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Americanas: Ao menos 152 fundos estavam comprados em ações da varejista em dezembro

No total, esses fundos aportavam pouco mais do que R$ 445 milhões em AMER3, LAME3 e LAME4; em setembro, eram 266 fundos e R$ 830,4 milhões

Data de publicação:12/01/2023 às 03:18 - Atualizado 2 anos atrás
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Queridinha dos gestores da Faria Lima e do Leblon, em dezembro, ao menos 152 fundos de ações estavam comprados em AMER3, LAME3 e LAME4, as ações da Americanas, ativos que hoje sofrem um duro revés na Bolsa, como  resultado da divulgação de um rombo de pelo menos R$ 20 bilhões não contabilizados pela companhia nos últimos nove anos.

No total, esses fundos aportavam pouco mais do que R$ 445 milhões nas ações da empresa, cifra que certamente é bem superior já que os gestores não são obrigados à reportar suas posições para a CVM antes de setembro.

Sergio Rial pediu renúncia do cargo de presidente da Americanas menos de dez dias depois da posse - FOTO: Divulgação

No entanto, recuando justamente até o mês de setembro do ano passado, é possível encontrar o aporte de 266 fundos, com um volume aplicado de R$ 830,4 milhões, cerca de 10% do valor de mercado da companhia na Bolsa até ontem.

Os dados foram compilados pela Mais Retorno, a partir do banco de dados próprio que monitora todos os fundos de investimento em atividade no Brasil.

Em setembro a liderança ficava com o Moat Capital Fia Master, fundo master da gestora paulistana Moat especializada em renda variável. Com um patrimônio líquido de R$ 1,86 bilhões, pouco mais de R$ 327 milhões estavam comprados em ações da Americanas.

Fundo

Alocação 

em R$ milhões

Classe
Moat Capital FIA Master327,0Ações
Moat Capital Equity Hedge Master56,2Multi
LGCY FI RH CP28,8Renda Fixa
FIA Alvorada25,0Ações
Riza Lotus Pkus Master Ref.20,7Renda Fixa
Legact Capital Master17,4Multi
XP ANS FI RF CP17,0Renda Fixa
Moat Capital Long Bias Master16,9Multi
Porto FIM 14,0Multi
Meta Valor13,5Ações
AZ Quest Luce Adv. Prev. XP Seg.12,2Previd.
Polo FIA11,1Ações
Vinci Crédito Multiestratégia10,1Multi
Daycoval 8,6Renda Fixa
FIM CP  8,3Multi
Moat Prev Itaú Master 7,5Previd.
Santander Funpresp 7,3Renda Fixa
V8 Vanquish Termo 7,1Renda Fixa
Inter Conservador 6,9Renda Fixa
Moat Multi Prev Master6,3Previd.
20 Fundos mais comprados em setembro/2022

Já em dezembro, o fundo de previdência privada Brasilprev Top TP, do Banco do Brasil, com R$ 2,17 bilhões, puxava a fila com R$ 74,5 milhões compradas em debêntures da Americanas.

Fundo

Alocação em

R$ milhões

Classe
Brasilprev Top TP III74,5Renda Fixa
BB Top RF Arrojado58,6Renda Fixa
BB Topo RF Alto Rendimento25,3Renda Fixa
BB Urano19,2Renda Fixa
BB Top DI Refer. DI19,1Renda Fixa
BB Atacado Misto17,0Renda Fixa
Bradesco Máster III Prev.16,2Previd.
Brasilprev Top Plus FIA13,5Previd
Bradesco Master Premium12,7Previd.
BV RF CP FI10,7Renda Fixa
Bradesco MID Small Caps  9,4Ações
BB Eco Plus   7,7Renda Fixa
BB Institucional  7,0Renda Fixa
FIM EMB VII  6,7Multim.
Brahm H FIm Multi  6,4Multim.
BB Top CP  6,0Renda Fixa
BV Legacy Previdência  5,4Previd.
BB Top Ações Small Caps  5,3Ações
BB Sistema Unicred  5,0Renda Fixa
Volks UPI CP FIM  5,0Renda Fixa
20 Fundos  mais comprados em dezembro/2022

Entenda a crise da Americanas

A crise começou ontem, quando menos de 10 dias após tomar posse como presidente da Americanas, Sergio Rial anunciou que estava de saída do cargo e da companhia.

O executivo, que já foi presidente do Santander, resolveu renunciar ao identificar sinais de um rombo de R$ 20 bilhões não contabilizados no balanço desta que é uma das maiores varejistas do País.

Segundo comunicado relevante enviado aos investidores ontem de noite, as  inconsistências são referentes ao exercício de 2022 e anos anteriores.

O diretor de relações com investidores, André Covre, que ingressou na companhia com Sergio Rial, também renunciou ao cargo.

A companhia já informou que os R$ 20 bilhões identificados se referem a empréstimos para compras junto a fornecedores que não foram reportados da maneira adequada no balanço. Um comitê independente vai apurar o caso.

Rombo pode ser maior

Em reunião fechada com clientes do banco BTG, Rial disse os R$ 20 bilhões em inconsistências no balanço se relacionam a "risco sacado que não era lançado como dívida".

"Basicamente, estamos dizendo que a dívida da companhia é maior", afirmou o executivo. Ele acrescentou que a companhia vai precisar de capital e que, para isso, os acionistas de referência já foram contactados e eles têm mostrado comprometimento com a varejista.

Rial disse que o problema se arrasta por cerca de 7 a 9 anos e que parte das inconsistências pode vir a ser lançado como Perdas e Ganhos da empresa. "Os R$ 20 bilhões são a melhor estimativa do que vimos em 9 dias", afirmou.

Rombo de R$ 20 bilhões da Americanas é o equivalente ao valor de mercado da Magazine Luiza ou da Lojas Renner - FOTO: Divulgação

Segundo levantamento do TradeMap, o volume do rombo de R$ 20 bilhões previsto no balanço da Americanas é equivalente ao valor de mercado da Magazine Luiza do último pregão, que fechou em R$ 20,20 bilhões, ou da Lojas Renner, que valia R$ 20,22 bilhões no mesmo período.

Também de acordo com estudos de Einar Rivero, da TradeMap que considera o comportamento de AMER3 desde 2017, há uma valorização de 63,27% desde 16 de dezembro de 2022, quando AMER3 atingiu sua menor cotação, de R$ 7,25, nos últimos 5 anos, até esta quarta-feira, 11 de janeiro a R$ 12,00. 

Considerando a série histórica do papel nesses 5 anos, seu preço máximo foi alcançado no dia 03 de agosto de 2020, a R$ 122,80. Nesse intervalo, a queda até o dia 11 de janeiro de 2022 foi de -90,24% e de -94,22% até o mínimo no dia 16 de janeiro de 2022.

Já em período de valorização,no dia 14 de julho de 2017, a ação chegou a R$ 12,25, com alta de 903,20% até 3 agosto de 2020. 

Setor recua em bloco

Como reflexo, os papeis das companhias de varejo recuam em bloco nesta quinta-feira. Entre as maiores baixas do Ibovespa, o destaque vai para Via e Magazine Luiza.

Sobre o autor
Renato JakitasEditor-chefe do Portal Mais Retorno.