Mercado acionário: Tamanho importa? Entenda o fator size
Calma, calma, não é isso que você está pensando. No artigo de hoje vamos falar de um dos fatores mais estudados no mundo financeiro, seja na…
Calma, calma, não é isso que você está pensando.
No artigo de hoje vamos falar de um dos fatores mais estudados no mundo financeiro, seja na academia, seja nas gestoras: o tamanho, ou melhor dizendo, o Size.
Como assim?
Bem, na literatura financeira, o Size é o fator de investimento que leva em conta o chamado market cap da empresa que representa aquela ação, ou seja, uma representação do seu valor de mercado.
Há um crescente interesse em encontrar padrões nos mercados, sobretudo agora que temos uma grande força computacional, que facilita as simulações e os chamados backtests (quando você avalia como uma estratégia teria se comportado ao longo do tempo utilizando os dados passados).
Dessa forma, será que o valor de mercado de uma empresa poderia ter alguma influência na hora de montar a sua carteira?
O fator Size
A ideia básica foi explorada pelos ganhadores do Nobel de Economia Eugene Fama e Kenneth French em 1992 no seminal artigo “The Cross-Section of Expected Stock Returns”, mas já havia sido introduzida anteriormente por Rolf Banz em 1981.
A grosso modo, a conclusão era que empresas listadas em bolsa e que são consideradas Small e Mid Caps (pequenas ou de tamanho médio, em termos de market cap), tendiam a superar a performance das Large Caps, ou seja, das grandes empresas.
De certa forma, alega-se que as pequenas empresas têm melhores perspectivas de crescimento do que as grandes empresas que já estão bem estabelecidas em seu mercado. Faz sentido, não?
Ainda assim, é interessante fazermos uma ressalva: o economista e investidor americano Burton Malkiel, em seu interessante livro “A Random Walk Down Wall Street” questiona se de fato as Small e Mid Caps superam a performance das empresas maiores.
Segundo o autor, seria necessário controlar os retornos desses tipos de ações pelo seu risco, ou seja, após esse controle é possível que o retorno não seja tão maior assim na comparação com as Large Caps.
Outro ponto que o autor coloca é uma questão de sobrevivência. Quantas empresas menores podem ter ficado pelo caminho e não contam a história? No geral acabamos memorizando apenas as grandes empresas que encerram suas atividades ou saem da bolsa.
O fator Size tem efeito no Brasil?
Será que é possível aproveitar essa tendência de maior performance das empresas com menor market cap aqui no Brasil?
Bom, podemos transportar essas ideias para cá e verificar o que teria acontecido caso utilizássemos uma estratégia de investimento simples, baseado apenas nos tamanhos da empresa.
Seguindo os estudos propostos pelo NEFIN, a ideia é justamente comparar 3 carteiras diferentes com ações brasileiras.
O objetivo é que em todo mês de janeiro as ações com mais de R$ 500 mil em volume de negócios por dia durante o ano anterior sejam listadas e ranqueadas de acordo com o seu tamanho de mercado.
Ai já temos uma lista boa de empresas.
Feito isso, elas são divididas em 3 grupos para justamente formar as três carteiras. Um grupo com o terço das maiores empresas, outro com as empresas médias e o último terço com as empresas de menor tamanho de mercado.
Portanto, essas carteiras são rebalanceadas todo início de ano, e seus retornos foram calculadas desde 2001. Abaixo podemos ver justamente o seu resultado.
Antes de tirarmos uma conclusão, vale lembrar que as carteiras acima possuem ações igualmente distribuídas, ou seja, elas têm o mesmo peso dentro da carteira.
Nesse exercício, a estratégia utilizando carteira com as Small Caps teria colocado uma boa grana no seu bolso até 2013, mas a partir de então o resultado não seria mais tão vantajoso como antes.
O motivo? Bom, tivemos apenas a maior crise da nossa história no meio do caminho, se lembra? Possivelmente isso tenha grande influência nessa trajetória.
Mas e se o peso de cada ação na carteira for justamente ponderado pelo seu valor de mercado?
Em outras palavras, vamos dar mais peso dentro de cada carteira para aquelas empresas que tem maior valor de mercado. Isso mesmo dentro da carteira das consideradas Small Caps.
O resultado mostraria justamente o efeito Size, com a carteira recheada de empresas de menor market cap “ganhando” no retorno acumulado histórico daquelas com maior valor de mercado.
Talvez você tenha percebido que a análise está indo apenas até 2018, certo?
Mas e 2019 e 2020?
Separei o ano de 2019 e 2020 para vermos justamente como essas carteiras se comportam em um ano de forte Bull Market e depois outro ano de forte crise por conta da pandemia.
Perceba como fica um pouco mais clara a ideia de Burton Malkiel citado no começo do artigo. As carteiras com ações de menor market cap são, no geral, mais arriscadas e com maior volatilidade.
Desta forma, elas se beneficiam da bonança, mas sofrem muito mais na crise.
Apesar de registrarem retornos muito próximos no final do período analisado, cabe notar que o retorno acumulado das Small Caps diminuiu de um patamar muito maior que os da Large Caps.
Ou seja, o tombo foi maior.
Enquanto as primeiras acumulavam próximo de 70% no início do ano, a segunda carteira estava em um patamar muito mais tímido, de 32%.
Na linguagem financeira, nós dizemos que essas ações justamente têm um Beta maior, ou seja, elas são muito mais sensíveis aos ânimos do mercado.
Isso impacta na avaliação de gestão?
Aqui no Brasil esse tipo de análise ainda tem relativamente pouca força, mas nos Estados Unidos existem alguns investidores que são até mais rigorosos em relação a esse fator.
Segundo esse grupo, os gestores não deveriam ser pesadamente remunerados por estratégias que se valessem do fator Size, pois seriam quase como um almoço grátis, algo replicável e que não necessariamente demonstra uma maior habilidade do gestor.
Na prática é um pouco mais complicado, pois nem todos os investidores conseguem ou desejam se valer de estratégias que se baseiam em fatores como o Size, além de outros fatores (como Qualidade, Valor, Momentum e Volatilidade).
Além disso, há gestores que conseguem tirar o melhor desses fatores, algo que não é facilmente replicável e que os investidores no geral não conseguem. E isso obviamente tem que ser remunerado.
Conclusão
Os investidores se deparam cada vez mais com estratégias e formas diferente de analisar suas carteiras de investimento, sobretudo quando envolve renda variável.
Inclusive, se você ficou curioso(a) para entender ainda mais sobre o mundo da renda variável, temos um conteúdo exclusivo para você: o treinamento descomplicando a bolsa de valores. Aproveita para conferir, aqui.
As Small Caps estão cada vez mais caindo no “gosto popular” justamente pela chance de retornos maiores ao longo do tempo.
Apesar de ser verdade, é preciso lembrar que esse retorno está vindo acompanhado também de um risco maior, seja ele pela maior volatilidade ou até pela menor liquidez das negociações.
Ainda assim, você percebeu como uma estratégia bastante simples envolvendo rebalanceamentos constantes todo início de ano teria proporcionado retornos interessantes num prazo mais longo? Claro, é preciso também ter um pouco mais de estomago e perfil para suportar a maior volatilidade.