Renda Variável

Como Investir na Bolsa de Valores: Guia Prático Introdutório – Parte 2

O mercado de renda variável vem crescendo a cada ano e gira um volume impressionante de recursos financeiros. A média diária de volume médio negociado diariamente…

Data de publicação:08/03/2018 às 10:10 - Atualizado 4 anos atrás
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O mercado de renda variável vem crescendo a cada ano e gira um volume impressionante de recursos financeiros.

  • A média diária de volume médio negociado diariamente na B3 foi de R$ 7,6 bilhões em 2017. Um recorde!
  • Essa ordem de volume representa um crescimento de 16,9% em relação a 2016;
  • Em 2017, 617 mil CPF’s estavam ativos na bolsa, também um recorde e crescimento de 9,85% em relação a 2016;
  • Já são 344 empresas e 571 ações listadas na B3.

Visando jogar mais luz nesse mercado bilionário, você confere aqui no Mais Retorno como investir na bolsa. 

Mas como fazer isso de forma prática?

Qual o papel das corretoras e outros participantes em como investir na bolsa?

Investir na bolsa é muito arriscado? Como posso me proteger?

É justamente sobre essas dúvidas comuns que tratarei hoje.

Por isso, continue lendo para saber mais sobre:

  1. O que são as corretoras e qual o seu papel
  2. Participantes do mercado
  3. Controles do Investidor
  4. Processo de negociação de ações
  5. Eventos sobre ações
  6. Como investir na bolsa com mais acertos
  7. Como investir na bolsa com menos riscos

Ah, e esse é o segundo texto dessa sequência, então se ainda não leu o anterior, vale a pena começar pela primeira parte do nosso guia de como investir na bolsa.

O que é uma corretora e qual o seu papel

As corretoras fazem a intermediação entre os investidores e a bolsa de valores e conectam investidores que querem comprar uma ação, e, portanto, acreditam em seu potencial de valorização, e investidores que desejam vender.

As corretoras obtêm seus ganhos através da corretagem paga pelos investidores, uma taxa que varia de corretora para corretora, geralmente com base no volume que será negociado.

Eu sei que escolher uma boa corretora nem sempre é uma tarefa fácil. Por isso, separei 3 itens que são indispensáveis e você deve sempre avaliar nessa escolha:

  1. Confiança – Antes de tudo é preciso ter confiança na empresa que vai operar seu dinheiro;
  2. Atendimento – As corretoras são vendedoras de um serviço, logo, como todo vendedor, um atendimento satisfatório é um diferencial. Quando falo em atendimento, não digo apenas tratar bem os clientes (isso é requisito básico) mas também oferecer serviços, como análises para tomada de decisão, resumos de pregão, entre outros;
  3. Preço – obviamente, como tudo na vida, o preço é o que devemos sempre levar em conta ao adquirir um bem ou serviço. O preço varia entre as corretoras, algumas cobram mais, porém também oferecem uma gama de serviços, outras cobram menos mas só oferecem o básico. Você deve, portanto, definir o melhor custo x benefício para você.

Ao abrir a sua conta na corretora desejada, você já está apto a dar ordens de compra ou venda.

Mas as corretoras não são os únicos envolvidos na negociação das ações.

Para que o mercado de ações funcione bem e seja seguro para os investidores, cada vez que você compra ou vende uma ação outras instituições e empresas são envolvidas no processo.

Participantes do mercado

Antes de entrar a fundo sobre rendimentos e operacionalização, de fato, vamos conhecer quem faz o jogo acontecer, as entidades que fazem parte do mercado:

CVM – Conforme texto recente que você conferiu aqui no Mais Retorno, a CVM é o xerife do mercado financeiro. É um órgão vinculado ao ministério da fazenda e é responsável por normatizar e fiscalizar o mercado financeiro como um todo.

CBLC – A Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia é uma empresa vinculada à B3. A CBLC é responsável pela liquidação (ou seja, a concretização do fato da ação passar de um investidor para outro) de todo o mercado brasileiro de ações. O serviço de custódia (a guarda dos títulos) da CBLC é responsável por aproximadamente R$ 1,066 trilhão entre ações, debentures, certificados de privatização, quotas de fundos de investimentos e certificados de investimentos (dados de outubro de 2010).

Bolsa de Valores – As bolsas são as instituições administradoras dos mercados. No Brasil, a B3 é a principal bolsa.

Temos a impressão que apenas um bolsa pode existir, o que não é verdade, vide o mercado norte-americano, que possui diversas bolsas.

A principal função de uma bolsa é oferecer um ambiente transparente e liquido, adequado à realização de negócios com valores mobiliários.

As bolsas desempenham papel fundamental na medida que no fim do dia, oferecem a conexão necessária para demandantes de recursos (empresas) encontrem os ofertantes de recursos (investidores).

Além dos três integrantes citados, as corretoras, que citamos acima por ser o órgão que você terá mais contato ao operar no mercado, também são um participante do mercado.

É através delas que ocorre, de fato, a negociação de títulos mobiliários e são as credenciadas a operar pela Bolsa.

E falando nessas negociações, como podemos ter certeza de que uma determinada ação que eu comprei realmente foi transacionada e pertence a mim agora?

Controles do Investidor

As corretoras, bolsas e a CBLC emitem comprovantes e demonstrativos das operações realizadas para os investidores. É um direito do investidor para se manter informado. São eles:

  1. Aviso de negociação de ativos (ANA) – Um extrato quinzenal de todas operações realizadas e em aberto no pregão no nome do investidor enviado pela B3;
  2. Canal Eletrônico do Investidor (CEI) - A B3 também disponibiliza o CEI, um canal online exclusivo para consultar todos os ativos em custódia dos investidores, tanto para ações, como para outros títulos de crédito privado (como debêntures, por exemplo);
  3. Extrato de Custódia – Demonstrativo emitido pela CBLC informando a carteira atual bem como todos os ativos custodiados em seu nome no período de referência. Tem periodicidade mensal;
  4. Nota de corretagem – Demonstrativo emitido pela corretora e enviados ao investidor no dia que ocorre a operação.

Processo de negociação de ações

Atualmente o pregão é totalmente eletrônico no Brasil. O pregão é o nome que se da ao funcionamento do mercado, onde se registram as ofertas de compra e venda.

Assim, os operadores das corretoras podem inserir as ordens pelos clientes (você) mediante a uma autorização prévia por e-mail ou ligação de telefone (todos gravados) ou os próprios investidores podem fazer de casa através do home broker (o sistema de negociação online das corretoras).

Dessa forma as ordens são transmitidas para bolsa diretamente pela internet.

Os horários de funcionamento do pregão no Brasil são os seguintes:

  • Das 09:45 às 10h – leilão de pré-abertura onde são registradas ofertas para formação de preços. Aqui todo mundo dá sua oferta de compra e venda, mas nenhum negócio é efetivamente realizado até o início do próximo item;
  • Das 10h às 17h – Sessão continua de negociação, onde as compras e vendas ocorrem de fato como se fosse uma grande feira online;
  • Das 16:55 às 17h – Call de fechamento (um novo leilão) para os ativos que fazem parte da carteira dos índices da Bovespa. Ocorre nova formação de preços do ativo para assim, ter-se o preço que a ação fechou o pregão.

Eventos sobre ações

Uma ação pode passar por dois eventos que aumentam ou diminuem seu preço, sem alterar o patrimônio da empresa, isto é, o quanto ela vale de fato.

Assim, essa mudança de preço não guarda nada de relação com valorização ou desvalorização da ação.

Mas calma, já vai fazer mais sentido. São esses eventos:

  • Split (Desdobramento) – Ocorre quando a empresa aumenta a quantidade de ações em circulação (e, portanto, seu preço cai já que haverá mais ações para negociação sem alterar o capital da empresa). Para simplificar, imagine o seguinte exemplo:
    • Se hoje uma empresa vale R$ 1.000,00 e tem 1000 ações no mercado, cada ação individual deverá valer R$ 1,00 (1000/1000), certo? No entanto, se ela emitir mais 1000 novas ações não passará a valer magicamente o dobro. O que acontece é que cada ação vai valer agora R$ 0,50, mas o valor total dessa empresa continuará sendo os R$ 1.000,00 iniciais (2000/1000).
    • O objetivo dessa operação é aumentar a liquidez com esse processo, de forma que mais ações no mercado por um preço menor farão com que mais pessoas consigam negociar esse ativo.
  • Inplit (Grupamento) – é o processo inverso do Split. A empresa decide pela redução das ações em circulação, sem alterar o valor social da empresa, elevando o valor unitário. Esse tipo de evento faz sentido, pois em alguns casos quando o preço da ação é muito baixo o risco do investidor fica muito alto fazendo com que poucas pessoas as negociem. Afinal se uma ação de 2 centavos desvalorizar apenas 1 centavo, o ativo terá se desvalorizado 50% com uma variação mínima.

Além dos dois eventos citados, existem também os direitos do acionista quando ocorre algum fato novo com a empresa.

  • Bonificação – Distribuição gratuita, ao acionista, de novas ações decorrente do aumento de capital. Tem como pressuposto que os acionistas devem manter o seu percentual na empresa.
  • Subscrição – Representa o direito do acionista para que eles adquiram novas ações. A subscrição pode surgir como um benefício aos acionistas caso o preço de subscrição seja inferior ao preço de mercado.

Como investir na bolsa com mais acertos

Agora que você já tem uma conta na corretora escolhida, conhece os participantes do mercado, os controles que tem e os eventos sobre ações, vamos falar sobre como aumentar as chances de ganho com renda variável.

Como você já sabe, existem duas formas de ganhar dinheiro com ações. A primeira, já abordada no nosso último texto-guia sobre bolsa de valores, se dá quando o acionista, você, tem direito a receber os lucros da empresa (dividendos ou JCP).

A segunda forma, que estamos mais interessados nesse momento é por meio da valorização da ação.

Digamos que você comprou hoje 100 ações de VALE5 (lembre-se dos números que dizem se a ação é ordinária ou preferencial) a R$ 43,00.
Você desembolsou, portanto, R$ 4.300,00 (100 x 43,00).

Digamos que daqui a um mês, por diversos fatores (vamos trata-los em seguida), a ação subiu para R$ 50,00 e você, vendeu as 100 ações que você tinha.

Você receberá por isso R$ 5.000,00 (100 x 50,00), logo teve um lucro de R$ 700,00 (16,27%).

Por isso quando e onde investir é algo fundamental para saber como investir na bolsa.

No exemplo hipotético que fiz com ações da Vale, você lucraria 16,27% em um mês, algo extraordinário levando em conta que a taxa básica de juros atual (o que baliza os rendimentos de qualquer economia) é de “apenas” 6,75% ao ano.

O ponto fundamental a ser respondido, portanto, é: como identifico um negócio desses?!

Você não tem bola de cristal ou joga tarô para adivinhar que as ações evoluiriam da forma como ilustrei no exemplo.

Logo, a maneira mais racional de identificar o potencial de valorização de uma ação é analisando-a e, assim, buscando identificar tendências.

Nesse sentido, duas vertentes afloram da necessidade se conhecer a empresa: Análise Gráfica (ou Técnica) e Análise Fundamentalista.

A Análise Técnica utiliza o ferramental de padrões gráficos que aparecem conforme o preço da ação evolui.

De forma mais simples, dado o gráfico da ação ao longo do tempo (horas, dias ou semanas dependendo da forma de olhar), consegue-se extrair “desenhos” nesses gráficos que nos dizem o que é mais provável que aconteça no momento seguinte (na próxima hora, dia ou semana, dependendo do olhar escolhido).

Por trás dessa identificação de tendência, estão alguns pressupostos que sustentam a análise técnica:

  1. Os preços já representam toda a informação disponível (em outras palavras, ao analisar a ação, preocupe-se apenas com o preço);
  2. A história se repete – eventos em relação ao preço que já ocorrem devem se repetir e os preços vão se mover de acordo como foi no passado.

A análise técnica é indicada, principalmente, para estratégias de curto prazo.

A Análise Fundamentalista, por outro lado, procura identificar se a empresa tem sólidos motivos reais para valorizar ou não.

Para isso, utiliza das informações contábeis da empresa (lucro, estrutura de custos, investimentos realizados, etc.) e fatos relevantes que a empresa divulga.

No fim do dia, nos responde a pergunta: essa empresa vai dar lucro e esse lucro vai ser melhor do que o anterior?

Assim, a análise fundamentalista não se preocupa com as oscilações de curto prazo (como a análise técnica), mas se a empresa apresenta os requisitos para lucrar e lucrar mais. Se tem, por exemplo, estrutura de custos enxuta, se a demanda vai crescer, se seu concorrente tem perspectivas mais ou menos positivas, etc.

Dessa forma, a análise fundamentalista está mais preocupada com a trajetória de longo prazo da empresa.

Além das duas análises mencionadas, que devem ser conjugadas para se ter a melhor decisão, você, investidor, deve também ficar de olho nas notícias relacionadas à essa empresa e a sua estrutura de mercado.

Por exemplo, uma hipotética norma baixada pelo governo sobre impostos em determinado setor com certeza influenciaria todas as empresas desse setor, mexendo nos preços de suas ações.

É só ver o que aconteceu com as empresas envolvidas com aço e alumínio depois do anúncio de tarifas de importação impostas nos EUA pelo Trump.

Como investir na bolsa com menos riscos

Por enquanto falei apenas de como auferir o maior ganho possível. Agora vamos nos preocupar sobre como minimizar a possibilidade de perdas.

Os riscos são intrínsecos ao negócio que é investir em bolsa de valores. Então, como gerenciar esses riscos?

O conceito básico para redução de risco é o da Diversificação.

Segundo essa recomendação, comprar ações de diferentes empresas de setores que tenham pouca ou nenhuma relação entre si é a maneira mais eficiente de se reduzir os riscos de uma carteira de investimentos.

A lógica é bem simples, afinal de contas se uma ação da nossa carteira cair, mas outra estiver subindo, a perda de uma ação é compensada pelo ganho da outra.

Esse risco, que reduzimos fazendo diversificação de nossa carteira é chamado de risco não sistêmico ou risco diversificável. Tem esse nome, intuitivamente, pois é um risco que não afeta todas empresas, ou seja, apenas uma ou um setor especifico.

Uma boa estratégia de diversificação de ativos para diluir esse texto é a da Paridade de Risco, que já falamos aqui no Mais Retorno.

Por outro lado, temos também o risco sistêmico ou não diversificável. Trata-se de um risco que irá afetar todas as empresas, e portanto, não é possível reduzi-lo por diversificação.

Geralmente está associado a eventos macroeconômicos de grande alcance (inflação, crescimento menor que esperado, desempenho negativo do mercado externo, principalmente EUA, etc.).

Apesar da diversificação ser importantíssima para diluir os riscos do investimento em renda variável, não adianta simplesmente comprar infinitas ações para se proteger. Afinal de contas, essa estratégia tem um certo limite de eficiência de até onde vale a pena diversificar.

Na tabela a seguir, podemos ver o efeito que a diversificação tem sobre a carteira.

Repare que com 8 setores diferentes da economia em sua carteira, você praticamente reduz todo risco não sistêmico, possível. Após esse ponto, o ganho adicional de mais diversificação é pequeno.

Um ponto que devemos nos atentar é que por mais que os riscos possam ser diluídos, perdas acontecem no mercado financeiro. E isso é bom, pois se não existissem perdas o mercado seria saturado e não possibilitaria também os ganhos.

Um mecanismo importante, ao trabalhar com estratégias com ações, de forma a mitigar perdas é o uso de um instrumento chamado stop.

Esse mecanismo define um patamar de preço onde o investidor tem que sair da operação, seja por ter atingido o seu objetivo e agora ele deve realizar os lucros (a parte boa do stop), seja por a estratégia não ter evoluído como previsto e assim o melhor é limitar as perdas interrompendo a operação.

O stop pode ser configurado por qualquer home broker e é acionado automaticamente quando uma ação chega no preço pré-determinado pelo investidor.

O objetivo aqui é resguardar o capital para voltar ao mercado em outro momento ou proteger os lucros já auferidos até aquele momento.

Parece simples e fazer bastante sentido, porém, no mercado, além do conhecimento técnico, ter um psicológico preparado também é fundamental.

Grande parte dos investidores entra em operações sem stop loss (aquele que limita a perda) e stop gain (aquele que protege os ganhos).

Isso pode gerar grandes perdas, pois o investidor pode ficar “congelado” em meio a uma situação desfavorável.

Além disso, o que ocorre com grande frequência é aquela coisa de “não vou assumir que errei” e assim o investidor toma a atitude de esperar o mercado “virar” e ficar a seu favor.

Esses alguns são erros clássicos que você não pode cometer após ler os textos de como investir na bolsa.

No futuro ainda falaremos sobre alguns dos principais erros do investidor iniciante da bolsa.

Conclusão

Após ler este texto você já possui mais ferramentas para operar no mercado de renda variável. Sabe que existem estratégias racionais para aumentar as chances de ganho bem como existem riscos inerentes ao mercado financeiro.

Aos poucos vamos desmistificando mais o mercado financeiro e por isso não deixe de acompanhar com frequência o Mais Retorno!

Lembre-se, quanto mais informação disponível mais próxima do ideal será sua tomada de decisão. É isso que objetivamos com esse texto sobre como investir na Bolsa. Espero ter jogado luz sobre o tema.

Mesmo assim, se ainda ficou com alguma dúvida comente abaixo!

Compartilhe esse conteúdo com mais investidores que você deseja ajudar a conquistar Mais Retorno.

Sobre o autor
Vinicius AlvesEconomista, atuou no departamento econômico de empresas de sell side no mercado financeiro. Já foi Top-5 de projeção de inflação de curto prazo do BC.
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