José Mauro Coelho sai da presidência da Petrobras e Fernando Borges assume; entenda o que está por trás da mudança
Saída era esperada por pressão política contra a alta dos preços dos combustíveis
Depois de o governo aumentar a pressão, o presidente demissionário da Petrobras, José Mauro Coelho, pediu para deixar o cargo na manhã desta segunda-feira, 20, segundo informação da empresa ao mercado e conforme tinha sido antecipado por fontes próximas ao executivo no fim de semana.
A Petrobras já informou que o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Fernando Borges, ficará como presidente interino da estatal após a saída de José Mauro Coelho, com as pressões de parte do governo e dos seus aliados. As negociações com as ações da empresa estão suspensas no pregão de hoje.
Agora, o Conselho de Administração da empresa terá que se reunir para nomear o indicado do governo, Caio Paes de Andrade, como membro do Conselho para que ele possa assumir a presidência e promover mudanças na diretoria, como quer o presidente Jair Bolsonaro.
Demissão era esperada
Segundo analistas da CM Capital, esse movimento já era mesmo esperado e a saída está sendo anunciada no mesmo dia em que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fará uma reunião com líderes partidários para tratar de um possível texto para mexer na política de preços da Petrobras. Lira disse que "chegou a hora da verdade".
Os analistas destacam que o partido, o PP, de forma geral, é quem mais tem pressionado a cúpula da Petrobras, inclusive com falas fortes também do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
O partido pode ser beneficiado por modificações nas regras para indicações a cargos na petroleira, caso haja alterações na Lei das Estatais. Colocar a Petrobras contra a parede, com críticas públicas e até uma ameaça de CPI, pode favorecer esse grupo, segundo os especialistas da CM.
Veja a retrospectiva
No dia 23 de maio, foi formalizada a demissão do terceiro presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, no governo de Jair Bolsonaro. O presidente demitiu Coelho após pouco mais de 40 dias no cargo e o principal nome cotado para substituí-lo é Caio Paes de Andrade.
A troca de comando do Ministério de Minas e Energia, com a escolha de Adolfo Sachsida para substituir Bento Albuquerque, levou a mudanças na diretoria estatal. Bento foi demitido após a Petrobras ter aumentado o preço do diesel dias depois de o presidente pedir ao ex-ministro e a Coelho que não aumentassem o preço durante uma transmissão nas redes sociais.
Ao escolher Sachsida, ex-secretário do ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro cobrou mudanças na postura da empresa. O presidente não concorda que a petroleira tenha lucro bilionário e não possa dar uma "trégua" nos reajustes durante a guerra da Rússia e Ucrânia, período de alta volatilidade dos preços internacionais. Bolsonaro quer que as movimentações sejam feitas em espaço de tempo maior.
Coelho é o terceiro presidente da Petrobras a ser demitido no governo Bolsonaro e foi escolha de Bento depois que dois nomes foram descartados - Adriano Pires e Rodolfo Landim - por conflitos de interesse com a indústria de óleo e gás. Foi Bento que fez a negociação e bancou o nome de Coelho depois de barrar a indicação de Caio Paes de Andrade.
Insatisfação de Bolsonaro com a Petrobras
Com o preço alto dos combustíveis e de energia elétrica ameaçando sua reeleição, Bolsonaro vem demonstrando insatisfação em relação à gestão de Coelho à frente da Petrobras. Neste mês, disse que que a petroleira está "gordíssima, obesa", em referência ao lucro da estatal de R$ 44,56 bilhões no primeiro trimestre do ano.
Com novo presidente, Petrobras terá também novos membros no Conselho.
A Petrobras informou no final da noite que, se a demissão de José Mauro Coelho da presidência da companhia for aprovada em Assembleia Geral Extraordinária (AGE), ocorrerá a destituição de todos os membros do Conselho eleitos como ele, por meio do voto múltiplo. A estatal terá, assim, de realizar uma nova eleição para esses cargos.
Em fato relevante, a Petrobras informou que o Ministério de Minas e Energia enviou ofício à empresa solicitando a convocação de uma AGE para destituir Coelho e eleger Caio Paes de Andrade como membro do Conselho de Administração da companhia.
Segundo a Petrobras, o ministério solicitou que a avaliação do nome de Andrade pelo Conselho ocorra após a realização da AGE. / Com Agência Estado