Economia

O que esperar da Economia em 2018?

Finalmente estamos no ano que promete ser um dos mais agitados na história do país e você, investidor, começa a se perguntar quais serão os investimentos.

Data de publicação:23/01/2018 às 11:54 - Atualizado 2 anos atrás
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Finalmente estamos no ano que promete ser um dos mais agitados na história do país e você, investidor, começa a se perguntar quais serão os investimentos mais interessantes para 2018.

Bom, um ano tão importante como este trará boas oportunidade e será muito interessante para aqueles que tem um perfil mais arrojada. Ainda assim, é importante redobrar a atenção no noticiário econômico e eleitoral.

Vamos desmiuçar aqui o que esperar para a economia em 2018 no Brasil e seus impactos em alguns ativos importantes que devemos monitorar.

1. Economia em 2018 no Brasil: Retomada da atividade doméstica

Após mais de dois anos em recessão, a economia brasileira finalmente voltou a respirar ao longo de 2017. A nova equipe econômica garantiu a retomada da credibilidade das políticas econômicas do governo perante ao mercado, além de apresentar um maior poder de governabilidade.

Esta mudança resultou em grandes conquistas no ano passado, como: menor taxa de inflação (IPCA) deste século, fechando o ano em 2,95%; o menor nível da Taxa SELIC (7,00%); e retomada do crescimento do PIB, que deve ter aumentado em torno de 1,0% em 2017 (saberemos em março!)

O cenário permanecerá muito positivo este ano, com a economia em 2018 crescendo em torno dos 3,0% no Brasil. É possível antecipar isto por que uma porção de variáveis macroeconômicas que acompanhamos está melhorando muito! Elas servem como um termômetro para medir a temperatura da economia.

Vale a pena nós destacarmos a melhora do consumo das famílias brasileiras, que é um canal muito importante para a retomada da nossa economia, amplamente baseada no consumo.

O mercado de trabalho voltou a contratar, o que mostra a confiança dos empresários na retomada de suas atividades, e com isso voltamos a apresentar um maior crescimento dos salários (quase 3%, conforme o Banco Central). Por conta disso, a taxa de desemprego mudou sua trajetória e começou a cair, devendo encerrar 2018 próximo aos 11%.

Em tempos de crise, as pessoas costumam consumir menos, mesmo que estejam empregadas. O medo do desemprego atinge a confiança do consumidor, que começa a se comportar quase como um desempregado – racionando custos.

Com a melhora da economia em 2018, as pessoas perdem o medo e voltam a consumir mais tranquilas, além de outras que conseguem voltar a trabalhar.

Somando a melhora do consumo, temos outra notícia muito positiva: a redução das taxas de juros, com destaque para a Selic. Os juros estão sendo reduzidos desde 2016, mas foi no ano de 2017 que tivemos o maior número de cortes.

O efeito positivo da queda dos juros não é imediato, há uma defasagem por que a maioria dos créditos já estão dados em uma taxa fixada anteriormente. Dessa forma, a maior parte do impacto positivo da redução do juro será sentida ao longo de 2018. Devemos lembrar também que pode acontecer novas reduções neste ano.

Esse é mais um ponto favorável ao consumo: teremos um menor comprometimento da renda das famílias com pagamentos de juros de suas dívidas e amortizações.

Portanto, devemos ver com facilidade o Consumo das Familiais aumentarem 4,5% neste ano, o que terá uma influência muito boa na evolução de ações domésticas ligadas ao consumo. E falando em Taxa SELIC, é sempre bom lembrar que sua queda também diminui bastante a rentabilidade da Poupança. Fuja dela!

O mesmo acontece com outros títulos de renda fixa, como os próprios Títulos Públicos e outros investimentos indexados ao CDI. Por isso uma saída interessante pode ser através dos Fundos de Investimentos. Se não sabe como investir nessa modalidade, vale a pena conferir esses 7 indicadores para identificar os melhores fundos que foram apresentados aqui no Mais Retorno.

Mas não são apenas as famílias que estão se beneficiando desta retomada. Um importante segmento também vem mostrando maior vigor: a Indústria.

Após três anos seguidos com produção em queda livre, a indústria brasileira voltou a crescer em 2017 e pode atingir um aumento de 3,0% em sua produção neste ano.

Podemos esperar aumento da produção por conta de dois fatores: a já citada queda da taxa de juros e retomada das exportações. Em 2017, felizmente tivemos o aumento de vendas para importantes parceiros como Argentina e Estados Unidos e isso ajudou na recuperação da confiança dos empresários.

A confiança dos empresários é um ótimo instrumento que temos para avaliar o seu humor e, portanto, se pretendem produzir mais, comprar mais insumos, contratar mais pessoas e etc.

A forma mais direta de mensurar isso são através de índices de confiança, com destaque para aquele elaborada pelo IBRE/FGV. O Índice de Confiança do Empresários da FGV, que chegou a atingir 70,4 pontos em abril de 2016 chegou a em 93,1 ponto em dezembro de 2017, uma melhora de mais de 30%!

O mais importante é que essa melhora na atividade industrial está sendo bem disseminada entre seus segmentos. São quatro grandes segmentos: a Indústria de Transformação, a Extrativa Mineral, a de Construção Civil e a de Serviços Indústria de Utilidade Pública, e todos deverão apresentar crescimento de sua produção esse ano.

Desta forma, é recomendável monitorar de perto os ativos das empresas destes ramos, que são muito correlacionados entre si e que deverão trazer bom retorno frente essa retomada do setor.

Precisamos falar de uma outra parte da economia em 2018: o Governo. O setor público brasileiro continuará consumindo pouco este ano, continuando seu esforço para economizar e voltar a apresentar os chamados superávits primários (grosso modo, é quando sua receita é maior que suas despesas primárias).

É comum em ano de eleições acontecer o aumento dos gastos do setor público, o que não deve acontecer na mesma intensidade nesse ano. Dentre algumas novidades, a situação complicada das contas públicas de alguns Estados da federação pode abrir espaço para a discussão da venda de alguns ativos de empresas estatais como fonte de financiamento.

Já é certo que os investimentos das estatais continuaram de uma forma bastante tímida, com o caso da Petrobras. Antes a empresa apresentava planos que previam um volume de investimento acima dos US$ 230 bilhões e agora, em seu último Plano de Negócios e Gestão 2018-2022, a empresa prevê investimentos de apena US$ 74,5 bilhões!

Esse dinheiro será dividido da seguinte forma: 81% deste valor para a área de Exploração e Produção, 18% em Refino e Gás Natural e 1% nas demais áreas. Embora o valor seja tímido, sua gestão melhorou muito no último ano com a troca de sua presidência, o que será mantido em 2018 e aumentará ainda mais a confiança dos investidores na retomada dessa importante empresa para o país.

Ainda sobre as empresas estatais, vale lembrar que seus ativos não melhoram apenas com sua gestão, mas também com a melhora da própria situação econômica do país.

2. Economia em 2018 no Setor externo

Este ano continuaremos a ter bons motivos para olhar o setor externo. A economia mundial está vivendo mais um de seus dias de bonança, com o FMI (Fundo Monetário Internacional) estimando crescimento de 3,7% em 2018, o que supera o avanço da economia mundial tanto de 2017 (3,6%) quanto de 2016 (3,2%).

Essa melhora da atividade mundial estimula ainda mais o comércio entre os países, que precisam de insumos para atender suas novas demandas. Essa notícia é muito positiva para as empresas exportadoras brasileiras aumentarem a suas vendas, além de buscarem novos mercados.

Outro ponto favorável vindo da economia mundial é o preço das commodities, que após um período de fortes quedas, finalmente começaram a mostrar algum crescimento.

Conforme estimativas do Banco Mundial, se espera que em 2018 os preços das commodities como petróleo cresçam 5,7%, ao passo que as demais (incluindo agrícolas e metais) devam crescer em torno de 0,6%.

O Brasil é uma referência no comercio de commodities e nossa economia depende bastante do desempenho desse setor, principalmente empresas estatais.

É importante ressaltarmos que uma parcela interessante da Bolsa de Valores (e do Ibovespa) é composta por empresas que trabalham com commodities e a melhora de seus preços aumentará os seus lucros, o que reflete no preço das ações e no pagamento de dividendos.

Por outro lado, nem tudo no resto do mundo em relação à economia em 2018 será flores para o Brasil. Alguns países irão mudar suas políticas monetárias (aumento de taxa de juro, por exemplo) e isso trará consequências para nós.

Em primeiro lugar devemos destacar os Estados Unidos. Com o objetivo de estimular a economia, os americanos deixaram suas taxas de juros muito baixas por um bom período. Agora que a atividade econômica do país voltou para os trilhos eles estão normalizando sua política monetária, que envolve o aumento de tais taxas.

Este processo deverá seguir ao longo de 2018 e mudará o custo de oportunidade dos investidores estrangeiros, ou seja, alguns podem migrar de investimentos mais arriscados, como os ativos brasileiros (que estão com juros decrescendo), para ativos mais seguros, como os americanos (que estão com juros em ascensão).

Assim como os americanos, os países que compõem a Zona do Euro também estavam com uma política de estímulo após a crise. Além dos juros baixos, eles tinham programa de compra de títulos, que foi uma forma do governo jogar dinheiro na economia e assim revitalizá-la.

Com a melhora da economia de uma boa parcela dos países europeus, há uma forte discussão e uma elevada chance de que eles parem com esse programa de recompra de títulos em 2018.

Uma parcela interessante desse dinheiro que era injetado na economia saia da Europa em busca de investimentos mais rentáveis, como alguns ativos brasileiros. Se oficializada o fim ou a redução do programa, tal volume não virá mais para cá em igual magnitude.

Desta forma, podemos ter uma redução do volume de dinheiro (capital) que entraria no país e um aumento de dinheiro saindo. Quando isso acontece a taxa de câmbio brasileira desvaloriza, por que há um menor volume de dólares na economia e assim a moeda americana fica mais cara.

Será interessante observar em 2018 aqueles ativos que são favorecidos pela desvalorização cambial, como os de empresas exportadoras, por exemplo.

3. Incertezas

Até aqui parece tudo muito bem, mas 2018 não é um desses anos que promete calmaria. Estamos num período crucial para aprovação de importantes reformas e, além de tudo, ainda temos Eleições.

A névoa da incerteza ainda paira nesses dois assuntos.

O humor do mercado vai navegar o ano todo acompanhando a novela da Reforma da Previdência. Com uma trajetória de déficit insustentável, o governo apresentou uma versão diluída da reforma e espera poder votá-la em fevereiro.

Mesmo após a eleição nós teremos que nos preocupar com a questão previdenciária. Estimativas sugerem que versão atual tenha um impacto de 60% da proposta original, gerando uma economia de algo como 1,20 p.p. do PIB em 2025 na previdência do setor privado e de 0,20 p.p. do PIB na previdência dos servidores públicos.

Ainda é muito pouco mediante ao tamanho do problema.

Sem a aprovação da reforma agora em fevereiro, aumentará o risco de um não cumprimento da recente emenda constitucional do Teto de Gastos, o que vai aumentar ainda mais a desconfiança dos investidores com as nossas contas públicas.

Juntamente a este fato, o país vai submergir no tema da Eleição, que é uma das mais incertas dos últimos anos. A ascensão nas pesquisas de um candidato não-reformista poderá abalar toda a confiança do mercado na continuidade do ritmo de mudanças que o país vem mostrando.

O aumento do risco e da incerteza afeta diretamente uma variável: a taxa de câmbio, que tende a se desvalorizar pela saída de capitais (como já dito antes)

Outra consequência direta da elevação de risco é a elevação das taxas de juros dos mercados futuros, dado a incerteza quanto a situação fiscal do país. Quem vai emprestar para o governo e receber o dinheiro só daqui alguns anos irá cobrar ainda mais para cobrir esse risco.

Nesse cenário, não se pode bobear com os ativos pré e pós-fixados, que podem ser uma grande oportunidade ou uma grande roubada.

Por outro lado, caso dê tudo certo (reformas aprovadas e presidente reformista eleito), o pais vai surfar em uma grande onda de bonança com resultados positivos em diversos ativos de renda variável e de mais longo prazo, como os títulos públicos.

Em suma, quem acompanhou o mercado financeiro ao longo de 2017 teve um exemplo bem didático de como o rendimento de alguns ativos financeiros com um risco maior (como ações) se comportam mediante a uma recuperação econômica.

Para 2018 devemos assistir trajetória semelhante, podendo ser potencializado pelo vigor da atividade econômica deste ano, mas sendo necessário o acompanhamento de perto de algumas pautas como a Reforma da Previdência e, obviamente, as Eleições.

IMPORTANTE: Vale ressaltar que o cenário descrito, bem como os efeitos no Mercado Financeiro apresentados tem propósito único e exclusivamente educacionais e em nenhum momento você deve encarar qualquer parte do texto como recomendação de investimentos.

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Sobre o autor
Arthur Lula MotaEconomista, já atuou no mercado financeiro e em departamento econômico, com elaboração de cenários macroeconômicos e estudos setoriais. Atualmente é Mestrando em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e dono de um dos maiores sites independentes de economia no Brasil – o Terraço Econômico.
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