IGP-M desacelera (forte) para 0,60% em junho, mas em 12 meses alta ainda é de 35,75%
Apesar da queda, índice acumula alta de 15,08% ao ano, o que pode não ser uma boa notícia para o investidor
O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), considerado a inflação do aluguel, subiu 0,60% em junho ante 4,10% no mês anterior. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) nesta terça-feira, 29.
Os dados vieram abaixo das expectativas dos analistas, que esperavam uma alta em torno de 1%. Porém, para o investidor, não se pode dizer que a onda de queda surfada pelo IGP-M em junho represente uma boa notícia – o índice acumula alta de 15,08% no ano.
A inflação alta empurra o Banco Central a aumentar a taxa de juros do País, o que reduz a atratividade da renda variável em comparação à renda fixa.
No resultado de 12 meses, o IGP-M acumula alta de 35,75%. Em junho do ano anterior, o índice havia subido 1,56% e acumulava alta de 7,31% em 12 meses.
IPA
O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) variou 0,42% em junho, contra 5,23% em maio. Na análise por estágios de processamento, a taxa do grupo Bens Finais variou 1,32% em junho. No mês anterior, o índice havia registrado alta de 1,59%.
A principal contribuição para o IPA de junho partiu do subgrupo alimentos processados, cuja taxa passou de 2,98% para 2,45%, no mesmo período.
A taxa do grupo Bens Intermediários ficou em 1,78% em junho ante 2,59% em maio. O principal subgrupo que influenciou este movimento foi o de materiais e componentes para manufatura, cujo percentual passou de 3,32%, em maio, para 1,71% em junho.
O estágio das Matérias-Primas Brutas caiu 1,28% em junho, após subir 10,15% em maio. Contribuíram para o recuo da taxa do grupo os seguintes itens: minério de ferro (20,64% para -3,04%), soja em grão (3,74% para -4,71%) e milho em grão (10,48% para -5,50%). Em sentido oposto, destacam-se os itens leite in natura (1,24% para 6,20%), bovinos (0,41% para 1,19%) e aves (3,82% para 4,96%).
“A combinação de valorização do real com o recuo dos preços em dólar de commodities importantes fez o grupo matérias-primas brutas do IPA cair 1,28% em junho, ante alta de 10,15% no mês passado. Com este movimento, a taxa do IPA registrou expressiva desaceleração fechando o mês com alta de 0,42%”, afirma André Braz, Coordenador dos Índices de Preços.
Preços
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 0,57% em junho, ante 0,61% em maio. Cinco das oito classes de despesa componentes do índice registraram decréscimo em suas taxas de variação. A principal contribuição partiu do grupo Saúde e Cuidados Pessoais (0,89% para 0,07%). Nesta classe de despesa, vale citar o comportamento do item medicamentos em geral, cuja taxa passou de 2,39% em maio para 0,62% em junho.
Também apresentaram decréscimo em suas taxas de variação os grupos Comunicação (0,67% para -0,03%), Habitação (1,16% para 1,10%), Educação, Leitura e Recreação (-0,59% para -0,69%) e Vestuário (0,45% para 0,40%). Nestas classes de despesa, vale mencionar os seguintes itens: combo de telefonia, internet e TV por assinatura (1,35% para -0,03%), tarifa de eletricidade residencial (4,38% para 3,30%), boneca (1,40% para -0,41%) e calçados (0,57% para -0,02%).
Em contrapartida, os grupos Transportes (0,75% para 1,43%) e Despesas Diversas (0,19% para 0,29%) registraram acréscimo em suas taxas de variação. Nestas classes de despesa, destacam-se os seguintes itens: gasolina (1,03% para 2,72%) e alimentos para animais domésticos (1,02% para 2,60%).
Já o grupo Alimentação subiu 0,31% em junho, repetindo a taxa apurada no mês anterior. Nesta classe de despesa, destacam-se os itens laticínios (0,15% para 1,86%), em sentido ascendente e hortaliças e legumes (0,43% para -4,06%), em sentido oposto.
Construção civil
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 2,30% em junho, ante 1,80% no mês anterior. Os três grupos componentes do INCC registraram as seguintes variações na passagem de maio para junho: Materiais e Equipamentos (2,93% para 1,75%), Serviços (0,95% para 1,19%) e Mão de Obra (0,99% para 2,98%).
O que pensam os analistas
Para o economista-chefe da Necton, André Perfeito, o responsável pela queda no IGP-M foi a deflação no IPA, que envolve as commoditites. “Esta é uma boa notícia no dia em que devemos ver um aumento na bandeira vermelha da energia elétrica e pode reverter em parte o mau humor na curva de juros”, ressalta.
Contudo, Perfeito relembra que ainda o IGP-M está rodando em 12 meses “em nada menos que 35,75% e o IPA com alta de 47,53%”.
A economista da XP, Tatiana Nogueira, ressalta que apesar da desaceleração, os preços dos bens industriais seguem em campo positivo. “Os aumentos recentes dos preços aos produtos ainda serão repassados ao consumidor no curto prazo. Para o IPCA, projetamos alta de 0,60% em junho e 6,2% no fim do ano”.
Segundo André Perfeito, a gasolina e a energia elétrica foram os “vilões” do aumento do IPC em junho.
A Necton mantém sua projeção de alta de 100 pontos base na Selic, taxa básica de juros do País, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. “Projetamos que a taxa básica chegue a 6,5%”, reforça Perfeito.
“A Selic não é dança da chuva. Logo que venha uma alta relevante de energia elétrica, o BC irá trabalhar a questão como um choque temporário”, destaca.