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Rateio em IPO: como funciona e diferentes tipos

Quando uma empresa decide abrir seu capital na Bolsa de Valores, ela precisa passar pelo processo chamado de Oferta Pública Inicial (IPO). É nele, como veremos…

Data de publicação:30/01/2020 às 10:00 - Atualizado 4 anos atrás
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Quando uma empresa decide abrir seu capital na Bolsa de Valores, ela precisa passar pelo processo chamado de Oferta Pública Inicial (IPO). É nele, como veremos ao longo do artigo, que é definido o preço por ação no lançamento ao mercado.

Contudo, pode acontecer da demanda pelos papéis superar a expectativa da própria companhia. Em outras palavras, o mercado tem um desejo pelas ações maior ao que a própria empresa pretende distribuir com as suas ações. Neste caso, é preciso recorrer ao rateio entre os investidores.

Se você nunca ouviu falar sobre essa prática, explicaremos tudo que envolve o rateio em IPO.

O que é o processo de IPO?

Antes de entrarmos especificamente na questão do rateio, vale reforçar sobre o que é um IPO. Assim, caso você ainda não domine o processo de abertura de capital por parte das empresas, ainda assim conseguirá acompanhar todo conteúdo sem maiores problemas.

Em primeiro lugar, o IPO nada mais é do que a abreviação para Oferta Pública Inicial, o nome dado ao momento em que uma empresa resolve abrir seu capital para o mercado. Talvez você esteja se perguntando se as iniciais não estão trocadas, mas a razão é que elas se baseiam no nome em inglês — Initial Public Offering.

Trata-se, em suma, de uma série de procedimentos que visam encontrar o preço da ação (bookbuilding) que será emitido ao Mercado de Capitais. O primeiro passo é passar por uma avaliação patrimonial, geralmente feita por empresas especializadas — como bancos de investimentos.

Após a análise sobre o valor da empresa, chega-se a uma faixa de valores próxima ao que será emitido ao mercado. E aqui entra uma etapa chamada de período de reservas: um momento em que investidores definem o preço máximo e a quantidade que desejam pagar pelas ações. Esse valor precisa ser garantido na corretora.

Por fim, a empresa consegue, com base na demanda apresentada, decidir o valor final da sua ação. O problema é que pode acontecer de existir uma solicitação por parte do mercado em quantidade acima do que a empresa pretende emitir em papéis. E é aqui que acontece o rateio em IPO.

Como funciona rateio em IPO?

Durante a fase de reservas, investidores solicitam quantidades e preços para as ações da companhia. Em algumas oportunidades, essa solicitação pode ser maior do que a empresa tem disponível para o mercado.

Em outras palavras, isso significa que os investidores não poderão comprar todos os papéis que desejavam em momento inicial. E, para atender às reservas, é preciso realizar o rateio em IPO. Ou seja, fazer uma divisão das ações disponíveis de acordo com as reservas realizadas.

Para essa divisão, existem dois modelos diferentes. Vamos ver cada um deles a partir de agora.

Método tradicional

A primeira forma de realizar o rateio em IPO é o que se chama de método tradicional. Você também encontrará menções a ele como método proporcional. A sua grande vantagem a simplicidade no cálculo já que considera uma relação proporcional entre oferta e demanda (no caso, as reservas).

Imagine, por exemplo, que uma empresa tenha feito seu IPO e que o valor dos papéis tenha totalizado R$ 100 milhões. Agora, vamos considerar que as reservas tenham somado um total de R$ 250 milhões, gerando a necessidade de rateio.

Usando do método proporcional, o rateio deve fazer a divisão entre os dois valores e encontrar a proporção. Neste caso, teríamos o valor de 40% (100/250). Ou seja, cada investidor teria o direito de comprar apenas 40% da quantidade original reservada.

Se a vantagem da metodologia é a simplicidade no momento da divisão das ações, o lado negativo é que ela prejudica o pequeno investidor. Os donos de grandes fortunas fazem reservas generosas, enquanto que o iniciante na Bolsa de Valores pode ficar com uma oferta muito restrita aos ativos.

Método igualitário e sucessivo

Uma segunda maneira de fazer o rateio em IPO é uma divisão mais igualitária, algo que evita o problema que sinalizamos no método tradicional em relação ao pequeno investidor. Esse segundo método também é chamado de rateio linear.

Aqui, a distribuição das ações é feita uma por uma, independente da quantidade reservada, até atingir o total solicitado pelo comprador. Para que fique mais claro, vamos usar o mesmo valor de R$ 100 milhões para o total das ações de uma empresa fictícia, mas considerando que cinco investidores tenham feito suas reservas nas seguintes proporções:

  • Investidor A: R$ 20 milhões
  • Investidor B: R$ 40 milhões
  • Investidor C: R$ 60 milhões
  • Investidor D: R$ 80 milhões
  • Investidor E: R$ 100 milhões

A soma dessas solicitações totaliza em R$ 300 milhões, três vezes mais do que a empresa disponibilizou. Assim, é preciso fazer o rateio que, neste método, consiste em distribuir uma ação para cada investidor de maneira sequencial até o limite solicitado.

Portanto, cada cinco ações são distribuídas igualitariamente. Uma para o investidor A, outra para o investidor B e assim sucessivamente. Após chegar ao investidor E, voltamos para o investidor A e seguimos com a distribuição.

Quando o investidor A receber o equivalente a R$ 20 milhões, ele sairia do rateio. Neste caso, coincidentemente, esse é o valor exato que cada um irá receber na medida em que totalizaria os R$ 100 milhões disponibilizados pela companhia no seu IPO.

Neste método, ao contrário da versão tradicional, o beneficiado é o pequeno investidor. Quanto menor o volume reservado, maior a probabilidade de conseguir comprar todas as ações desejadas.

Método por ordem de chegada

Em alguns casos, algumas ofertas ainda tem uma terceira alternativa. Alguns fundos imobiliários tem adotado ainda um terceiro método que, basicamente, consiste em fazer o rateio pela ordem de chegada, ou seja, de acordo com a velocidade pela qual as ordens de compra são enviadas.

Novamente, vamos exemplificar para facilitar o entendimento mantendo nosso exemplo do último caso, com emissão de R$ 100 milhões pela empresa e as seguintes solicitações de aquisição (supondo também que essa tenha sido a ordem das compras realizadas):

  • Investidor A: R$ 20 milhões
  • Investidor B: R$ 40 milhões
  • Investidor C: R$ 60 milhões
  • Investidor D: R$ 80 milhões
  • Investidor E: R$ 100 milhões

Neste caso, como o rateio seria por ordem de chegada, os investidores A e B teriam todas as suas ações (cotas, no caso dos FIIs) adquiridas. Portanto, o investidor A compraria seus R$ 20 milhões, assim como o Investidor B com seus R$ 40 milhões.

O investidor C, por outro lado, ficaria com o restante da emissão (R$ 40 milhões) já que foi o terceiro a emitir ordem de compra. No entanto, veja que ele não conseguirá o montante total desejado, pois faltaram R$ 20 milhões que ele receberia caso tivesse feito sua oferta antes dos outros investidores (A e B).

Já os investidores D e E ficariam sem receber nenhuma ação/cota na medida em que toda emissão teria sido distribuída antes das suas respectivas ordens de compra.

Exemplos reais de rateio em IPO

O uso de rateio em IPO é mais comum do que parece. Recentemente, no ano de 2019, a Vivara optou por realizar o seu IPO e o volume de reservas de ações superou em cinco vezes a disponibilidade inicial. No caso da Vivara, o investidor de varejo conseguiu comprar apenas 3,2% do volume da oferta.

Outro caso muito famoso é da Visanet. Com o IPO realizado em 2009, a empresa precisou fazer o rateio de 38,35% na sua Oferta Pública Inicial. Isso significa que, no varejo, os investidores não puderam comprar sequer metade das ações pretendidas.

Como lidar com o rateio em IPO?

Como você viu ao longo do texto, o rateio em IPO é uma forma de equacionar um problema que é gerado quando o volume de reservas (demanda) é maior do que a oferta disponibilizada por uma empresa.

Entre os dois métodos, há muita discussão de qual seria melhor. Na prática, cada um deles tem vantagens e desvantagens. Um acaba sendo melhor para grandes compradores, enquanto o outro beneficia o pequeno investidor.

A verdade é que um processo de IPO, especialmente de grandes empresas, costuma atrair muita atenção dos investidores e é normal que seja necessário o uso de um formato de rateio.

Na tentativa de driblar esse cenário, alguns compradores podem reservar quantias maiores de ações justamente prevendo uma alta demanda. O problema dessa estratégia é que, caso ela não se confirme, os papéis precisam ser comprados.

Portanto, o ideal é respeitar os limites de capital e aceitar que nem sempre será possível adquirir o pretendido em um processo IPO.

Sobre o autor
Stéfano BozzaFormado em Administração pela PUC-SP. Trabalhou em empresas do segmento financeiro (Itaú BBA) e varejo (BRMALLS) até 2016, quando iniciou a jornada de produção de conteúdo para a internet com foco em finanças.