Fundos de Investimentos

O que é Taxa de administração e Taxa de performance (e alguns pontos pouco conhecidos)

É muito comum vermos em textos sobre educação financeira que devemos avaliar com muito cuidado os custos de um investimento antes de tomar qualquer decisão. Nesse…

Data de publicação:20/03/2017 às 06:13 - Atualizado 3 anos atrás
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É muito comum vermos em textos sobre educação financeira que devemos avaliar com muito cuidado os custos de um investimento antes de tomar qualquer decisão. Nesse sentido, a recomendação mais tradicional é que se escolha sempre as opções com os menores custos. No caso dos fundos de investimento, portanto, os escolhidos seriam aqueles com a menor taxa de administração e taxa de performance.

Porém, essa escolha pode ser tão óbvia assim e como você verá, existem alguns detalhes sobre essas taxas desconhecidos pela maioria dos investidores.

 Taxa de Administração

Para conhecer uma forma descomplicada também de entender sobre esta taxa, temos um vídeo exclusivo no Youtube para você. Acompanhe:

A taxa mais comum e mais conhecida pelos investidores é a taxa de administração, apontada por muitos como a grande vilã dos resultados dos fundos.

Essa taxa representa o preço pago pelos cotistas pela prestação dos serviços do fundo. Ou seja, nesse custo já estão embutidos o pagamento do gestor, do administrador, custodiante, auditor e demais instituições ou custos implícitos da estrutura do fundo.

Apesar de ser sempre divulgada em valores anuais, Taxa de Administração é é provisionada diariamente e cobrada ao final de todo mês.

Complicou? Calma, é mais simples do que parece. Esse sistema funciona assim:

Se você aplicar em um fundo que cobre uma taxa de administração de 2% ao ano, todos os dias será provisionado (reservado pelo fundo) o valor de 0,007859%. Ao final do mês será pago (efetivamente cobrada) uma taxa equivalente de 0,1652%.

Colocando em termos práticos fica assim: Se você aplicasse R$ 100.000,00 em um fundo que cobra uma taxa de 2% a.a., você pagaria o valor equivalente de R$ 2.000,00 no ano, R$ 165,15 no mês ou R$ 7,85 por dia.

Claro que isso é apenas uma estimativa, pois o valor do seu capital no fundo varia todos os dias e consequentemente o valor efetivo pago também oscilará ao longo desses dias.

Esse inclusive é um dos motivos de a taxa ser provisionada diariamente (para captar essas oscilações).

O grande problema dessa taxa e o principal motivo da não recomendação por parte dos especialistas a respeito dela é que independente do resultado que o fundo apresentar, você terá que pagar pelos serviços prestados no período aplicado, sejam eles bons ou ruins.

O que você pode não saber sobre a taxa de administração

O detalhe importantíssimo que gosto de destacar e que a maioria dos investidores desconhece, é que no Brasil todos os fundos são obrigados a divulgar os resultados já descontando a taxa de administração.

Ou seja, quando você olhar o histórico de um fundo que rendeu 20% em 2012, por exemplo, quer dizer que ele rendeu exatamente isso em termos líquidos de custos. Desse resultado você só precisa descontar o Imposto de Renda para saber o quanto valorizaria seu dinheiro.

E por isso chamei a atenção para a questão de escolher simplesmente o fundo com a menor taxa de administração.

Em fundos Referenciados-DI, de Renda Fixa ou de Curto Prazo, nos quais o valor dessa taxa tem uma grande influência em relação a seus resultados, essa regra faz todo o sentido.

Por outro lado, você já conseguiria identificar essa influência diretamente pelo resultado do fundo, uma vez que essa taxa já está descontada.

Ou seja, se a taxa de administração realmente for alta a ponto de atrapalhar o resultado do fundo, você já conseguirá visualizar facilmente isso no histórico de rentabilidade do fundo.

Veja no exemplo abaixo:

Note que se avaliarmos o resultado de dois fundos em uma comparação como esta acima, já veremos de cara a influência da cobrança de uma taxa de administração elevada, uma vez que esta já está descontada nos resultados. Lembrando que fundos referenciados DI investem, em geral, em títulos muito parecidos.

Portanto, dizer que a melhor alternativa é investir no fundo com os menores custos acaba sendo redundante e agrega pouco para a tomada de decisões.

Em outras palavras, é evidente que o fundo com o menor custo vai entregar o melhor resultado, mas se você já estiver escolhendo o fundo com o melhor retorno histórico, avaliar a variável custo se torna desnecessária.

Quando avaliamos fundos que possuem resultados mais voláteis e potencialmente maiores, como fundos multimercado e de ações essa situação fica ainda mais clara.

Além do ponto citado anteriormente ter o mesmo efeito nesses fundos, essa taxa perde em grande parte sua relevância na análise da escolha do melhor fundo.

Isso acontece, pois a taxa de 1%, 2% ou 3% pouco influenciará o resultado de um fundo de ações que pode apresentar, por exemplo, oscilações de mais de 100% em seus resultados.

Nesses casos, nem sempre o fundo com a menor taxa de administração será o fundo que apresentará o melhor resultado histórico, pois a gestão no caso desses fundos é muito mais importante que os custos em si.

Por isso, ao escolher um fundo dessas categorias o último fator que você deverá se preocupar é a taxa de administração cobrada.

Claro, desde que esses valores não sejam algo abusivo e completamente fora dos padrões de mercado (que giram em torno dos 2%a.a. no Brasil).

Taxa de Performance

Apesar de a primeira vista essa taxa parecer ruim por ser mais um custo, por incrível que pareça ela é muito mais justa e alinhada com os seus interesses do que aparenta. Certamente essa é uma das cobranças mais honestas praticada pelo mercado financeiro.

A taxa de performance é cobrada do cotista como um prêmio ao gestor do fundo quando a sua rentabilidade supera a de seu benchmark.

Em termos práticos, vamos supor que você invista em um fundo cobre taxa de performance de 20% e seu benchmark é o CDI.  Neste ano o CDI rendeu 10% e seu fundo 15% no mesmo período. Nesse caso a taxa de performance incidirá apenas sobre os 5% excedentes, sendo que 20% (1% da rentabilidade excedente) ficarão com o gestor e os outros 80% (4% da rentabilidade excedente) ficarão com você.

Essa não é uma taxa cobrada por todos os fundos e geralmente é encontrada naqueles com uma gestão mais ativa, como os multimercado e de ações.

Um dos princípios básicos da economia é o de que as pessoas reagem a incentivos. Logo, quando há um forte alinhamento de interesses entre duas partes ambas tendem a sair com ganhos de uma negociação.

E é por isso que ao contrário da taxa de administração, a taxa de performance pode ser vista como fator de escolha e não de rejeição pelo investidor. Afinal, gestores de fundos que cobram taxa de performance tendem a se esforçar mais para cumprir seu objetivo e receber sua parte dessa conquista.

Agora atenção para uma super dica: você está gostando de saber um pouco mais sobre essas taxas? Então aproveita para conhecer o nosso curso COMPLETO sobre fundos de investimentos, nesta plataforma você tem como tirar suas dúvidas e aprender ainda mais sobre este tema no detalhe, clica aqui para acessar.

O que você pode não saber sobre a taxa de performance

Assim como a taxa de administração, os fundos provisionam mensalmente a taxa de performance que será cobrada. Contudo, neste caso os fundos são obrigados a recolher essa taxa em períodos de pelo menos um semestre ou mais.

Outro detalhe pouco conhecido pelos investidores são:

  1. O benchmark escolhido pelo fundo deve ser ser relacionado à sua categoria. Ou seja, fundos de baixa volatilidade como renda fixa e DI devem tentar superar o CDI ou outro índice de baixa volatilidade relacionado. Fundos de ações deverão buscar o Ibovespa ou qualquer outro índice ou indicador relacionado ao mercado de ações;
  2. O objetivo do fundo deve ser superar no mínimo 100% desse benchmark. Afinal de contas, seria muito fácil (além de não fazer o menor sentido sentido), um fundo de ações que tivesse como objetivo superar 50% do CDI, não é?
  3. Um último ponto importantíssimo e também praticamente desconhecido pelos investidores é a adoção da prática chamada de "linha d'água".

De acordo com esse princípio, quando um fundo perder para seu benchmark em determinado período, a taxa de performance deverá ser "devolvida" ao cotista. Desta forma, caso um fundo tenha ganhos após um período de perdas, a performance remuneraria o gestor será compensada, descontando essas perdas em seu cálculo.

Essas regras valem para quaisquer fundos de investimentos negociados no Brasil. É por isso que devemos tomar muito cuidado com alguns conceitos que encaramos como verdades absolutas para determinadas situações.

Como vimos, "cada caso é um caso" e existem muitas informações que são pouco divulgadas, em especial para o pequeno investidor.

As vezes alguns conceitos que carregamos como verdades absolutas podem não valer para todos os casos e precisam ser revisados.

Sobre o autor
Felipe MedeirosEconomista e empreendedor do mercado financeiro há mais de uma década, tem como objetivo compartilhar suas experiências e se conectar com outros investidores e entusiastas do mercado. É fundador do Mais Retorno e autor da série de livros "Investidor Especialista".
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