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Consumismo, depressão e a expectativa irrealista dos jovens, ilustração.
Mercado Financeiro

Consumismo, depressão e a expectativa irrealista dos jovens

No mês de setembro, lançou-se uma campanha para a conscientização da população sobre o suicídio (“Setembro Amarelo”), principalmente entre os mais jovens. Alguns dados mostram porque…

Data de publicação:06/11/2019 às 09:57 -
Atualizado 4 anos atrás
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No mês de setembro, lançou-se uma campanha para a conscientização da população sobre o suicídio (“Setembro Amarelo”), principalmente entre os mais jovens.

Alguns dados mostram porque o tema se tornou tão importante:

  • Aumento de 536% dos casos de tentativa de suicídio, automutilações e autoagressões no país, em um período de 8 anos;
  • Aumento de 18,4% dos casos de depressão em todo o mundo;
  • Nos próximos 2 anos, a depressão será a doença mais incapacitante da humanidade.

Essas estatísticas apresentam uma triste realidade: os jovens não conseguem lidar com as frustrações da vida. Sem um propósito, eles não veem motivos para lutar diante da adversidade, cercando-se de desesperança.

É fato que em situações de dificuldade econômica, como as que enfrentamos em um passado recente, o suicídio e a depressão aumentam.  Mas isso não parece ser a principal causa: nos Estados Unidos, que atualmente apresenta baixíssimos índices de desemprego, os suicídios voltaram a crescer na última década.

Percebe-se então que esse fenômeno não está associado à falta de oportunidades.

O que mudou?

O que mudou nos jovens, ilustração.

Apesar dos sintomas estarem atrelados ao contexto familiar e socioeconômico, existem alguns elementos que agravam o quadro.

O tempo de exposição às redes sociais é um deles. Um estudo da “Preventive Medicine Reports” mostra que jovens conectados às redes sociais por no mínimo 7 horas diárias apresentam o dobro de chances de desenvolver depressão do que aqueles que permanecem conectados por apenas 1 hora. Resumindo: ao se isolar, o indivíduo perde o contato com a realidade.

Esse fenômeno é mundial, como mostram outros levantamentos. Uma pesquisa conduzida com jovens canadenses, com idades entre 12 e 16 anos, apontou que eles apresentam sentimentos conflitantes quando expostos a padrões de vida luxuosos e o mecanismo de validação social via “likes”, distorcendo o conceito que possuem de “felicidade”.

O que se pode constatar dessas evidências é que, apesar das fotos postadas representarem apenas “registros” de momentos de alegria, elas transmitem a ideia de que as pessoas estão felizes o tempo todo.

Um outro problema é que essa felicidade está atrelada à posse de um smartphone, que não é necessariamente acessível (a versão mais simples do iPhone 11 custa aproximadamente R$ 5.000). Afinal, sem ele, não há o que registrar e muito menos compartilhar. A partir daí, pode ser qualquer coisa, até o aluguel de um iate para dar uma festa.

As empresas de internet, responsáveis por criar esse mundo virtual, não podem fazer muita coisa em relação a esses “efeitos colaterais” dada a realidade que estão enfrentando:

  1. Falta de credibilidade, com as denúncias de vazamento de dados;
  2. Maior controle pelos órgãos governamentais, que pode matar a sua própria essência (facilidade de comunicação e inovação).

O que não mudou?

O que não mudou nos jovens, ilustração.

Com toda a tecnologia disponível, o ser humano ainda é o mesmo quando se trata de desvios comportamentais.

Émile Durkheim, na sua obra de 1897, “O Suicídio”, mostra que os indivíduos adotam os extremos:

  • Forte senso de pertencimento a um grupo, obedecendo-o passivamente ou;
  • Não se identifica com absolutamente nada.

Assim, basta que uma pessoa externe o seu descontentamento para que uma grande quantidade de pessoas se identifique com ela, sem que necessariamente seja essa a sua dor.

O filme “Coringa” retrata isso de uma forma espetacular. Um menino órfão, que é adotado por uma mãe com distúrbios psicológicos e que sofre agressão a vida inteira, se torna o herói dos menos favorecidos em uma sociedade disfuncional.

Nesse ambiente, tudo é justificável, pois representa a forma de lidar com a frustração.

Qual é a realidade?

Qual é a realidade dos jovens, ilustração.

Uma pesquisa recente da ANBIMA encontrou o seguinte:

  • 58% dos entrevistados não tinham nenhum tipo de investimento em 2018.

Em um contexto onde:

  • As pessoas estão vivendo mais;
  • A reforma da Previdência vai mudar os critérios de acesso ao benefício;
  • Os juros são os menores da toda a história recente (negativos em boa parte do mundo e extremamente baixos no Brasil);
  • O maior empregador do país é o mercado informal;
  • As novas vagas, com carteira registrada, pagam no máximo dois salários mínimos.

Dados semelhantes foram encontrados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), 4,1% dos recursos das famílias são direcionados para a formação de patrimônio, justamente aquilo que gera riqueza. A título de comparação, esse percentual era de 16,5% na década de 70.

O motivo para esse percentual tão baixo? As dívidas, que passam a ter um peso muito maior quando a economia cresce pouco. Ao contrário dos ciclos econômicos, a capacidade da nuvem, onde são armazenadas todas as aquelas fotos incríveis que circulam na internet, não diminui e muito menos sofre recessão.

Se as pessoas não conseguem seguir as 3 regras básicas de educação financeira:

  1. Uma fonte de renda que possa ser aumentada ao longo do tempo;
  2. Um acompanhamento rigoroso das despesas;
  3. Uma sobra que gere uma reserva de segurança e o aumento do patrimônio.

O que elas podem esperar em relação ao futuro, além daquilo que é oferecido pelas inúmeras pirâmides financeiras que surgem todos os dias?

Quem ficou rico?

Quem ficou rico, ilustração.

O YouTube que tem uma receita infalível para investir na bolsa? Certamente não!

Ganhou quem estava longe das redes sociais, prestando atenção aos mercados nos últimos 10 anos. Não é novidade para ninguém que esse foi o grupo que presenciou a mais espetacular valorização dos ativos dos últimos tempos.

Dito isso, não ficou rico quem fez de conta que era milionário, mas quem estudou e, com disciplina, comprou cada um dos ativos de sua carteira. Hoje, felizmente, o conceito de que a riqueza é decorrente da formação de patrimônio já se fixou no consciente coletivo.

Uma pesquisa da empresa Route Automotive, que coleta dados para a indústria automobilística, detectou que os consumidores entre 18 e 24 anos dariam preferência a investir caso tivessem R$ 40 mil disponíveis. O problema é que eles não têm ideia de como conseguiriam esse dinheiro.

Os entrevistados nem sequer consideraram priorizar o pagamento de dívidas, resposta que apareceu em segundo lugar. Dito isso, esperam que o dinheiro para investir, além das outras coisas que definem o seu padrão de vida, como carro e apartamento, venham dos próprios pais.

Mesmo que os provedores da família tenham o planejamento sucessório em mente, se antecipando a qualquer aumento de tributação sobre fortunas no futuro, ainda assim algumas perguntas precisam ser feitas:

  • Seria o patrimônio suficiente para sustentá-los quando alcançarem uma idade mais avançada?
  • Estariam os herdeiros preparados financeiramente para arcar com os custos (manutenção e impostos) daquilo que recebem, dada a baixa propensão a formar patrimônio por conta própria (como mostram os 4,1% já citados anteriormente)?

Conclusão

O mundo virtual é bem diferente do mundo real. Quanto mais tempo se vive conectado, maior o distanciamento da realidade, fazendo com que as pessoas, de um modo geral, tenham expectativas distorcidas em relação à vida.

Como consequência, a depressão, que antes era mais comum em provedores que enfrentavam dificuldades financeiras, se tornou o principal problema entre os jovens. Ao contrário da dor física, a dor psicológica não é algo que cicatriza com o tempo. Ela permanece, agravando o quadro e causando desvios de comportamento que levam a extremos, para dizer o mínimo.

É fato que o conceito de felicidade deixou de ser intrínseco, aderente às crenças e valores individuais de cada um, para se tornar aquilo que a sociedade valida, na forma de bens de consumo e experiências. Na guerra pelo maior número de “likes”, ganha o que for inatingível.

Enquanto as pessoas se distraem com o que ocorre de bom e de ruim nas redes sociais, elas pouco percebem o quanto estão sendo influenciadas, sem nem mesmo se darem conta que o mundo ao seu redor mudou.

Uma quantidade maior de idosos na sociedade, um mercado de trabalho que não oferece estabilidade e um ambiente de juros extremamente baixos em nada se parecem com as fotos de festas e viagens amplamente compartilhadas na internet.

Ninguém pode ser ingênuo de achar que a “bala de prata” (a solução perfeita) está em algum modismo qualquer que dá alto retorno em pouco tempo. Quem é de gerações anteriores sabe, pela própria experiência, que a riqueza não aparece baixando um aplicativo. O que hoje é distribuído aos filhos levou décadas para ser formado.

Para os sortudos que recebem essa riqueza, eles dificilmente vivenciarão a mesma valorização dos ativos dos últimos 10 anos.  Afinal, a expectativa é que o mundo cresça muito menos nos próximos anos.

Está mais do que na hora desses jovens virarem a tela do smartphone para baixo e pararem para pensar no que querem da vida. O business plan não serve só para fundar a startup. Com a mesma internet que se deslumbram, podem encontrar temas do seu interesse para desenvolver a própria autonomia e a autoconfiança, sem precisar da validação de ninguém.

“A loucura é como a gravidade. Só precisa de um empurrãozinho...”

Coringa
Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.
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