Crise hídrica deve afetar empresas do setor de energia elétrica, mas impacto será diferenciado; veja por que
Geradoras podem sofrer mais que transmissoras; distribuidoras também são vulneráveis
Empresas do setor de energia elétrica estão entre as que mais devem sofrer com o agravamento da crise hídrica, a redução do nível de água nos reservatórios, provocada pela escassez de chuva.
Os impactos, no entanto, devem ocorrer em diferentes níveis, dependendo do setor de atuação da empresa - geração, transmissão ou distribuição - e há, até mesmo, algumas que podem ser beneficiadas, por desenvolverem novas matrizes de energia.
Para enfrentar a crise energética que, de acordo com os especialistas, poderá ser a mais severa desde 1931, portanto em 90 anos, o governo determinou na quarta-feira o primeiro corte obrigatório no consumo de eletricidade no País. Decreto assinado pelo presidente Bolsonaro obriga órgãos públicos federais a reduzir entre 10% e 20% o uso de energia.
Outros sinais de preocupação do governo com o risco de apagões ou racionamento de energia, segundo especialistas, são as medidas como a redução de vazão de algumas usinas hidrelétricas, a flexibilização nas margens de segurança na transmissão e os estímulos à indústria para que reduzam o consumo de energia nos horários de pico.
A crise energética gera efeitos negativos sobre a atividade econômica, sobre o faturamento e lucro das empresas e, por extensão, as ações negociadas em bolsa de valores. O impacto, contudo, não é linear sobre todas as companhias do setor de energia. Algumas sofrem mais, outras menos.
Geradoras de energia elétrica devem sofrer
Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag investimentos, diz que as mais impactadas pela crise são as companhias que atuam na geração hidrelétrica, pela queda de produção de energia, de faturamento e lucro. Companhias como a Cesp (CESP6), a Aes Brasil Energia (AESB3), Engie Brasil (EGIE3), Eletrobras (ELET3), dentre outras.
José Falcão C. Castro, especialista em Research do Nu Invest, diz que os efeitos são distintos em cada etapa da cadeia, mas o setor de energia elétrica, ao mesmo tempo, é o mais defensivo na bolsa de valores. “São empresas que fornecem serviços essenciais e nunca deixarão de existir.”
Ele afirma que, para o bem ou para o mal, são as geradoras as companhias mais impactadas pela crise hídrica e reservatórios baixos. “São empresas que produzem energia de diferentes formas (hidrelétricas, termelétricas, eólica e solar) e ganham dinheiro ofertando contratos no ambiente regulado e no ambiente livre para grandes consumidores.”
Castro aponta como geradoras de referência empresas como a Cesp (CESP6), a Engie Brasil, a AES Tietê (TIET11), Ômega (OMGE3), e a Eneva (ENEV3), todas com boa gestão e situação financeira sólida e, portanto, menos expostas à crise. Entre essas, ele destaca a Eneva (ENEV3), com vantagem adicional por ser geradora de energia térmica a gás sem depender de fonte hídrica.
Assim como as termelétricas, as eólicas e as solares também são opções às fontes hídricas para a geração de energia nestes tempos de reservatórios vazios para a produção hidrelétrica. São companhias que, de acordo com especialistas, tendem a sentir menos os efeitos da crise ou até ser beneficiadas pelo aumento de demanda dessas novas matrizes.
Outra empresa que deve ser favorecida pelo maior aproveitamento da matriz eólica, sobretudo no Nordeste, é a Aeris (AERI3), fabricante de pás (hélices) usadas para produção de energia pelo movimento dos ventos. Aeris acumula valorização perto de 30% nos últimos 12 meses.
Transmissão envolve menos risco
Das três etapas envolvidas no processo desde a produção até a chegada da energia ao consumidor, a transmissão até as centrais de distribuição é o segmento mais previsível e com menos risco, avalia Castro. As companhias que fazem o transporte de energia, explica, têm receitas fixas e indexadas à inflação, por meio de contratos regulados de longa duração, independentemente do processo de geração ou da demanda energética. Empresas recomendadas: Taesa (TAEE11) e Alupar (ALUP11).
Distribuição de energia elétrica é o elo mais frágil
A distribuição é considerada o elo mais frágil da cadeia, por estar mais exposto ao consumidor final. “Toda a parte de geração e transmissão é coletada através da conta da luz”, afirma o especialista da Nu Invest. As empresas que levam a energia ao consumidor final e, portanto, fazem a arrecadação do setor na conta de luz são as mais atingidas em caso de aumento de inadimplência, um risco que cresce à medida que a crise energética torna a tarifa mais cara. A recomendação é Equatorial (EQTL3).
Efeitos colaterais sobre siderúrgicas e saneamento
A economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, acredita que os maiores impactos dos aumentos na conta de energia, causados pela crise hídrica, serão sentidos pelas empresas siderúrgicas, como Usiminas e CSN, e de mineração, como a Vale, que passarão a arcar com custo mais elevado de produção. “As companhias de saneamento também vão sofrer, por causa da escassez de água.”