Bolsa reage com anúncio do cronograma do tapering nos EUA e fecha em leve alta de 0,06%; dólar cai a R$5,56
O pregão desta quarta-feira, volta de feriado, foi marcado por bastante volatilidade para a Bolsa de Valores brasileira, a B3
Em um dia de forte volatilidade no mercado financeiro, com os investidores atentos à votação da PEC dos Precatórios, que deve acontecer ainda nesta quarta-feira, 03, e as ações de commodities despencando com a derrocada dos preços nos mercados internacionais, a Bolsa de Valores respondeu positivamente às decisões de política monetária nos Estados Unidos e fechou o dia com alta de 0,06%, aos 105.616,88 pontos.
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou, nesta tarde, o cronograma da redução do programa de compra de ativos - o tapering -, que deve começar no final de novembro, em linha com as expectativas do mercado. A notícia agradou aos investidores, que, conforme explica Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, se mostraram mais propensos aos riscos, o que beneficiou a Bolsa brasileira.
O dólar, em contrapartida, fechou o dia em forte baixa de 2,13%, cotado a R$ 5,58, também acompanhando o bom-humor dos investidores para com os ativos de risco dos mercados emergentes.
O tapering começa com uma redução de US$ 15 bilhões no programa de compras, sendo US$ 10 bilhões em Treasuries e US$ 5 bilhões em títulos atrelados a hipotecas (MBS, na sigla em inglês). O Fed afirmou, ainda, que o cronograma poderá ser reajustado de acordo com o andamento da economia americana.
"Se o lado do crescimento decepcionar, há maior chance de postergação (no tapering), ao mesmo tempo em que, se a inflação não perder força e as expectativas seguirem em alta, esse processo poderá ser acelerado, Na balança dos indicadores, a inflação deve pesar mais no momento, afinal de contas o Fed mudou o discurso e reconheceu que os aumentos de preços têm sido mais rápidos e duradouros do que os bancos centrais haviam previsto", explica Ribeiro.
Já em relação ao aumento de juros no país norte-americano, que hoje encontram-se na faixa entre 0% e 0,25%, a instituição ressaltou que os juros só serão elevados quando o programa de compra de ativo tiver terminado completamente. O analista da Clear destaca que, levando em conta o ritmo de redução de US$ 15 bilhões por meses ininterruptos, a elevação da taxa de juros deve ocorrer em julho do ano que vem.
Cenário doméstico
Mais cedo, a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) também já havia animado os investidores. Entre os principais pontos está o reforço de que a autoridade monetária deve fazer um novo ajuste de 1,50 p.p na reunião de dezembro e está focada em convergir a inflação para a meta de 3,5% em 2022. No entanto, o colegiado não descarta um aumento mais expressivo do que esse, caso necessário.
A instituição destacou, entre os fatores de risco, a elevação do preço das commodities energéticas, a alta do dólar e a piora do risco fiscal com as alterações na regra do teto de gastos.
Paula Zogbi, especialista em investimentos na Rico, afirma que espera que a taxa Selic alcance 11% em março e permaneça neste patamar até o fim de 2022. "Entendemos, por ora, que esse nível é o suficiente para levar a inflação para a meta até 2023, especialmente considerando a provável desaceleração da demanda final no Brasil e no mundo no ano que vem", comenta.
A especialista ressalta, porém, que a ata de hoje impõe um viés de alta para essa projeção caso o Copom mantenha o plano de uma convergência mais rápida à meta de inflação já em 2022 e/ou a mudança do arcabouço fiscal leve a uma desancoragem ainda maior das expectativas de inflação.
Para Rafael Ribeiro, a ata reduziu, pelo menos por agora, "a preocupação do mercado de que o BC deverá correr atrás da curva no futuro, que na tradução seria deixar de apertar agora, para apertar ainda mais no futuro para corrigir o erro, criando uma bola de neve".
PEC dos Precatórios
Após quatro tentativas de votação, a PEC dos Precatórios volta ao plenário da Câmara nesta quarta-feira, numa sessão marcada para as 18h pelo presidente do plenário, Arthur Lira. A definição do assunto se torna cada vez mais um motivo de apreensão entre os investidores pelo fato de que o mês de novembro é o último do ano no qual pode ocorrer algum avanço.
A PEC, que propõe o pagamento parcelado dos precatórios em 2022, abre um espaço de R$ 91,6 bilhões no Orçamento do período, dos quais R$ 83,6 bilhões são "livres" para serem destinados à ampliação do programa social Auxílio Brasil e outras demandas, como o auxílio diesel a caminhoneiros e emendas parlamentares.
Está na mesa uma proposta de acordo para fatiar o pagamento das dívidas judiciais da União com Estados decorrentes do Fundef, fundo para a educação básica que vigorou até 2006. A dívida responde por cerca de R$ 16 bilhões dos R$ 89 bilhões em precatórios inscritos para o ano que vem.
O dia na Bolsa
Com o cenário interno um pouco mais tranquilo com a divulgação da ata do Copom, os contratos de juros futuros fecharam o dia em queda generalizada, favorecendo as ações de setores como os de varejo e construção civil. Os papéis dessas empresas sofrem com a alta dos juros, uma vez que isso encarece a tomada de crédito e o financiamento para o consumidor final.
No pregão desta quarta-feira, as gigantes varejistas Lojas Americanas, Magazine Luiza e Via dispararam 13,33%, 2,21% e 3,76% na Bolsa, respectivamente. Já as construtoras Cyrela, MRV e Eztec viram seus papéis valorizar 3,99%, 4,24% e 4,80%, nesta ordem.
Na mesma esteira de altas, os bancões, que correspondem a cerca de 17% da carteira teórica da B3 e são a principal porta de entrada para os investidores estrangeiros na Bolsa pela liquidez de seus papéis, também fecharam majoritariamente em alta e ajudaram a empurrar o Ibovespa para cima. Itaú e Santander avançaram 0,95% e 0,25%, na sequência.
A alta do principal índice da Bolsa só não foi maior por conta do dia negativo das commodities. Neste pregão, o preço do barril de petróleo e do minério de ferro despencou nos mercados internacionais, seguindo as expectativas de uma menor demanda dos produtos.
Assim, a Vale liderou as baixas da B3 no dia, com queda de 7,59%, seguida pelas siderúrgicas Usiminas, Gerdau e CSN, que recuaram, respectivamente, 5,57%, 4,64% e 4,58%. A Petrobras também fechou no vermelho, com baixa acentuada de 4,11% em seus papéis.