Finanças Pessoais

Com Selic parada em 13,75% e deflação, como fica o ganho real de títulos e fundos de renda fixa

Com retorno nominal elevado e desinflação, ganho real na renda fixa está encorpado

Data de publicação:26/10/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
Compartilhe:

A manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano, aposta consensual do mercado financeiro para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira, 26, tende a manter a renda fixa em evidência no mercado de investimentos por bom tempo. Com rendimento nominal elevado e ganho real, acima da inflação, encorpado.

Em cálculo simples, apontam especialistas, uma Selic de 13,75% ao ano equivale a uma taxa de pouco mais de 1% ao mês na renda fixa, em um ambiente que a economia vem de três meses seguidos de deflação ou inflação negativa. A Selic anda nesse patamar elevado desde agosto quando a inflação já rodava negativa:  – 0,68% em julho, - 0,36% em agosto e – 0,29% em setembro.

Selic Foto: Reprodução

(*) Fundos com taxa de administração de 0,50% ao ano

(**) Fundos com taxa de administração de 1% ao ano

Os dados de simulação feita pela Mais Retorno possibilitam uma ideia de quanto pode render, no período de um ano, uma aplicação de R$ 1 mil, nas principais modalidades de renda fixa, com a Selic de 13,75%.

São aplicações referenciadas na Selic, que em alguns ativos muda para CDI, indexador usado no mercado financeiro para a remuneração de ativos ou títulos privados. A Selic é usada como indexador de títulos públicos, nas operações do mercado com o Tesouro e o Banco Central. Embora com nomes e siglas diferentes, ambos andam emparelhados. Quando sobe a Selic, o CDI vai junto.

O rendimento líquido que chega como retorno ao investidor, medido pelo poder de compra do capital, após o período de um ano, foi calculado com uma inflação estimada em 5,60%, a mesma que é esperada pelo mercado e divulgada no boletim Focus.

InvestimentoRendimento
bruto (R$)
Desconto
do IR (R$)
Rendimento
líquido
Rendimento real
(-inflação de 5,60%)
LCA (97% CDI)1.133,38-.-1.133,381.069,91
LCI (80% CDI)1.110,00-.-1.110,001.047,84
CDB (100% CDI)1.137,5030,941.106,561.044,60
Tesouro Selic1.134,6626,931.107,731.045,69
Fundos DI*1.129,0825,821.103,261.041,48
Fundos DI 2**1.123,4024,681.098,721.037,19
Poupança1.096,25-.-1.096,251.034,86
Fonte: Mais Retorno

Os dados da simulação apontam vantagem dos ativos isentos de imposto de renda, com exceção da poupança, que entrega a menor rentabilidade depois de um ano de aplicação. Letras de Crédito Agrícola (LCAs) e de Crédito Imobiliário (LCIs) são os mais rentáveis, mesmo com taxa de remuneração ligeiramente abaixo do CDI.

De todo modo, a combinação do ciclo de alta da Selic com o processo de desaceleração da inflação – permeado por três meses de deflação – tem revigorado o desempenho da renda fixa, com a volta do juro real.

Selic alta devolve ganho real à renda fixa

É o juro real que mede se o investimento está mantendo ou ampliando o poder de compra do dinheiro, ou se o capital está sendo desvalorizado, porque a inflação anda à frente do rendimento. Uma corrida em que a renda fixa voltou à dianteira com o ciclo de alta dos juros.

Tudo indica que o tempo de deflação ficou para trás, como aponta o IPCA-15, uma prévia de inflação, que captou uma alta de 0,16% em outubro. Uma tendência que deve ser seguida pelo IPCA, índice oficial de inflação.

Essa perspectiva não significa que a temporada de juros nominal e real (acima da inflação) elevados também esteja ficando pelo caminho. “A ideia é que o juro real fique mais alto à medida que a inflação desacelerar, dadas a condições para uma perspectiva mais ampla de desinflação”, avalia Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset.

Efeitos da desinflação

A jornada desinflacionaria em curso ainda está em andamento, destaca. Para Lima, é um processo mais longo que se materializa e se aprofunda à medida que a política monetária de juros altos conduzida pelo Banco Central comece a surtir resultado. “É preciso que seus efeitos se espalhem para todos os setores da economia, sobretudo o de serviços.”

O economista diz que a deflação recente é um fenômeno irrelevante nesse processo desinflacionário, já que foi efeito de medidas tributárias do governo que reduziram os preços de combustíveis e energia. 

Lima estima que “o IPCA fecha 2022 com alta de 5,60% ou pouco mais, dependendo de novos reajustes nos preços de combustíveis”. Ele prevê ainda que o Banco Central inicie o ciclo de redução da Selic entre maio e junho de 2023, “à medida que houver sinais de inflação mais baixa e mais generalizada apontando que ela caminha para mais próximo da meta”.

Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, diz que o mercado trabalha com cenário de que a inflação chegou a um ponto de inflexão, dada a política monetária restritiva, “e a curva de juros já precifica o início de corte da Selic a partir do primeiro trimestre de 2023”. 

A expectativa é que, “à medida que a inflação caia, o Banco Central venha a reduzir a taxa Selic e o juro real também caia, principalmente a partir de 2024”, acredita.

O especialista em renda fixa da Quantzed explica que o juro real se manifesta através da curva de juros em função dos períodos. Em trajetória decrescente nos próximos anos. “O juro real estimado para 2023 está em torno de 8%, com expectativa de que caia para 6% em 2024 e nos anos seguintes para algo entre 5,00% e 5,50%.”

Leia mais:

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.