LPR de um ano permaneceu em 3,85% e a de cinco anos ficou em 4,65%.
O comportamento misto das bolsas asiáticas veio também após as bolsas de Nova York caírem pelo terceiro dia consecutivo, com a sinalização do Fed de que pode começar a debater a redução de compras de ativos nas próximas reuniões de política monetária.
Na Oceania, a bolsa australiana se recuperou parcialmente das perdas da quarta-feira, com valorização em quase todos os setores. O S&P/ASX 200 avançou 1,27% em Sydney, a 7.019,60 pontos, após cair 1,90% no pregão anterior. / com Júlia Zillig e Tom Morooka