Ata do Fomc reforça atenção com a inflação, mas temor persiste
O Fomc, espécie de Copom americano, divulgou na última quarta-feira a ata da última reunião que ocorreu entre os dias 27 e 28 de abril. Os…
O Fomc, espécie de Copom americano, divulgou na última quarta-feira a ata da última reunião que ocorreu entre os dias 27 e 28 de abril. Os mercados mundiais seguem pesando seu conteúdo, segundo analistas, por conta do temor da manutenção da inflação por um período maior e a redução de compra de ativos.
O documento, com um tom dovish, reforçou o discurso do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) que vem sendo sinalizado pela autoridade monetária sobre a pretensão de manter a política monetária acomodatícia.
Segundo o documento, apesar da melhora no cenário econômico norte-americano, a maior parte dos dirigentes ressaltou que vai demorar algum tempo até que haja “progressos substanciais” em direção às metas de inflação e emprego.
“Os membros concordaram que, ao avaliar a postura apropriada da política monetária, eles continuariam a monitorar as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas e que estariam preparados para ajustar a postura da política monetária conforme apropriado”, aponta a ata.
A maioria dos dirigentes considerou que as turbulências observadas durante a crise da covid-19 expuseram a "resiliência" do setor financeiro.
Ainda assim, de acordo com o documento, alguns integrantes do encontro citaram riscos decorrentes de atividades de fundos de hedge alavancados. Para eles, o sistema regulatório não tem uma visão muito ampla dessa área, o que pode trazer problemas.
"Vários participantes comentaram sobre o período prolongado de taxas de juros baixas e condições do mercado financeiro altamente acomodatícias e a possibilidade de essas condições levarem a um comportamento de busca por rentabilidade que poderia aumentar os riscos de estabilidade financeira", pontua a ata.
O relatório acrescenta ainda que as condições de financiamento "relaxaram de forma modesta", à medida que os agentes econômicos passaram a focar mais na reabertura da economia.
Pandemia
A ata do Fed destacou ainda que a pandemia da covid-19 segue provocando dificuldades econômicas e humanas nos Estados Unidos. Porém, aponta que os indicadores de atividade e emprego demonstraram fortalecimento recente no país, seguindo o progresso na vacinação e o apoio fiscal. Por outro lado, o desempenho dos setores mais afetados pela crise segue fraco.
Na visão dos dirigentes, a aceleração da retomada ocorre graças à imunização da população, aliada aos estímulos fiscais adotados pelo governo americano e aos monetários. No entanto, os níveis da atividade e de emprego ainda estão "muito longe" do objetivo da entidade monetária, afirma a ata.
Sobre a situação da economia global, a ata mostra que a equipe técnica do Fed ressaltou que novos surtos de covid-19 na Ásia e na América Latina realçam as incertezas na recuperação mundial.
Analistas comentam
A ata do Fomc foi recebida com uma certa cautela pelos analistas do mercado financeiro, pois, na visão deles, há uma sinalização da possibilidade do início da redução de compra de ativos.
Para o Banco Original, o sinal desafia o consenso do mercado sobre início do tapering (redução, em inglês) no primeiro trimestre de 2022, podendo ser antes.
"Uma data importante e que pode dar um sinal mais claro de quando começariam essas reduções seria no Seminário de Jackson Hole, que ocorre em agosto. Em ocasiões passadas, o Fed já aproveitou o evento para indicar mudanças futuras de política monetária", aponta o relatório do Original.
A equipe de Research da XP Investimentos aponta que pela primeira vez, “um número de membros” do Fed, e não apenas um diretor, expressaram a possibilidade de iniciar a redução da compra de ativos.
No entanto, a XP destaca que o Fed segue atento “para evitar patamares de inflação demasiadamente altos diante de uma recuperação sólida da economia, caso isso se confirme ao longo dos próximos meses”.
De acordo com o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, em linhas gerais o documento manteve-se alinhado com a comunicação recente da autoridade, porém há uma discussão explícita sobre a continuidade da inflação.
“Apenas as discussões dos membros do board explicitam mais o desconforto já anunciado com a persistência do choque inflacionário, sugerindo uma leitura hawkish do texto”, diz Sanchez. “O receio dos membros é que esse choque inflacionário possa invadir o próximo ano”, complementa. / com Agência Estado