Mercado Financeiro

Bancos mantém cenário para os próximos meses, mesmo com piora de risco fiscal e político

Revisão de cenários será feita na virada de agosto para setembro. Por ora, as variáveis estão mantidas

Data de publicação:24/08/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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A piora do cenário político e das expectativas com o ajuste fiscal, embora venha empurrando os investidores aos poucos para uma posição mais defensiva, não foi cristalizada ainda em revisão de preços de ativos por bancos e casas que trabalham com esse tipo de análise.

A nova precificação, mais atualizada, é esperada e prometida para os relatórios que bancos como o Itaú e a XP Investimentos, e demais casas divulgam costumeiramente a cada mudança de mês. Portanto, para a virada de agosto para setembro. Por ora, pelas atuais condições, as principais variáveis estão mantidas.

Investidores e profissionais de mercado se antecipam à reprecificação dos ativos

A reprecificação dos ativos à luz da percepção de agravamento do risco país está sendo comandada, de forma antecipada, por investidores e profissionais de mercado e espelhada nos mercados de ações, dólar e juros.  Especialistas de bancos dizem que o que está levando à reprecificação, pelo lado fiscal, é o temor do mercado de que a regra do teto de gastos seja ignorada pelo governo, para o atendimento de demandas eleitoreiras, diante do seguido desgaste político do presidente Bolsonaro.

Pelo lado político, o mercado financeiro não disfarça a preocupação com a piora da crise provocada pelo conflito entre os Poderes, alimentado pelos ataques do presidente Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF). Um embate que segue sem sinais de trégua e tampouco de desfecho satisfatório que não coloque em risco a estabilidade política do País.

O clima de tensão e confronto ficou mais acirrado depois que o presidente Bolsonaro apresentou ao Senado um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. E promessa de que faria mais uma representação esta semana, contra o ministro Luís Roberto Barroso, do STF e também presidente Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A atitude de Bolsonaro gerou reações em cadeira. Mais que isso. Gerou efeitos como a demissão de um comandante da Polícia Militar de São Paulo que convocou a população a participar de manifestações em favor de Bolsonaro e, pela motivação do ato, agravou o mal-estar nos mercados. O governador paulista João Doria afirmou, após uma reunião ontem com governadores que buscou uma forma para o entendimento com o governo federal, que os militantes pró-bolsonaristas estão sendo encorajados a sair armados às ruas no dia 7 de setembro.

Os sinais de que o presidente perde vantagem na corrida à reeleição no ano que vem, como apontam dados de recentes pesquisas eleitorais, tendem a acirrar os ânimos de apoiadores, até mesmo com risco de uso de violência, afirmam especialistas. Uma perspectiva que deve reforçar a cautela dos investidores externos, à espera de um cenário mais claro para ingressar na bolsa brasileira, que analistas veem como boa oportunidade.

Renda fixa ganha atratividade

O investidor doméstico também dá mostras de que está cada vez mais cauteloso e, diante da piora do cenário de incertezas, com menos apetite para a compra de ações. Principalmente pela reprecificação dos juros futuros, afirma Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.

“A escalada dos juros futuros passou a acenar com um prêmio atraente em aplicações prefixadas em títulos públicos com risco bastante baixo”, avalia, comparadas com a indefinição da bolsa de valores. O juro projetado em contratos futuros para vencimento em 2024, portanto daqui dois anos, ficou ao redor de 9,35% ao ano, ontem.

É a taxa de remuneração que o investidor teria a cada ano, só de juros, com risco baixo em título de renda fixa. Uma perspectiva que leva os especialistas a considerar que o custo de oportunidade, no momento, é favorável a quem aplica em renda fixa, já que assegura uma rentabilidade interessante, sem os riscos causados pelos solavancos da bolsa.

Especialistas não têm notado uma fuga do mercado de ações para a renda fixa, mas os investidores estão mais atentos à alta dos juros, principalmente para aplicações na renda fixa por períodos mais longos. “O que existe é menos fluxo para o mercado de ações e quando isso acontece a bolsa tende mais à queda”, afirma Alves.

O especialista da Valor Investimentos diz ainda que a alta dos juros cria no investidor um sentimento de que a economia está menos propensa ao crescimento e mais inclinada a uma possível desaceleração, o que também desestimula o investimento em bolsa de valores. “A ideia é que, no fim das contas, a economia pode crescer mais lentamente ou menos em uma economia com juros altos.”

Bancos elevam projeções no boletim Focus

Analistas e economistas de bancos consulados pelo Banco Central para o boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira projetam uma taxa básica de juros, a Selic, de 7,50% ao ano no fim de 2021 e de 2022. Algumas estimativas independentes, à margem do Focus, já apontam para uma Selic superior à estampada no relatório do Banco Central.

Especialistas afirmam também que o ambiente de deterioração de crise política e fiscal tem encorajado a migração de fração dos recursos ancorados na bolsa para o dólar, em busca de proteção, apesar da atratividade dos juros altos. Uma preocupação que estaria mantendo o capital estrangeiro arredio ao investimento no País e sustentando o dólar acima do patamar de R$ 5.

Com os investidores ressabiados dado o aumento do risco fiscal e político do País, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fez vistas grossas ao dia positivo das bolsas americanas e fechou com desvalorização de 0,49%, de volta aos 117 mil (117.471,67) pontos. O dólar encerrou o dia praticamente estável, cotado por R$ 5,38, queda residual de 0,05%.

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.