Mercado Financeiro

O que é e como funciona o ajuste no preço dos meus ativos?

Nível da oferta e da procura é fundamental na formação de preço do ativo

Data de publicação:23/06/2022 às 04:23 - Atualizado 2 anos atrás
Compartilhe:

Você já parou para pensar em quais são os motivos que fazem com que um investimento seu se valorize ou desvalorize? Essa é uma situação que muitos investidores ainda possuem dúvidas, especialmente quando há um caso de ajuste de preço — como é o pagamento de dividendos, conforme veremos na sequência.

Pagamento de dividendos, cupom e outro rendimento extra também influencia o preço - Foto: Reprodução

Embora seja algo natural e que possa ser percebido ao longo do tempo como investidor, é muito importante compreender os fatores que impactam o preço dos ativos até mesmo como ferramenta de tomada de decisão sobre investir ou não em uma ação ou um título de renda fixa, por exemplo.

O que influencia o preço de um ativo?

Em primeiro lugar, geralmente o fator que movimenta o valor dos ativos (sejam eles de renda fixa ou de renda variável) está originado na economia — algo que se reflete nos preços por meio de uma lei bem conhecida: oferta e demanda.

Imagine, por exemplo, que você venda caixas de morango a R$10 e possua dez caixas. No entanto, temos quinze pessoas dispostas a comprar o produto. Como há um maior interesse de compra do que de venda, é possível aumentar o custo da caixa de morango. E vice-versa.

Essa clássica relação econômica também se reflete nos ativos do mercado financeiro por meio das negociações entre investidores. Após realizar a emissão de papéis na bolsa (processo chamado de IPO), uma companhia recebe o capital dos seus acionistas e esses compradores passam a ter uma participação na empresa.

A partir desse momento, eles podem vender os seus papéis na bolsa, dentro do que se chama de "mercado secundário" (quando a negociação é feita entre investidores, sem a participação da empresa). E aqui se faz valer a lei da oferta e da demanda que rege a economia global.

Quando uma empresa vai bem ou a economia vive um cenário otimista, é normal que muitas pessoas se interessem em comprar ativos. Se há mais compradores do que vendedores, eles precisam pagar mais caro pelos papéis e, consequentemente, o valor do ativo acaba se valorizando.

E da mesma forma, quando o cenário econômico é negativo, os investidores passam a querer vender os seus ativos — e, em muitas vezes, a "qualquer preço" em função de um certo desespero. Se há uma pressão vendedora, com mais acionistas querendo se desfazer do papel, então ocorre uma natural desvalorização.

Essa, entretanto, é a movimentação normal de rotina dentro do mercado financeiro. Existem outros eventos específicos que afetam o preço dos seus ativos, ajustando o valor de negociação, mas sem necessariamente impactar o patrimônio do investidor. Vamos entender os casos mais comuns.

Ajuste de preço no desdobramento e grupamento de ações

Um caso clássico de ajuste no preço dos ativos é o desdobramento de ações. Esse é o nome de um processo no qual as empresas querem aumentar o número de papéis disponíveis no mercado, mas sem realizar uma nova oferta (processo chamado de follow-on). É uma prática comum quando a gestão quer aumentar a liquidez dos seus ativos.

Neste caso, elas podem simplesmente dividir a quantidade de ações no mercado, algo que naturalmente vai dividir o preço dos papéis, mas sem afetar a posição patrimonial dos seus investidores.

Uma boa analogia para esse processo é a troca de notas de dinheiro. Imagine que você tenha R$100. É possível trocar essa única nota por duas de R$50 ou cinco de R$20. Neste caso, teríamos um "desdobramento" do dinheiro na proporção de 1:2 ou de 1:5, respectivamente. Note que o valor total segue o mesmo (R$100), mas agora você teria duas ou cinco notas.

A companhia pode, por exemplo, definir um desdobramento de uma para duas ações (1:2). Ou seja, vamos supor que você tinha 10 ações de Itaú a um preço de R$50 cada uma. Neste caso, você passaria a ter 20 ações da empresa ao preço de R$25 para cada papel. A sua posição no Itaú não foi alterada, mas o preço será diferente a partir de então.

Pagamento de dividendos e JCP

Outra situação que pode afetar diretamente o preço dos ativos é o pagamento de dividendos. Neste caso, o que uma companhia faz é pegar uma parte do seu caixa e dividir com os acionistas. No entanto, ao fazer isso, ela reduz o seu valor de mercado — afinal, o preço de uma empresa divide-se em geração de caixa, ativos (bens e direitos) e o patrimônio do negócio, que é reduzido quando há uma saída de caixa.

Imagine que uma empresa possua R$1.000.000 como valor de mercado e realize a distribuição de R$50.000 em dividendos aos seus acionistas. Isso representa uma saída de 5% de caixa. E, como o mercado sabe disso, a tendência é que, no dia seguinte ao pagamento, as ações da companhia se desvalorizem em 5%, ajustando a precificação do ativo ao seu valor atual.

Note que, apesar desse ajuste no preço do papel, ele não representa uma perda de valor ou de fundamentos do negócio. Trata-se apenas de uma correção devido à nova posição de caixa da empresa. É como se o investidor tivesse dois bolsos com notas de R$50 e passasse algumas delas de um para outro.

Ou seja, em outras palavras, o dinheiro que aparentemente foi "perdido" com a desvalorização das ações é pago em dividendos. Portanto, esse capital não se desvalorizou: apenas mudou de "bolso" dentro dos seus investimentos.

Pagamento de cupom

Por fim, ainda precisamos mencionar o pagamento de cupom — que é uma distribuição semestral de rendimentos para o mercado de renda fixa. Ou seja, é a mesma lógica que aprendemos para os dividendos, mas aplicada aos títulos de renda fixa (sejam eles públicos, bancários ou privados).

Importante mencionar também que os títulos, embora possuam data de vencimento, são marcados a mercado — o que significa que são precificados diariamente, representando as condições econômicas daquele dia. Contudo, caso não ocorra um resgate por parte do investidor, essa variação é teórica: o recebimento será o mesmo do acordado no dia de pagamento do título.

Price Return ou Total Return: qual a diferença?

Ao analisar o preço dos ativos no mercado financeiro, você vai encontrar duas formas de cálculo: Price Return e Total Return — "Retorno do Preço" e "Retorno Total", em tradução para a língua portuguesa. Mas qual é então a diferença desses dois formatos?

O Total Return representa o retorno total de um ativo. Isto é, além da natural variação de preço em função da negociação dos investidores, entram para esse contato o pagamento de dividendos, rendimentos ou, para os títulos de renda fixa, o pagamento de cupom.

Já o Price Return traz uma abordagem exclusivamente sobre o preço do ativo. Neste caso, portanto, não são considerados esses pagamentos adicionais de modo a compreender apenas como a cota, a ação ou o título performou em termos de negociação.

Essa diferenciação é interessante para que o investidor consiga visualizar o impacto positivo dos eventos como dividendos ou rendimentos no longo prazo dos seus investimentos.

LEIA MAIS:

Sobre o autor
Stéfano BozzaFormado em Administração pela PUC-SP. Trabalhou em empresas do segmento financeiro (Itaú BBA) e varejo (BRMALLS) até 2016, quando iniciou a jornada de produção de conteúdo para a internet com foco em finanças.