Como a Governança Corporativa influencia o preço das ações?
Quem investe colocando dinheiro em empresas – por exemplo, pela compra de ações –, cedo ou tarde, depara-se com o termo “governança corporativa”. Apesar de ser…
Quem investe colocando dinheiro em empresas – por exemplo, pela compra de ações –, cedo ou tarde, depara-se com o termo “governança corporativa”. Apesar de ser muito usado, nem sempre esse termo é bem explicado. O resultado é que, por mais importante que a governança seja para os investidores, muitos não sabem qual o seu papel.
Felizmente, o termo faz o assunto parecer mais complicado do que realmente é. Então, nesse artigo, vamos explicar de uma maneira bastante simples o que é a governança corporativa e porque você, investidor, deve se importar com ela. Relaxe e aproveite a leitura!
O que é a Governança Corporativa?
Para entender o que é a Governança Corporativa, primeiro, vamos falar um pouco sobre as empresas. Quando uma empresa se abre para investidores, passa a existir um grupo de pessoas com profundo interesse no negócio, mas que não participam efetivamente da sua gestão no dia a dia.
Pense em uma empresa familiar, sem investidores externos. Todas pessoas interessadas no sucesso do negócio são aquelas que estão atuando diretamente na sua gestão. No entanto, se essa empresa decidir abrir seu capital e negociar ações na bolsa, todos os acionistas também terão um interesse no sucesso do negócio, enquanto apenas a família atua diretamente na gestão.
É claro que os acionistas têm poder para influenciar algumas decisões. Porém, no dia a dia, não são eles que determinam quanta matéria-prima comprar, qual parceiro logístico contratar ou como conduzir a nova campanha de marketing. No entanto, tudo isso afeta o sucesso do negócio e, portanto, os interesses dos acionistas.
Por que isso é importante? Porque, se os acionistas não fazem a gestão, eles precisam ter certeza de que os gestores – seja a família que criou a empresa, sejam profissionais contratados para assumir os cargos de Diretoria – estão alinhados com os seus interesses e desempenhando suas atividades com transparência.
Vamos retomar, por um momento, o exemplo da empresa familiar. Suponha que a empresa tem a possibilidade de lançar um novo produto no mercado. Do ponto de vista financeiro, esse produto tem uma perspectiva de margem de lucro muito baixa, e pode até gerar prejuízo. Porém, é um produto que a família sempre quis produzir, movida por um apego emocional à ideia.
Se os gestores forem adiante com o lançamento do produto, eles estarão agindo de maneira contrária aos interesses dos acionistas, para quem o resultado financeiro é prioridade. Sabendo disso, os gestores podem até encontrar formas de “driblar” os acionistas até que o projeto esteja tão avançado que eles não possam mais evitar o lançamento. Nesse caso, temos um exemplo de má governança.
Por outro lado, se os gestores convocarem uma assembleia e apresentarem o projeto, permitindo que os investidores se manifestassem a respeito do produto (ainda que essa não seja uma questão na qual a votação dos acionistas é necessária), eles estarão respeitando os interesses dos investidores. Nesse caso, temos um exemplo de boa governança.
Esse exemplo permite entender com clareza o que é a governança corporativa: o conjunto das práticas adotadas para assegurar que exista alinhamento e transparência na relação entre gestores e investidores.
Qual é o papel da Governança?
Existe um bom motivo pelo qual é importante haver alinhamento e transparência na relação entre gestores e investidores. Não se trata simplesmente de manter um clima positivo na empresa; trata-se de evitar o risco de perder dinheiro.
Se um investidor coloca seu capital em uma empresa que apresenta má governança, ele está depositando seu dinheiro nas mãos de gestores que não priorizam seus interesses e que não desempenham suas atividades com transparência. Logo, não há como saber se esses recursos serão usados da melhor maneira possível para garantir que o negócio alcance bons resultados financeiros e, portanto, trazer o retorno que o investidor espera.
Em outras palavras, sem boa governança, o investidor não pode confiar na gestão e admite o risco de perder o capital colocado na empresa. É por isso que investidores de longo prazo avaliam a governança das empresas antes de comprar suas ações.
A empresa com má governança, é claro, também corre o risco de perder dinheiro. Se os investidores preferem colocar seu dinheiro nas empresas em cuja gestão eles podem confiar, aquela que não toma medidas para construir essa confiança terá mais dificuldades para captar recursos.
Isso pode não parecer muito ruim no dia a dia, se a empresa consegue gerar recursos suficientes para manter suas operações a partir das próprias vendas. No entanto, torna-se um grande problema quando ela precisa financiar projetos de alto custo, como o desenvolvimento de novas tecnologias ou a aquisição de outras empresas.
Colocando, então, da maneira mais direta possível, o papel da governança corporativa é construir a confiança entre gestão e investidores, para, assim, evitar que qualquer parte corra o risco de perder dinheiro.
Como avaliar se uma empresa tem boa Governança?
Nesse ponto, você já deve estar mais confortável com o conceito de governança corporativa e com o seu papel, do ponto de vista do investidor e da própria empresa. Porém, ainda resta uma questão a ser respondida: como você, um investidor, pode avaliar se uma empresa qualquer tem boa governança?
Felizmente, a resposta a essa questão é tão simples quanto a das anteriores.
Um dos caminhos é observar o IGC - Índice de Governança Corporativa. Trata-se de um índice da bolsa de valores que reúne as ações das empresas que contam com a melhor governança. Assim, se uma ação está incluída no IGC, significa que a empresa emissora tem boa governança, de acordo com os critérios da B3.
Mais dois índices da bolsa, IGT - Índice de Governança Trade e IGC-NM - Índice de Governança Corporativa Novo Mercado, seguem a mesma premissa. Portanto, as ações incluídas nesses índices também são emitidas por empresas com boa governança.
Inclusive, se você duvida da importância da governança corporativa na valorização do preço das ações de uma empresa, veja só abaixo a comparação desses índices recém citados com o Ibovespa:
Como visto, enquanto o Ibovespa se valorizou pouco mais de 55% desde abril de 2012, todos os índices que mostram resultados de empresas com boa governança se valorizaram entre 111% e 134% no mesmo período (mais que o dobro)!
Outro caminho possível é visitar a página de Relações com Investidores (RI) da empresa.
Toda empresa com capital aberto na bolsa de valores deve ter uma página de RI online, onde são divulgadas informações relevantes para os investidores. Se essa página traz informações claras, completas, fáceis de acessar, esse é um forte indício de boa governança.
Conclusão
Nesse artigo, você teve a oportunidade de entender melhor o conceito de governança corporativa e o papel que ela exerce. Sempre que estiver tomando decisões de investimento de longo prazo, não se esqueça de que a confiança na empresa é tão importante quanto o retorno que ela promete oferecer.
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