Copom mantém Selic a 13,75% a.a. pela 6ª vez consecutiva
Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve taxa básica pela 6ª vez consecutiva; patamar é o maior desde novembro de 2016
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu hoje pela manutenção da taxa Selic em 13,75% a.a., em linha com as expectativas do mercado, em sua terceira reunião de 2023.
Com a decisão, o juro real no Brasil segue no maior patamar do mundo, com 9,10% a.a., considerando o IPCA acumulado em 12 meses de 4,65%. A taxa básica está em 13,75% a.a. desde junho de 2021, quando houve o último aumento.
Mesmo com pressões atuais para que o BC inicie o ciclo de queda da taxa básica, o Comitê não sinalizou, no comunicado, nenhuma possibilidade de queda de juros.
“O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, explica o comunicado da decisão.
De acordo com o economista André Perfeito, a leitura do comunicado demonstra que não há previsão de corte de juros na reunião de 20 e 21 de junho, apenas no segundo semestre.
Apesar de considerar um cenário menos provável, ainda assim o Copom apresentou a possibilidade de voltar a aumentar juros caso “o processo de desinflação não transcorra como o esperado”.
Entre os pontos considerados positivos para o cenário de desaceleração esperado, o Comitê menciona os indicadores recentes de atividade econômica. Além disso, cita também que a reoneração dos combustíveis e a apresentação do arcabouço fiscal reduziram a incerteza sobre a política fiscal.
“Alguns pontos chamaram a atenção como a perspectiva que a aprovação do Arcabouço Fiscal não gera automaticamente corte de juros, o que no mais é óbvio, mas contrasta com elogios iniciais a proposta do Ministério da Fazenda”, comenta Perfeito.
Sobre a aprovação do arcabouço, o comunicado foi claro ao dissociar com a convergência da inflação. Disse, ainda, que as expectativas de inflação desancoradas tornaram o processo ainda mais lento e custoso para conduzir a política monetária.
“O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional”, expressa o comunicado.
Por fim, o Comitê reforçou que “irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”
Há, portanto, o foco na convergência da inflação para a meta, não somente para 2023 para também para 2024, com foco na questão da desancoragem das expectativas, segundo o Copom.
“Isso deve bater no mercado de capitais na perspectiva que com juros neste patamar a renda variável - e o resto da economia - seguem com uma bola de ferro no pé", define Perfeito sobre o comunicado.
Manutenção de acordo com expectativas
As estimativas para a Selic até o fim de 2023 estão em 12,50%, de acordo com o mais recente Boletim Focus. A diminuição, contudo, deve acontecer apenas no segundo semestre.
Desde a primeira reunião do Copom em 2023, a expectativa do mercado era manutenção da taxa no patamar atual até o fim do ano. Com a recente desaceleração do IPCA, em 0,71% em março e 4,65% no acumulado de 12 meses, as projeções para a Selic passaram a ser mais otimistas.
Atualmente, no Focus, a previsão é 6,05% para inflação em 2023, bem acima dos 3,5% previstos na meta. Ainda que o acumulado, hoje, reflita um valor menor, há expectativas para aumento no segundo semestre.
Para 2024, as estimativas começam a escapar dos limites fixados pelo Conselho Monetário Nacional: enquanto a meta de inflação é de 3%, podendo oscilar de 1,5% a 4,5%, o mercado trabalha com a projeção de 4,18%.