Mercado Financeiro

Reforma tributária e risco político testam o mercado nesta segunda-feira

Depoimento dos irmãos Miranda na CPI da covid-19 pode trazer tensão aos negócios

Data de publicação:28/06/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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O mercado financeiro dá sinais de que pode iniciar os negócios desta semana, que fecha junho e o primeiro semestre, com um sentimento misto de mau humor e cautela.

Mercado continua digerindo perspectiva de imposto em lucros e dividendos e de olho na CPI da covid-19 - Foto: Envato

Para especialistas, a tendência é que os investidores continuem debruçados sobre as novas regras da proposta de reforma tributária, enviada pelo governo ao Congresso na última sexta-feira, 25, que provocou reação negativa dos mercados.

O sentimento de desaprovação ficou cristalizado na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, que fechou com desvalorização de 2,09% e no dólar, que avançou 1,03%, interrompendo uma série de quatro baixas consecutivas.

Especialistas avaliam que o projeto de reforma tributária deve levar a um aumento indireto de carga de impostos sobre empresas. O texto do governo prevê redução gradual das alíquotas de imposto de renda de pessoa jurídica de 15% para 10%, mas propõe a taxação de 20% de dividendos, hoje isentos.

O aumento da carga tributária, de acordo com analistas e profissionais do mercado, prejudica o lucro das companhias, com efeitos negativos na bolsa de valores, porque afasta os investidores.

Ao mal-estar criado no dia pela proposta de reforma tributária juntou-se um fato novo, de incerteza política, na sessão da CPI da Covid que, segundo especialistas, comporta ingredientes que devem criar mais embaraços ao presidente Jair Bolsonaro e amplificar os ruídos políticos.

Em depoimento à comissão, na noite de sexta-feira, o deputado Luís Miranda afirmou que ouviu o presidente dizer que sabia do envolvimento de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, no processo de compra da vacina indiana Covaxin, que está sob suspeita.

Luís Ricardo Miranda, irmão do deputado e servidor do Ministério da Saúde, confirmou ter recebido pressões indevidas para liberar a importação dessa vacina.

Desde abril, quando houve a largada da CPI no Senado, até agora, o mercado financeiro tem se limitado a monitorar os depoimentos na comissão, sem reagir de modo mais contundente, à espera dos desdobramentos dos trabalhos de apuração pelos senadores.

Para especialistas, contudo, os depoimentos dos irmãos Miranda podem dar outro rumo ao andamento da comissão de investigação e colocar o presidente Bolsonaro diante de mais dificuldades em um cenário de queda de popularidade e de aprovação a seu governo.

Agenda do mercado

A agenda econômica da semana prevê a divulgação na terça-feira, dia 29, do IGP-M de junho. O índice usado para o reajuste de locação residencial deve continuar pressionado, de acordo com especialistas em preços.

A semana terá também dados sobre o mercado de trabalho, tanto no País como nos Estados Unidos (payroll). Nesta segunda-feira, dia 28, o Caged explicitará o número de empregos formais criados em abril.

Na quarta-feira, 30, o IBGE divulga os dados do PNAD Contínua, com a taxa de desemprego do trimestre encerrado em abril. A expectativa é que suba de 14,6% para 15%.

Na sexta-feira, 2, será divulgada a taxa de desemprego nos Estados Unidos. A expectativa de analistas é que os dados apontem uma redução no número de trabalhadores sem emprego, outro sinal de possível recuperação mais consistente da economia americana.

NY: futuros em leve alta

No cenário externo, os contratos futuros negociados nas bolsas de Nova York operam em leve alta com o mercado refletindo os dados econômicos e as perspectivas sobre o pacote de infraestrutura de US$ 1,2 trilhão defendido pelo presidente americano, Joe Biden, que após sua divulgação segue para o Congresso.

No fechamento da última sexta-feira, 25, o índice Dow Jones subiu 0,69%, aos 34.433,84 pontos, enquanto o S&P 500 teve alta de 0,33%, aos 4.280,70 pontos – renovando seu recorde de fechamento - e o Nasdaq recuou 0,06%, aos 14.360,39 pontos.

Para o analista da Oanda, Edward Moya, o PCE, divulgado na última sexta-feira, atingiu os níveis mais altos desde o início da década de 1990, com a reabertura da economia combinada com os efeitos da base de comparação deprimida do ano passado. “Os dados foram mais um voto de confiança de que a inflação é um campo transitório”, avalia.

De acordo com Moya,  os investidores apoiaram o projeto de lei bipartidário de infraestrutura do governo Biden. A meta é terminar o processo até o recesso de agosto, mas ele acredita que até o final de setembro ou início de outubro é um período mais realista para sua conclusão.

A atual proposta não contempla mudanças tributárias relevantes para pagar pela chamada infraestrutura tradicional.

No entanto, o projeto de "infraestrutura humana, que ainda tem muito debate, não estará vinculado ao projeto bipartidário", e aumentos de impostos acabarão acontecendo quando a segunda conta for negociada, acredita Moya.

CPI da Covid: irmãos Miranda

Os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado seguem movimentados e na atenção dos investidores.

Na última sexta-feira, o colegiado ouviu o deputado Luis Miranda e o irmão do congressista, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde.  

Miranda e o irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, denunciaram à CPI supostas irregularidades na compra da vacina. No depoimento, eles disseram ter avisado Bolsonaro há três meses sobre as suspeitas e sobre uma "pressão atípica" para acelerar a importação.

Na conversa, Bolsonaro teria citado o deputado federal Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, como o parlamentar que queria fazer "rolo" no ministério. Barros foi o autor da emenda que viabilizou a importação da vacina indiana Covaxin, da farmacêutica Bharat Biotech.  

As declarações de Miranda elevaram a pressão sobre o governo. O vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues, afirmou que a comissão irá apresentar nesta segunda-feira, uma representação contra o presidente Jair Bolsonaro na Procuradoria Geral da República (PGR).

O parlamentar acusa o chefe do Planalto de cometer crime de prevaricação ao não ter determinado a apuração de um suposto esquema de corrução envolvendo a compra da vacina indiana.

Em entrevista concedida no último fim de semana ao site O Antagonista, o deputado Luis Miranda afirmou que tem como provar suas declarações. Questionado se não seria a palavra do presidente contra a sua, ele afirmou que Bolsonaro, nesta situação, "vai ter uma surpresa mágica".

"Se ele fizer isso (questionar minha versão), vou ter que fazer algo que nunca um parlamentar deve ter que fazer contra o presidente", afirmou o deputado. "Mas aí ele vai ficar constrangido, muito, porque eu tenho como provar. Mas na hora certa."

E no último domingo, ele utilizou sua conta no Twitter para informar que seu irmão teve seu acesso bloqueado no sistema do Ministério da Saúde.

“Vale ressaltar que ele é funcionário de carreira! Isso é ilegal, perseguição e só comprova que eles têm muito para esconder...”

Chefe de importação do departamento de Logística do ministério, Luis Ricardo relatou ter sofrido pressão para acelerar a importação de doses da vacina Covaxin. Ele apresentou mensagens recebidas em março pelo coronel Marcelo Bento Pires, então coordenador de Logística, cobrando o andamento da negociação.

O servidor lembrou que, no final de março, a Anvisa negou certificado de boas práticas para a Bharat Biotech, empresa indiana que produz a Covaxin.

Bolsas asiáticas fecham em leve baixa

As principais bolsas asiáticas fecharam em baixa marginal nesta segunda-feira, em uma semana que começa sem catalisadores e na expectativa para dados macroeconômicos a ser divulgados no continente e nos EUA.

O índice acionário japonês Nikkei teve leve perda de 0,06% em Tóquio hoje, aos 29.048,02 pontos, enquanto o chinês Xangai Composto recuou 0,03%, aos 3.606,37 pontos.

Já o Hang Seng caiu 0,07% em Hong Kong, aos 29.268,30 pontos, após um pregão encurtado por um alerta de tempestade, e o sul-coreano Kospi cedeu 0,03% em Seul, aos 3.301,89 pontos.

Em outras partes da Ásia, o também chinês e menos abrangente Shenzhen Composto subiu 0,88%, aos 2.463,66 pontos, e o Taiex avançou 0,50% em Taiwan, aos 17.590,97 pontos.

Dados do fim de semana mostraram que o lucro de grandes empresas industriais da China teve expansão anual de 36,4% em maio. Apesar de positivo, o resultado mostrou forte desaceleração em relação a abril, quando o ganho anual foi de 57%.

Nos próximos dias, investidores vão ficar atentos a índices de atividade (PMIs) manufatureira da China e do Japão.

Na Oceania, a bolsa australiana ficou praticamente estável nesta segunda, com baixa de 0,01% do S&P/ASX 200, aos 7.307.30 pontos, num momento de endurecimento de medidas de restrição no país em função de um novo surto de covid-19. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.