Economia

Copom mantém Selic em 13,75%, mas alerta sobre piora na percepção de alta da inflação com risco fiscal

Maior preocupação do mercado é com o rumo dos juros no próximo ano; crescem as apostas de novo aumento

Data de publicação:07/12/2022 às 09:47 - Atualizado um ano atrás
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O Comitê de Política Monetária, o Copom, manteve a Selic em 13,75% ao ano em sua última reunião do ano e no governo Bolsonaro. O próximo encontro do colegiado acontece nos dias 31 de janeiro e 1° de fevereiro já no governo Lula. Desde agosto deste ano, a taxa básica de juro da economia está estacionada nesse nível e não houve surpresa na decisão de hoje dos diretores do BC.

O que mais preocupa os agentes econômicos é o rumo da Selic em 2023. Até há bem pouco tempo, parecia haver consenso no mercado que os 13,75% seriam o teto para esse ciclo do juro, mas a percepção mudou com a PEC da Transição. Ela traz a perpectiva de estouro de gastos públicos, o que pode gerar mais inflação e provocar novo ajuste para cima da Selic.

Em comunicado expedido após o término da reunião, os dirigentes do Copom ressaltaram que não hesitarão em aumentar novamente a Selic em caso de alta da inflação acima do esperado.

O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Comunicado - Copom

Os diretores do Banco Central também reforçaram que “a elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do País e estímulos fiscais adcionais que impliquem sustentação da demanda agregada" se colocam entre os principais riscos de alta da inflação. “O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre dinâmica de inflação prospectiva”.

Para Idean Alves, educador financeiro, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, “a palavra de ordem, sem dúvida alguma, é vigilância para não deixar a inflação sair do controle, pois a maioria das variáveis pode mudar rapidamente”. 

Trajetória da Selic

Em 2019, no início do governo Bolsonaro, a taxa de juros estava em trajetória de queda, em 6,5% ao ano. Em plena pandemia, em agosto de 2020, a taxa caiu para a sua mínima histórica, de 2% ao ano, e aí ficou até março de 2021. Naquele mês, em 12 reuniões consecutivas, o Banco Central, passou a elevar a Selic até os atuais 13,75%, no ciclo de alta mais prolongado desde 1999.

A calibragem dos juros é feita pela autoridade monetária para levar a inflação dentro das metas traçadas pelo próprio BC. Para este ano, dificilmente a alta dos preços ficará em 3,5%, que é o centro da meta, tampouco entre o piso e o teto dela, de 2% a 5%, respectivamente. As atuais projeções apontam para um número em torno de 5,9%.

Pode-se dizer, então, que as atuais decisões do Copom miram a inflação dos próximos anos, uma vez que os efeitos de alta ou queda dos juros levam de 6 a 18 meses para impactar a economia. Para 2023, a meta de inflação é ainda mais baixa, e foi fixada 3,25%, podendo oscilar entre 1,75% e 4,75%. No entanto, a atual estimativa do mercado, pelo Boletim Focus aponta para um nível superior a 5%.

Como a Selic afeta a economia do País

O governo utiliza a taxa Selic como ferramenta de controle da inflação: para incentivar a oferta de empréstimos interbancários, ele provoca uma queda nas taxas de juros dos bancos em resposta à redução da taxa Selic.

Desse modo, ele estimula o e acelera a economia, pois com mais dinheiro circulando no mercado em função da queda nos custos dos empréstimos e financiamentos oferecidos por essas instituições, maior o poder de compra das pessoas que acabam consumindo mais, o que leva ao aumento do índice geral dos preços.

O crescimento do consumo requer um maior nível de produção e emprego para atender o aumento da demanda por produtos e serviços, gerando maior desenvolvimento econômico para o País.

No entanto, como consequência da economia aquecida e de um maior poder de compra da população, os preços começam a crescer excessivamente e a inflação volta, então, a subir. E como o governo age nesse caso?

Ele aumenta a Selic para frear a inflação. Com isso, os empréstimos e financiamentos voltam a ficar mais caros e as pessoas diminuem o consumo, desacelerando o aumento dos preços. Ou seja, provocando uma queda dos índices inflacionários.

Por essa dinâmica, é possível deduzir que o governo usa a taxa Selic como instrumento de controle da inflação.

De forma resumida, quando essa taxa está alta, existe uma menor quantidade de dinheiro disponível no mercado e as pessoas diminuem, assim, o consumo. Logo, a demanda por produtos e serviços é menor gerando uma queda nos preços e a redução da atividade econômica. O mesmo acontece no sentido oposto.

Podemos concluir, com isso, que essa política monetária impacta fortemente no aumento ou redução do crescimento econômico do País.

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Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.