Finanças Pessoais

Ficar rico investindo: É realmente possível?

Com as facilidades da tecnologia, existe uma ideia equivocada de que basta se “plugar” a uma plataforma para que o dinheiro entre automaticamente na conta. Mais ou…

Data de publicação:19/11/2019 às 11:41 - Atualizado 4 anos atrás
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Com as facilidades da tecnologia, existe uma ideia equivocada de que basta se “plugar” a uma plataforma para que o dinheiro entre automaticamente na conta. Mais ou menos com um jogo, tudo se resume a atravessar algumas “fases” para que as “moedinhas” se acumulem no “placar”.

Isso seria perfeito, não fosse o fato da vida não funcionar dessa forma. Apesar de hoje existir “app” para tudo, ninguém ainda desenvolveu um para ganhar dinheiro, infelizmente.

Fique rico já

Essa e outras frases, todas ligadas ao desejo de independência financeira, são a isca ideal para as pirâmides financeiras. Elas se propagam conforme aumenta o índice de desemprego, situação em que é mais comum as pessoas enfrentarem problemas financeiros.

E não poupam ninguém. Atraem desde quem está desesperado até aquele que entende do assunto, mas está insatisfeito com o retorno dos seus investimentos.

Isso porque o investidor (ou vítima, dependendo de onde a pessoa se encontra no esquema) realmente recebe os primeiros retornos prometidos. Ao ver a riqueza de forma tão rápida e palpável, toma decisões no mínimo irracionais, como vender bens para aumentar o seu “investimento” ou chamar outros membros da família para participar.

De repente, o vizinho, o chefe e até o caixa do supermercado estão falando dos ganhos que obtiveram. Não é difícil de imaginar como termina essa brincadeira.

Com a popularidade da internet, onipresente e onisciente, o que chama mais a atenção é que tudo começa com uma câmera, um discurso improvisado e um “clique aqui”.  

Toda hora o personagem muda, mas o fato é que nem quem está gravando os vídeos e nem quem está assistindo sabe o que está acontecendo. Basta um dia positivo no mercado financeiro e mais vídeos são colocados no ar.

Olhando quem já chegou lá e ficou rico

Luiz Alves Paes de Barros, Luiz Barsi e Lirio Parisotto são pessoas que acumularam bastante patrimônio. Em comum, todos trabalharam bastante, ganharam dinheiro, aprenderam a investir e só depois de persistir nessa estratégia é que formaram riqueza.

Percebe-se então que nenhum deles seguiu uma fórmula mágica ou tinha talento de gestor de hedge fund.

Isso quer dizer que qualquer um pode construir a sua própria fortuna.

Por mais que a realidade do país seja diferente hoje, nada impede que se siga algumas dicas para essa árdua tarefa.

São elas:

A fonte de renda

A famosa frase “arrume um emprego” ainda pode ser ouvida de pessoas de mais idade mas, convenhamos, as coisas não estão nada fáceis.

Em cenários econômicos atípicos como o que estamos vivendo, a solução se resume a uma única palavra, vista com bastante frequência nos sites em inglês: resourcefulness. Traduzindo para o português, seria algo como não se atrapalhar diante das dificuldades da vida. Ou seja, todo mundo faz o seu melhor com aquilo que possui.

O smartphone, aquele dos joguinhos e dos sites que prometem riqueza fácil, é também uma ferramenta de produtividade e de trabalho. No que ele pode ajudar nesse sentido? Cabe a cada um avaliar o tempo que tem disponível e o que pode fazer como atividade remunerada.

Sem uma fonte de renda inicial, nada feito.

Portanto, empenho é fundamental. Dominar uma área só vem depois de muito treino e disciplina. Isso é o que mostra a “teoria das 10.000 horas”, descrita no livro “Fora de Série – Outliers”, de Malcolm Gladwell.

O preparo

A intenção desse artigo não é fornecer coaching para ninguém mas uma coisa é fato: quem não está preparado para levar a vida que quer, é levado para a vida que os outros querem.

Para quem não quer seguir por esse caminho, a melhor atitude é mudar de rota. O excelente livro “O Poder do Hábito”, de Charles Duhigg, mostra como somos o resultado dos nossos hábitos.

A regra dos 20%

Enquanto se forma a carteira de clientes, os custos da atividade escolhida devem ser mínimos. O importante é fazer sobrar sempre, por um simples motivo: só faz fortuna quem investe, no mínimo, 20% da renda.

Isso é o dobro dos 10% que todo mundo usa como referência.

O plano para a riqueza

Como se fica rico investindo? Cuidando do que é importante e esquecendo tudo aquilo que é postado nas redes sociais como exemplo de pessoas bem-sucedidas.

Apesar da educação financeira não ter nada de glamoroso, ela funciona muito bem:

Rico investindo: a reserva

A vida é uma maratona e não uma corrida de 100 metros.

Uma reserva de emergência é justamente para facilitar o percurso e evitar o acúmulo de dívidas. Uma aplicação automática, no primeiro dia do mês, deve ter por objetivo garantir uma reserva mínima que cubra 6 meses de despesas fixas.

Rico investindo: o ofício

Para quem usa um equipamento específico para trabalhar, é preciso formar uma reserva para quando chegar a época de trocá-lo. Quem tem esse cuidado continuará atendendo bem a sua clientela e comprando o que precisa à vista, garantindo um excelente retorno.

O mesmo se aplica aos smartphones e computadores, sem os quais simplesmente “não existimos”.

Rico investindo: o aperfeiçoamento

Ninguém continua por muito tempo em um mercado sem se atualizar. Os cursos devem fazer parte dos planos de todos. Cursos específicos em uma área, diga-se de passagem, e não aqueles que prometem a riqueza por meio de um conteúdo online qualquer.

Os cursos a distância crescem justamente porque são mais acessíveis, interativos e dão liberdade para o aluno estudar de acordo com a sua disponibilidade.

Rico investindo: A proteção

Seguros que garantam uma renda quando não houver a possibilidade de se trabalhar ou que deem proteção aos ativos mais valiosos são imprescindíveis. O mutualismo foi testado ao longo dos séculos para que ninguém literalmente se arrebente tentando se recuperar sozinho.

Ao contrário do passado, quando os seguros contemplavam uma infinidade de coberturas, hoje as insurtechs (as startups de seguros) permitem uma contratação bastante transparente. E tudo pode ser feito pelo smartphone. Sim, o mesmo que é usado para trabalhar, se informar e se divertir.

Rico investindo: os impostos

Ninguém aumenta o patrimônio se for complacente nesse ponto. Boa parte das pessoas nem contempla o impacto da tributação em um período de 15 anos ou mais.

Isso afeta todos os tipos de atividade, como fica evidente nos exemplos abaixo:

  • Negócio próprio: se ele cresceu, é o caso de se buscar uma assessoria jurídica para enquadrá-lo em outro regime tributário;
  • Carteira de imóveis: se ela ganhou porte, então chegou o momento de coloca-la dentro da estrutura de uma empresa imobiliária ou de vender uma parte dos ativos para investir em fundos imobiliários, produtos cujos rendimentos mensais são isentos de imposto de renda;
  • Carteira de investimentos: se ela ficou grande e complexa, deve-se avaliar a viabilidade de um fundo exclusivo para que a tributação só ocorra nos saques, eliminando o efeito do “come-cotas” aplicável aos fundos de varejo e o pagamento de impostos a cada mudança na composição da carteira.

Rico investindo: os juros compostos

A maior invenção da humanidade, de acordo com Albert Einstein, o efeito dos juros sobre os juros só funciona no longo prazo, ou seja, desde que se faça tudo o que foi apresentado até aqui.

Portanto, quanto mais tempo, melhor. Nem preciso dizer que com as taxas de juros em níveis tão baixos, todos deveriam ter começado no início do ano, quando aquela lista de resoluções de ano novo ainda estava fresca na cabeça de cada um.

Conclusão

Não existem atalhos para a riqueza.

Até mesmo os maiores investidores da bolsa seguiram o caminho dos simples mortais: trabalharam, juntaram dinheiro, aprenderam sobre o mercado financeiro e investiram sistematicamente por décadas.

Hoje não existe mais a possibilidade de se contar com um “bom emprego” para o resto da vida então cada um deve procurar naquilo que faz bem a sua fonte de renda. É por meio dela que se inicia a construção de qualquer patrimônio.

Isso explica porque é tão importante a dedicação. O reconhecimento (e os lucros) de um trabalho bem feito só vem com o tempo, motivo pelo qual a maioria das pessoas procura pelos caminhos mais fáceis, entre eles os esquemas de pirâmides financeiras.

Muita gente se perde no meio do caminho só pelo fato de não ter o hábito de poupar. Guardar 10% da renda apenas garante o poder de compra ao longo do tempo. Para qualquer um se tornar rico, o mínimo necessário é de 20%.

A partir desse ponto, basta seguir os principais conceitos de educação financeira. Começando com a formação de uma reserva de emergência, com a mesma disciplina com que se paga as principais contas do mês.

A mesma atenção deve ser dada aos equipamentos de trabalho e ao aperfeiçoamento profissional, visto que manterão a principal fonte de renda enquanto o patrimônio ainda não está constituído. Para os bens que já fazem parte dele, os seguros são fundamentais para se evitar grandes perdas.

O impacto dos impostos no longo prazo não pode ser menosprezado. Novos formatos permitem a eficiência tributária, independentemente de como a renda é gerada ou do tamanho do patrimônio.

Os juros compostos, que os outros chamam de “sorte”, só trabalham se cada um trabalhar. Quanto mais cedo se inicia, mais a sorte estará trabalhando. Ao contrário do que todo mundo imagina, a riqueza não pode ser encontrada em qualquer lotérica, site ou curso online. Ela está dentro de cada um de nós.

Para terminar, fica a frase de um dos maiores entendidos no assunto:

“O que vai gerar a riqueza das nações é o fato de cada indivíduo procurar o seu desenvolvimento e crescimento econômico pessoal.”

Adam Smith
Sobre o autor
Nohad HaratiPossui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.
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