Como o preço de uma ação é definido?
Quem investe em ações sabe que os especialistas costumam estabelecer um “preço justo” para as ações de cada empresa. Quando a cotação está abaixo daquele preço,…
Quem investe em ações sabe que os especialistas costumam estabelecer um “preço justo” para as ações de cada empresa.
Quando a cotação está abaixo daquele preço, os especialistas recomendam comprar. Quando está acima, recomendam vender. O objetivo é receber de volta um valor superior ao investimento realizado.
Mas você sabe como é o processo para definir o preço justo de uma ação?
O modelo mais comum utilizado pelos profissionais da área é o valuation, que é uma palavra em inglês para valoração ou avaliação. Significa dar valor. É utilizado para avaliar ativos de todo tipo, empresas ou projetos.
Empresas pequenas x Empresas grandes
Vamos começar por um exemplo bem simples: você sabia que o valuation de um pequeno negócio, como uma padaria, frequentemente se dá por um múltiplo do seu faturamento mensal?
Sim, se você estiver interessado em comprar uma padaria e quiser estimar seu valor, considere de 5 a 7 vezes o faturamento mensal desse negócio. É um jeito simples de calcular, porque o faturamento é um dado acessível e difícil de esconder.
É claro que uma avaliação simplificada do valor de uma empresa traz uma série de riscos e erros. E quando vamos avaliar o valor justo da ação de uma empresa negociada em bolsa somos muito mais criteriosos, certo?
Valuation por Múltiplos
As avaliações de empresas negociadas em bolsa podem ser simples também. O valuation por múltiplos é considerado um indicador importante, ainda que não seja lido isoladamente.
Conheça os mais comuns:
Múltiplos de Lucro
- P/E ou P/L: É o preço da ação dividido pelo lucro por ação
Como o lucro é distribuído anualmente, na prática esse indicador representa o número de anos necessários para se recuperar o valor pago apenas por meio dos lucros obtidos pela empresa.
- EV/EBITDA: é parecido com o P/E. Uma divisão entre o valor da empresa pelo resultado que ela gera.
O P/E é um múltiplo do acionista, enquanto o EV/EBITDA é um múltiplo da empresa.
EV: enterprise value, ou o valor da empresa, considera o valor de mercado da empresa (preço unitário da ação no mercado multiplicado pelo número de ações existentes), suas dívidas, caixa e ativos não-operacionais.
EBITDA: Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization. Ou, em português: LAJIDA (Lucro Antes dos Juros, Impostos, Depreciação e Amortização).
Limitações: os múltiplos de lucro não têm muita utilidade quando a companhia gera prejuízo ou gera um lucro pequeno comparado ao valor de mercado da empresa, como é o caso das empresas de tecnologia, por exemplo. As empresas que têm mais expectativa de crescimento do que resultado no balanço acabam sendo prejudicadas na comparação com empresas maduras.
Múltiplo de Valor Patrimonial
P/VPA é o preço da ação dividido pelo valor patrimonial por ação.
Esse indicador nos apresenta o valor que o mercado está disposto a pagar pelo Patrimônio Líquido de uma empresa.
Importante definir o VPA: é o Patrimônio Líquido da empresa dividido pelo número de ações.
Limitações: o Patrimônio Líquido é uma figura contábil resultado da diminuição do ativo pelo passivo. Mas como o ativo é contabilizado pelo valor histórico de custo e não considera inflação, obsolescência tecnológica, entre outros fatores, esse indicador tem sido usado apenas em setores onde os ativos são facilmente calculados a valor de mercado. Bancos são um bom exemplo.
Valuation por fluxo de caixa descontado
Em inglês é conhecido como Discounted Cash Flow (DCF), onde o valor da ação é representado pelo valor presente dos fluxos de caixa futuros desse ativo, descontados a uma taxa que represente o risco do investimento.
Explicando os termos grifados:
- Fluxos de caixas futuros: é feito com base na estimativa de entradas e saídas de dinheiro que afetarão o caixa da empresa. Estas estimativas podem ser feitas analisando dados passados e projetando cenários futuros.
- Valor Presente descontado a uma taxa: o dinheiro tem um valor no tempo. Quando temos um recebimento futuro e queremos saber quanto valeria esse recebimento hoje, precisamos considerar uma taxa de juros para descontá-lo.
Dadas essas explicações, podemos resumir que esse método considera todos os recebimentos e saídas que essa empresa terá no futuro trazidos a valor presente descontados a uma taxa.
Limitações: ainda que seja considerado o método mais completo, apresenta um cálculo complexo e que permite análises diferentes entre especialistas. Imagine que um pequeno fator pode alterar completamente o valor: a taxa de juros compatível com o risco do investimento.
Os ativos com fluxos de caixa maiores e mais estáveis devem valer mais do que aqueles menores e mais voláteis.
Escola Fundamentalista x Escola Técnica (ou Gráfica)
Todos esses formatos citados acima para estimar o valor justo das ações de uma empresa estão sob um “guarda-chuvas”, que é da Análise Fundamentalista. Os fundamentos a que se refere essa análise são quantitativos e qualitativos. São dados relacionados à saúde da empresa, considerando receita, lucro, participação de mercado, qualidade de gestão, marcas, tecnologias, patentes, etc...
Mas há uma outra análise que tenta avaliar o valor correto das ações de uma empresa: a Análise Técnica (ou Gráfica). Nessa outra análise o preço de uma ação é o reflexo da interação entre os compradores e vendedores.
Essas interações se dão pelos movimentos de mercado. E com base nessa regra básica de oferta e procura que são apresentados todos os gráficos e tendências observados pelos analistas dessa escola.
A análise técnica identifica padrões no comportamento para entender o cenário mais provável para o futuro, utilizando a probabilidade estatística.
Os defensores dessa escola apresentam algumas vantagens em comparação com a análise fundamentalista: ela é replicável para todos os ativos e a leitura é praticamente a mesma; ela é de observação rápida; de acordo com essa técnica, os movimentos se repetem.
Conclusões e outros fatores
O que vimos aqui foi uma visão geral dos formatos mais frequentes de análise do preço justo de uma ação. Nenhuma se basta em si e essas ferramentas podem e devem trabalhar conjugadas para reduzir o erro na difícil arte de estimar o valor justo de uma ação.
Mas mesmo utilizando todas as técnicas citadas, ainda há limitações em fatores não cobertos por essas análises, que são exógenos às empresas e sua gestão. Uma pandemia como essa que estamos vivendo em 2020, por exemplo, não fazia parte de nenhum modelo até o ano passado.
Isso não invalida os modelos propostos aqui, mas traz um fator adicional de cautela e reforça uma recomendação que parece lugar-comum: a Diversificação.
Por mais análise e critério na escolha dos ativos mais depreciados e com as melhores expectativas de valorização, considere sempre a diversificação entre classes de ativos, moedas, geografias, setor de atuação e tudo o que o for diversificável. Só assim seu portfolio poderá apresentar um resultado mais próximo da otimização de carteira.
Mas isso já é assunto para outro artigo.
Bons investimentos!
Se você quiser se aprofundar nesse assunto temos algumas recomendações de livros e sites: