Com tese de inflação prolongada, Fundos Multimercado optam por posições vendidas no exterior
Com cenários desafiadores no horizonte, tomar posição em juros e ativos internacionais têm sido escolha dos gestores
Com a inflação em alta tanto no Brasil como no mundo, gestores de Fundos Multimercado têm recalculado a rota e mudado estratégias para driblar o cenário. Por aqui, após 3 meses de deflação, o IPCA voltou a subir em outubro, o que já estava precificado pelas gestoras, ao mesmo tempo que já contam que a inflação global será mais prolongada.
Com uma pressão inflacionária nos Estados Unidos, economia que dita o comportamento do mercado no mundo, alguns gestores acreditam que o trabalho de aumento de juros pelos bancos centrais não será suficiente para neutralizar a inflação sem apoio do controle de gastos pelos governos. Neste cenário, uma das principais estratégias adotadas por Fundos Multimercado é manter posições vendidas no curto e médio prazo.
Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital, destaca que reverter o cenário de inflação apenas via Bancos Centrais sem apoio fiscal dos governos é uma tarefa complicada. Ele explica que historicamente, esse processo mais persistente serve para que a inflação dilua o endividamento que os governos nacionais fizeram no período de crise.
Filippe Santa Fé, gestor de juros do fundo ASA Hedge, pontua que o cenário Brasil, no médio e longo prazo, será ditado pela inflação norte-americana. O caminho, segundo ele, é avaliar o quanto o aperto monetário pelo Federal Reserve está afetando a atividade econômica e qual a velocidade desse movimento.
De acordo com Santa Fé, neste final de ano, o momento não é oportuno para tomar grandes riscos, e a escolha do fundo é por trades mais táticos. A maior posição recente do portfólio é estar vendido no índice S&P 500. O índice acumula queda de mais de 16% em 2022. A estratégia geral do ASA Hedge é operar venda de ativos e tomar juros.
Posições em juros
O gestor do fundo ASA Quant FIM, Thiago Mizuta, explica que se utiliza da análise quantitativa e algoritmos, e toma juros com base em projeções do mercado e traders de fundamentos.
"Quando os juros estão subindo, estratégias de tendência costumam funcionar muito bem. Olhamos a tendência dos juros e a expectativa dos economistas para inflação. Se os juros estiverem subindo, mas a inflação estiver caindo, a posição se neutraliza. Se os dois indicadores estiverem apontando para a alta, tomamos uma posição maior em juros".
Thiago Mizuta, gestor do ASA Quant
Em carta do gestor de outubro, a Opportunity destacou que mantém posições na direção da alta dos juros no cenário internacional, concentradas na parte mais curta da curva americana. A gestora afirmou que após forte correção nos mercados acionários internacionais, conseguiu realizar lucro nas posições vendidas e aguarda oportunidade para retomá-las em níveis mais atrativos.
Proteção além do Kit Brasil
De acordo com o Portfolio Manager e Co-CEO da Alphatree Capital, Jonas Doi, a disponibilidade de produtos passivos no mercado brasileiro não protege o investidor comum de crises como inflação alta, subida de juros e choque de commodities no exterior.
Baseada na estratégia de diversificação, a gestora montou um estudo de portfólio chamado de "Kit Brasil". A ideia é construir uma carteira média de exposições passivas, com um portfólio de três índices que são replicados por produtos de fácil acesso a qualquer investidor brasileiro:
- Índice IRF-M1, que sintetiza uma carteira de títulos públicos pré-fixados;
- Índice Ibovespa, que sintetiza uma carteira de ações brasileiras;
- Índice USDBRLCR2, que simula os ganhos de um fundo cambial.
Por esse motivo, para fugir um pouco dos ativos locais, a gestora também inclui um ativo estrangeiro como o índice S&P 500, junto ao "Kit Brasil". Segundo a Alphatree, essa diversificação acrescenta uma valorização de cerca de 4,1% sobre o CDI e aumenta a previsibilidade do Índice Sharpe, que ajuda a calcular o risco-retorno.
Confira os 10 fundos multimercados mais rentáveis no ano
O segmento dos Multimercado é o que mais vem sofrendo com a debandada de investidores neste ano. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais, Anbima, em nove meses de 2022, as retiradas líquidas (saques menos depósitos) chegaram a R$ 79,7 bilhões. Mesmo com alguns deles superando em mais de quatro vezes a variação acumulada do DI.
O mais rentável em 2022 até o fim de outubro, o Systematica Blue Trend Advisory valorizou 45,0% enquanto o CDI rendeu 10,0% no mesmo período. Em 12 meses, até o dia 4 de novembro, o rendimento do fundo é de 37,34% e o do CDI é de 11,56%.
Na seleção foram considerados fundos com patrimônio a partir de R$ 20 milhões e com, no mínimo 1 mil cotistas, todos abertos ao público em geral. O desempenho em 2022 é até o dia 31 de outubro, e em 12 meses é até o dia 4 de novembro.
Fundo | Rend. 2022 | Rend. 12 meses | Patrimônio |
Systematica Blue Trend Advisory FIC FIM IE | 45,0% | 37,3% | R$ 261,6 mi |
Asa Hedge FIC FIM | 36,2% | 41,9% | R$ 1,78 bi |
Vitreo Petroleo FIM | 35,7% | 31,1% | R$ 20,8 mi |
XP Macro Plus FIC FIM | 34,0% | 31,9% | R$ 1,85 bi |
Mar Absoluto FIC FIM | 33,8% | 32,4% | R$ 1,25 bi |
Exploritas Alpha América Latina FIC FIM | 33,7% | 56,4% | R$ 186,2 mi |
XP Investor Long Biased 30 FIC FIM | 31,3% | 31,9% | R$ 368,8 mi |
Vista Multiestrategia Advisory FIC FIM | 31,1% | 28,8% | R$ 477,0 mi |
Vista Multiestratégia FIC FIM | 31,0% | 28,8% | R$ 894,7 mi |
Chess Alpha FIC FIM | 25,7% | 33,2% | R$ 27,9 mi |
CDI | 10,0% | 11,6% | -.- |
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