Economia

Fed aumenta os juros americanos em 0,75 ponto porcentual, mas sinaliza que próximos reajustes podem ser menores

Mercado está dividido sobre aumento da taxa na reunião de dezembro, se 0,25 ou 0,50 pp

Data de publicação:02/11/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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O Comitê de Mercado Aberto (Fomc), do Federal Reserve (Fed, banco central americano), elevou a taxa de juro básica da economia americana em 0,75 ponto porcentual nesta quarta-feira, 2, feriado de Finados no Brasil e a bolsa não abre.  Mas sinalizou que os próximos ajustes poderão ser menores.

A alta de 0,75 ponto no juro, idêntica à das três últimas reuniões do Fed, que coloca a taxa entre 3,75% e 4,0% ao ano, é a ferramenta das autoridades monetárias para o combate ao que o banco central americano considera a pior inflação dos EUA em décadas.

A alta de 0,75% é idêntica à das 3 últimas reuniões do Fed - Foto: Reprodução

Se o ajuste não trouxe nenhuma surpresa às expectativas de investidores e gestores, a aposta para a reunião seguinte, em dezembro, divide opiniões e acirra o interesse do mercado. Parte de analistas espera um aumento menor, entre 0,25 e 0,50 ponto porcentual, na última reunião de política monetária do Fed no ano. Percepção que foi ratificada no comunicado do Fomc emitido logo após o término da reunião desta quarta-feira.

Nele, o Fed sinalizou que aumentos futuros nos custos de empréstimos podem ser feitos em valores menores, mas que seu principal objetivo é deixar a taxa dos Fed Funds em nível "suficientemente restritiva para retornar a inflação a 2 % ao longo do tempo.

Já Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos, prevê nova alta de 0,75 ponto em dezembro. “O mercado espera aumento menor em dezembro, mas ainda é cedo para isso”, avalia.

O motivo, aponta, é que “a inflação está disseminada, a pressão sobre os preços, pelo núcleo do CPI (índice de preços ao consumidor), está forte e vai além de alimentos e energia”, destaca Bertotti. Ele cita ainda o mercado de trabalho aquecido, “com a oferta de empregos acima das expectativas, uma indicação de mercado de trabalho bastante forte”.

Fabio Feres, especialista em análise macro da Quantzed, acredita que o Fed vai continuar com um discurso de tom duro em relação à inflação”. Ou nem tanto. É possível que mescle a mensagem também com uma sinalização de que já consegue ver uma diminuição da pressão sobre os preços e a inflação provavelmente no pico, com o preço de petróleo mais comportado.

Nesse cenário, avalia Feres, o Fed poderia indicar que seria possível diminuir o ritmo de alta dos juros, em função dos aumentos já dados, “porque a transmissão dos efeitos da alta dos juros para a economia demora em média nove meses nos Estados Unidos”, explica.

“Isso não significa que o Fed vai deixar de subir ou parar de subir os juros, apenas que vai continuar combatendo a inflação, porém com um ritmo de alta menor a partir de dezembro”, reforça. O especialista da Quantzed prevê uma taxa de juros terminal de 5% ao ano, no fim do atual ciclo de elevação, em março de 2023. O juro de curto prazo americano, a taxa dos Fed Funds, equivalente à Selic brasileira, está em 3,25% ao ano.

Especialistas de mercado não esperam impacto da decisão do Fed sobre os ativos brasileiros, na volta dos negócios após o feriado, na quinta-feira, 3. A menos que a decisão ou o tom dos pronunciamentos do comitê seja muito diferente do esperado pelo mercado, avaliam analistas.

Fatores que devem mexer com o mercado aqui

Bertotti, economista da Messem Investimentos, entende que o mercado vai continuar monitorando os possíveis ruídos políticos, como rescaldo das eleições presidenciais, atento à montagem da equipe econômica do novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva

“O presidente eleito vai ter de agir rápido, na formação da equipe econômica e apresentação de propostas, aberto ao diálogo, tocar a agenda reformista e conciliar a âncora fiscal com o atendimento das promessas sociais de campanha”, enumera. “Uma tarefa nada fácil espera o presidente eleito, sob o olhar atento do mercado.”

Pelo lado externo, o economista afirma que o mercado financeiro pode reagir positivamente à possível redução de restrições impostas pela política de covid zero na China. E também, com bom ou mau humor, à decisão e ao tom do comunicado do Fed nesta quarta-feira.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.