Como o mercado financeiro deve reagir aos resultados das eleições no 1º turno
As atenções estarão voltadas às propostas de política econômica dos dois candiatos
A corrida eleitoral ao Palácio do Planalto entre o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve receber novo olhar do mercado financeiro a partir desta segunda-feira. Vencedores do primeiro turno das eleições realizado no domingo, concorrem à rodada final para a Presidência no dia 30 deste mês.
A expectativa é que investidores e gestores do mercado recalibrem a atenção às propostas de política econômica dos candidatos e aos possíveis nomes que formarão o time da economia. Especialistas dizem que a passagem de ambos, neste primeiro turno, já está precificada nos ativos.
Fato que chama a atenção é que a parte das pesquisas de opinião dava amplo favoritismo ao candidato petista, com perspectiva de vitória já no primeiro turno. A competitividade de Bolsonaro nas urnas, segundo analistas, tende a lançar mais holofotes sobre o candidato do PL.
Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research, afirma que a grande preocupação é com a política econômica do próximo presidente. “Como será a política fiscal, de mais gastos, como foi o tom de campanha?”, indaga.
Efeito Meirelles no mercado
Barbosa diz que isso afeta o País todo, o macro inteiro, e os principais ativos, como juros, bolsa e dólar. Em um eventual governo Lula, “se for um Meirelles (Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, no governo Lula, e ex-ministro da Fazenda, no governo Michel Temer), na Economia, o juro será para baixo, o dólar também e a bolsa para cima”. A aproximação do executivo a Lula animou a Bolsa na última semana.
Uma perspectiva de vitória de Lula tende a criar uma expectativa favorável para a bolsa de valores, na avaliação de Rodrigo Cohen, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos, empresa de educação financeira. Ainda que analistas de mercado acreditem em uma política mais intervencionista na economia sob o governo petista.
Cohen destaca que “tanto Lula como Bolsonaro não são malvistos pelo mercado”. E tampouco que exista unanimidade em relação a quem seja o melhor. “O que se percebe é que há alguns setores que se beneficiam mais com um e outros mais com o outro.”
Em sua avaliação, “ações de empresas estatais tendem a sofrer mais em um governo Lula, enquanto ações ligadas à educação tendem a ser mais impactadas em um governo Bolsonaro”.
Para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama Investimentos e professor do Ibmec-Rio, o que o mercado financeiro deseja entender é “como o futuro governo conduzirá o lado fiscal, que é o nosso calcanhar-de-Aquiles”, avalia. “Será preciso uma âncora crível, que sustente novo arcabouço fiscal e deixe mais clara a trajetória da relação dívida/PIB”.
Corrida eleitoral não trouxe volatilidade até aqui
Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos, não acredita em forte impacto do resultado eleitoral de primeiro turno nos negócios do mercado financeiro. Desta vez, “a política não trouxe a volatilidade que os analistas esperavam”, observa.
Em sua avaliação, o mercado, em vez de cautela, mostrou otimismo. “O mercado descolou da política, nessa corrida eleitoral, e ficou mais ligado a fatores positivos da economia, como o fim do ciclo de alta dos juros, inflação em queda e atividade para cima”’, pontua Bertotti.
O economista admite, no entanto, que “uma vitória de esquerda pode trazer pouco mais de volatilidade ao mercado”. A preocupação, para ele, são as estatais, com risco de intervenção, “o que pode trazer aversão ao risco, a bolsa pode cair e o dólar ganhar força”.
O desempenho das aplicações em 2022
As aplicações de renda variável apanham da inflação no ano. Alguns no azul, como a bolsa de valores, com valorização acumulada de 4,97%, até setembro. Outros com rendimento nominal negativo, como o dólar, com baixa de 3,24%, e o ouro, com queda de 13,18%.
Em contrapartida, o segmento de renda fixa ganhou musculatura. Tanto em rendimento nominal como real. As principais opões conservadoras, de títulos a fundos de renda fixa, estão entregando ganho real, acima da inflação, ao aplicador. Até mesmo a poupança.
A renda fixa foi duplamente beneficiada nesse período. De um lado pelo ciclo de alta dos juros, que chegou ao fim de agosto, com a Selic acomodada em 13,75%. Um nível considerado elevado por especialistas.
E, de outro, pelo escorregão da inflação, impactada por medidas do governo que baixaram os preços de alguns produtos, via corte de impostos, como combustíveis e energia elétrica. O IPCA (índice de Preços ao Consumidor Amplo) interrompeu a escalada de alta em junho e mergulhou para o terreno negativo, a deflação.
Em julho, com o rendimento nominal mensal de títulos e fundos de renda fixa acima de 1%, o IBGE mediu uma deflação ou variação negativa de preços de 0,68% no mês. Movimento que persistiu em agosto, com nova deflação de 0,36%.
O ciclo recente de inflação negativa dá sinais de continuidade. O IPCA-15, uma espécie de indicador prévio de inflação, já antecipou uma variação negativa de 0,37% em setembro.
Em tese, em cenário de deflação, o rendimento nominal da renda fixa transforma-se em ganho real, em sua totalidade, engordado ainda pela incorporação do índice de variação negativa de preços.
Enquanto a renda fixa surfa na maré de juros altos e inflação em desaceleração, internamente, a renda variável enfrenta uma série de percalços em um ambiente de incertezas, principalmente globais. O principal fator de preocupação está na dinâmica de inflação, principalmente nos Estados Unidos e em países da Europa.
A escalada inflacionária tem levado os bancos centrais das principais economias a lançar mão de juros altos para conter a alta de preços. O Fed (Federal Reserve, banco central americano) vem aumentando a taxa de juros desde maio e reforçando o tom duro na condução da política monetária. Uma atuação que gera expectativas negativas no mercado financeiro, sobretudo em ativos de renda variável, que sorem com o temor de que a economia americana seja abatida pela recessão.
O dólar tem passado por valorização no mundo, na esteira da elevação dos juros americanos. Menos no Brasil, que iniciou o ciclo de alta dos juros antes dos demais e atrai capitais para investimento tanto na bolsa de valores como na renda fixa.
Confira o ranking dos investimentos no ano, de acordo com os cálculos do administrador de investimentos Fabio Colombo.
Balanço das aplicações no ano
Aplicação/indicador | Rendimento/variação |
---|---|
1 - Fundos DI* | 9,25% |
2 - Fundos de Renda Fixa* | 9,17% |
3 - CDBs* | 8,80% |
4 - Títulos IPCA** | 8,73% |
5 - Fundos Imobiliários (Ifix) | 6,63% |
6 - IGP-M | 6,61% |
7 - Poupança | 5,76% |
8 - Ibovespa | 4,97% |
9 - IPCA*** | 4,06% |
10 - Dólar | -3,24% |
11 - Ouro | -13,18% |
12 - Euro | -16,28% |
13 - Bitcoin | -58,77% |
Obs.:
* média
** indicativo
*** estimativa