Após coletiva da Petrobras, Bolsa fecha em alta de 0,27% com commodities e bancos; dólar sobe a R$ 5,39
Coletiva de imprensa da Petrobras tranquiliza investidores em relação a interferência do governo nos preços dos combustíveis e Bolsa reage bem
A Bolsa de Valores viveu um dia de muita instabilidade, abriu em alta, acompanhando a valorização das commodities nos mercados globais, mas caiu com a perspectiva de ingerência do governo nos preços dos combustíveis no começo da tarde. Somente às 16h30, depois de uma coletiva de imprensa convocada pela Petrobras, em que o presidente da estatal, Joaquim Luna e Silva negou mudança na política de preços, o principal índice da B3 voltou ao terreno positivo.
Com a informação, o mercado ficou mais tranquilo e a Bolsa chegou avançar 0,90%, mas encerrou o pregão com alta mais modesta, de 0,17%, mantendo o patamar dos 113 mil pontos - 113.583,01. As ações da petroleira - que responde a cerca de 9% da composição do Ibovespa - também retomaram o movimento de alta observado ao longo do dia, por conta do salto do preço do petróleo, e fecharam com valorização de 0,89%.
O temor veio em evento da Caixa Econômica Federal, quando o presidente Bolsonaro afirmou ter conversado com Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energias , sobre como "melhorar ou diminuir" o preço dos combustíveis que, atualmente, são um dos principais vilões da inflação.
De acordo com Bruno Mansur, especialista da Valor Investimentos, apesar do presidente ressaltar que não pode interferir nos preços praticados pela Petrobras, os investidores ficaram receosos de que houvesse algum tipo de interferência pelas reclamações feitas por Bolsonaro. No entanto, quando o CEO da petroleira começou a falar e "esse medo foi diminuindo, o mercado imediatamente teve uma recuperação", explica o analista.
Na mesma esteira de alta do petróleo, a PetroRio fechou o dia no azul com uma das valorizações mais expressivas da Bolsa no dia: de 5,09%.
Outra commodity que valorizou no mercado internacional foi o minério de ferro, depois de um período de baixas acentuadas. Com a alta, a Vale, responsável por cerca de 14% da carteira teórica da B3, avançou 1,43% neste pregão, enquanto as siderúrgicas CSN e Gerdau subiram 3,24% e 0,38%, respectivamente.
Já a Usiminas traçou um caminho diferente e viu seus papéis recuarem 2,09%. Operadores do mercado explicam que os investidores ainda seguem atentos à crise financeira enfrentada pela Evergrande, gigante chinesa do setor imobiliário. Como o setor é um dos principais consumidores de aço - produzido a partir de minério de ferro -, algumas empresas são afetadas e vistas com cautela por parte dos investidores.
Os bancões, que respondem a, mais ou menos, 17% do portfólio do Ibovespa, também registraram um desempenho bastante positivo no final do pregão. O setor financeiro, por sua liquidez, é a principal porta de entrada para os estrangeiros na Bolsa. Outro fator que, conforme explicam os especialistas, ajudam na valorização dos papéis dessas companhias, é a alta na taxa Selic, que eleva os juros cobrados pelos bancos.
Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil viram suas ações saltarem, na sequência, 2,61%, 3,01%, 3,78% e 2,22%.
No campo das quedas, os maiores recuos ficaram por conta das empresas varejistas, refletindo a alta nas projeções para a inflação do País. Nesta manhã, o Banco Central divulgou mais uma edição do Relatório Focus e a mediana das expectativas dos economistas para a inflação em 2021 ficou em 8,45%. Esse é o 25° avanço consecutivo. Neste contexto, Méliuz, Via e Magazina Luiza caíram 5,18%, 4,71% e 3,88%.
Dólar segue avançando frente ao real
Pelo quinto pregão consecutivo, o dólar fecha em alta frente ao real. Nesta segunda-feira, a moeda americana registrou um forte avanço de 1,06%, negociada a R$ 5,391. Esta é a maior cotação para a moeda deste o dia 10 de fevereiro.
O dólar começou o pregão em baixa e chegou a ser vendido a R$ 5,308. Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest, afirma que o movimento observado no início do dia refletiu as expectativas de investidores em relação ao anúncio feito pelo Banco Central na última sexta-feira, 24, sobre a realização de leilões extras de swap cambial às segundas e quartas-feiras.
De acordo com a entidade, o objetivo dos leilões é manter o funcionamento regular do mercado de câmbio, tendo em vista a demanda por moeda relacionada ao desmonte de uma proteção cambial adicional pelos bancos.
"O mercado tinha uma expectativa de que isso pudesse conter um avanço mais agressivo do dólar em relação ao real, mas não foi o que vimos", afirma a economista. Cristiane explica que as preocupações do mercado com o problema de liquidez da Evergrande ainda impactam a taxa de câmbio, uma vez que as consequências da crise financeira enfrentada pela incorporadora podem influenciar negativamente nos mercados emergentes, exportadores.
Zeller Bernadino, especialista em câmbio da Valor Investimentos, considera que além da Evergrande, o cenário interno ainda é o maior responsável pela valorização excessiva do dólar. Por ser um país que exporta muitas commodities, a tendência é que a moeda brasileira viva momentos de apreciação com a valorização dos produtos exportados.
O analista explica que os investidores seguem atentos às decisões de política monetária do Banco Central e como isso vai influenciar a economia. Assim, o dólar, por ser uma moeda forte, se torna um ativo para proteção do portfólio do investidor contra o aumento da taxa de juros e da inflação.
Bolsas de Nova York
Nos Estados Unidos, os contratos negociados nas principais bolsas de Nova York fecharam majoritariamente em baixa, com os investidores atentos a uma semana intensa de divulgações monetárias e econômicas. Os índices S&P 500 e Nasdaq 100 caíram 0,28% e 0,81%. O Dow Jones foi o único a fechar em alta, com variação positiva de 0,21%.
Nesta segunda-feira, o Departamento do Comércio do país comunicou que as encomendas de bens duráveis nos Estados Unidos tiveram alta de 1,8% em agosto ante julho, para US$ 263,5 bilhões. O resultado veio acima das expectativas dos analistas, que previam variação positiva de 0,6%.
Outro ponto que mantém a cautela no mercado americano é a sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), de que pretende dar andamento à retirada de estímulos da economia. O presidente da distrital da autoridade monetária em Chicago, Charles Evans, disse hoje que a economia norte-americana está próxima de atingir o nível que permitirá à instituição dar início ao tapering.
Em discurso feito durante evento da Associação Nacional para Economia Empresarial (Nabe, pela sigla em inglês), Evans afirmou que as condições adequadas para a retirada de estímulos provavelmente serão alcançadas em breve se o mercado de trabalho dos EUA continuar mostrando progresso.
Além dessa preocupação, o país terá uma semana-chave em relação a votações importantes. Segundo Larissa Peres, analista de ações da XP, os parlamentares do país têm até a próxima quinta-feira, 30, para evitar um shutdown na economia do país.
De acordo com a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, o país pode atingir o teto da dívida ainda em outubro.