Fundos de Investimentos

Com inflação de 0,59% em outubro, 18 fundos de renda fixa encerram mês com retornos acima de 1,70%

Exposição à inflacão permite rentabilidade diferenciada no mês

Data de publicação:08/11/2022 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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Se agora todos falam sobre o fim da deflação, e o IBGE divulga uma variação positiva da inflação de 0,59% em outubro, 18 gestores que investem apenas em títulos públicos sabiam que a tendência era essa antes. Eles encerraram o mês de outubro apostando na volta da alta dos preços e, graças a isso, turbinaram os seus respectivos fundos de renda fixa com uma alta superior a 1,70% no período - retorno bem acima do pouco mais de 1% oferecido pela taxa Selic.

O levantamento, compilado pela Mais Retorno a partir dos dados de outubro, apontam para 18 fundos, muitos deles geridos por bancos tradicionais, como Banco do Brasil (BB), Itaú, Bradesco e Caixa, até corretoras como Órama, do Grupo Globo, e a Warren, de Tito Gusmão.

Com a aposta na volta da inflação, eles conquistaram uma rentabilidade bem emparelhada, quase que padronizada, que vai de 1,90% ao mês para o líder, até 1,75% para o último do ranking, já descontando todas as taxas.

FundoRend. em outubroRend. 2022
BTG Pactual Tes. IPCA Curto1,90%8,96%
Warren IPCA Curto FI RF Simples1,89%8,99%
Trend Inflação Curta1,89%8,86%
BB RF LP Inflação IMA B 5 Private1,89%8,88%
BB RF LP Tesouro Inflação Curta1,88%8,81%
Itaú Index Juros Reais1,87%8,69%
Bradesco FIC FI Inflação Curta1,87%8,68%
Santander FIC FI PB Ima B 51,86%8,64%
BB Previdenciário RF IDKA 21,85%8,72%
Itaú RF Juros Reais1,84%8,33%
BV Inflation RF FIC FI1,84%8,58%
FI Caixa Brasil IDKA IPCA 2A 1,83%8,48%
Banrisul Foco IDKA IPCA 2A1,81%8,72%
Santander FIC FI Inflação1,79%7,78%
Itaú RF IMA B 5 1,79%7,78%
Daycoval RF Alocação Dinâmica1,77%8,55%
Órama Inflação FI RF IPCA1,77%8,12%
Western Asset IMAB5 Ativo1,75%7,80%
Fonte: Rastreador de Fundos da Mais Retorno

São fundos, identificados em muitos pelo próprio nome, que têm como estratégia a exposição, em posição comprada, à inflação. Uma exposição que se materializa pela presença maciça de Notas do Tesouro Nacional da série B (NTN-B) na carteira, explica Mateus Bartolomeu, gestor da Órama Investimentos.

O ranking do mês é liderado pelo BTG Pactual Tesouro IPCA Curto FI RF Referenciado, que rendeu 1,90%, seguido pelo Warren IPCA Curto FI RF Simples, com 1,89%. O fundo que completa a lista dos 18 mais, o Western Asset IMA B 5 Ativo FI RF, acumulou rendimento de 1,75% em outubro.

A inflação como protagonista nos fundos de renda fixa

“O retorno mais robusto em outubro não tem a ver com o fundo em si, mas com a classe ‘inflação’, mais especificamente com a inflação curta”, avalia Alexandre Costa, analista de fundos da Empiricus Research.

Com efeito, esses títulos indexados à inflação emitidos pelo Tesouro Nacional compõem majoritariamente o portfólio desses fundos. NTNs-Bs de vencimentos mais curtos, entre 2023 e 2025, dividem espaço com os de ciclos intermediários, entre 2026 e 2027 e outros até mais longos. 

E foi com a carteira ancorada preponderantemente nesses papeis que os gestores embarcaram na estratégia comprada em inflação, “que joga a favor desses fundos com essa composição de portfólio”, diz Bartolomeu.

Fundos de renda fixa renderam até 1,90% no mês, enquanto a Selic está pouco acima de 1% - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A estratégia bem-sucedida que rendeu bons frutos foi a aposta no fim da deflação, após um período de três meses de inflação negativa, iniciado em julho. “Os fundos com NTN-Bs em carteira sofreram muito com a deflação, renderam bem abaixo do CDI (o benchmark dessa classe de ativos)”.

Além do fim do ciclo da deflação, “em outubro houve uma virada de cenário, com revisão na projeção de inflação futura pelo mercado, a partir da ideia de mais gastos do governo com a perspectiva de vitória do candidato Lula”. A inflação impacta o rendimento da NTN-B, título público que remunera com juro real prefixado mais correção monetária pelo IPCA.

A expectativa do mercado com as eleições presidenciais influenciou o cenário de inflação e impactou a rentabilidade dos fundos de renda fixa com a carteira ancorada em NTN-Bs. Principalmente os fundos com portfólio alocado em títulos de vencimentos mais curtos, os que mais se beneficiaram com a revisão de estimativas de inflação.

Os fundos com títulos de ciclos mais curtos, com vencimento em até cinco anos, são os que renderam bem porque os papeis embutiram prêmio adicional, diz Sérgio Evangelista, gestor de portfólio da Western Asset.

Após o período de deflação, que impactou negativamente a rentabilidade, a perspectiva de volta da inflação, olhando à frente, fez com que as NTN-Bs voltassem a atrair compradores. “Essa procura fez com que os prêmios ou os juros adicionais caíssem e o preço dos títulos se valorizassem”, pelo efeito de marcação a mercado.

“A perspectiva de fechamento do juro real em 2023 e ao longo de toda a curva de juros leva à valorização do papel prefixado, como a NTN-B”,  em poder do investidor, pelo processo de atualização de seu preço no mercado. “A diminuição da taxa prefixada do papel tem, como efeito inverso, a valorização de seu preço.”

A rentabilidade desses papeis é resultado de sua valorização no mercado e da correção monetária pela inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (Amplo).

A pitada de estratégia mais diversificada

Carteira alocada quase que totalmente em NTN-Bs não é estratégia única dos fundos que compõem esse ranking de 18 mais rentáveis. O Western Asset IMA B 5 Ativo é um deles. “Além de títulos atrelados à inflação de até cinco anos, a estratégia do Western usa derivativos prefixados para tentar aproveitar a queda dos juros”, afirma Evangelista.

Uma estratégia que remete a uma das principais perguntas de gestores, quando o Banco Central deve iniciar o ciclo de corte dos juros. “Mantido o cenário econômico atual, a Selic deve começar a cair na passagem do terceiro para o quarto trimestre de 2023”, prevê Bartolomeu, da Órama.

Ele diz que é uma estimativa segue o cenário-base de momento e tudo vai depender de outras variáveis, que começa pela escolha do novo ministro da Fazenda do novo governo Lula, da política econômica, do arcabouço fiscal e de tudo o mais que pode ter impacto na inflação.

Taxa de administração impacta a rentabilidade?

Um dos dados que, além da rentabilidade, chamam a atenção no ranking é a taxa de administração cobrada pelos fundos. Os custos variam de 0,1%, no Warren IPCA Curto FI RF Simples, a 1,50% ao ano, no Santander FIC FI Inflação RF.

Com carteiras bem parecidas, alocadas em títulos indexados à inflação, e taxas de administração tão díspares, a diferença de rentabilidade não passa de 0,10 ponto porcentual. O Warren IPCA Curto rendeu 1,89% e o Santander FIC FI inflação, 1,79%, em outubro.

Para especialistas, a discreta diferença entre esses 2 fundos de renda fixa estaria associada à presença de NTN-Bs mais longas na carteira do Santander Inflação, portanto com duration maior, que teriam sido beneficiadas pelo fechamento geral da curva de juros. Uma abertura da curva de juros, por sua vez, teria tido efeito contrário e impactado negativamente o rendimento do Santander.

Em período mais dilatado para a comparação, no entanto, nos 10 meses de 2022, a diferença passa a crescer: enquanto o Warren IPCA tem rendimento de 8,99%, é o campeão entre os 18, o Santander Inflação rendeu 7,78%, o mais baixo desempenho dentro dessa seleção.

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Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.