Mercado Financeiro

Por que as moedas latinas estão sofrendo tanta pressão no mercado?

O dólar/real se desvalorizou na semana passada e segue acima da linha de tendência de longo prazo do modelo da Wagner Investimentos, que desde abril de…

Data de publicação:28/05/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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O dólar/real se desvalorizou na semana passada e segue acima da linha de tendência de longo prazo do modelo da Wagner Investimentos, que desde abril de 2018 aponta para a alta do dólar no Brasil.

O gatilho de reversão está hoje está em R$5,20 (para ser preciso, em R$5,185). Por enquanto, o dólar/real segue no range oscilatório sugerido entre R$5,20 e R$5,45. Além disso, segue com dificuldade, ao menos por enquanto, de ser negociado acima de R$5,33.

Retrospectiva: semana de 17 a 21 de maio de 2021

 A inflação iniciou o ano subindo nos principais países do mundo com a reabertura da economia, notadamente do setor de serviços, devido o avanço da vacinação. Por isso, o próximo passo dos principais bancos centrais (Fed, Federal Reserve, o banco central americano - e BCE, Banco Central Europeu) será apertar a política monetária.

  1. Ata da reunião do Fomc (Copom americano): não surpreendeu totalmente os investidores, mas elevou os temores de que o Fed está atrasado no processo de regularização monetária e, por isso, deve iniciar a redução das compras de ativos este ano.
    A aposta é que Jerome Powell, presidente do Fed, indique em seu discurso no seminário de Jackson Hole (final de agosto) o início do processo de redução de compras de ativos, que atualmente está em $120 bilhões por mês.

Na ata há um descritivo das “apostas” dos investidores feitas em abril sobre esse processo:
a- As compras serão encerradas 9 meses após a primeira redução;
b- Os juros irão começar a subir 9 meses após o fim das compras.

Se essa “aposta” estiver certa, o Fed iniciará a redução de compras de ativos no último trimestre do ano e interromperá a compra de ativos no final do 1º semestre de 2022. Em relação aos juros, as taxas deverão subir a partir do 2º trimestre de 2023.

  • O PMI (prévia) do setor de serviços da zona do euro subiu e atingiu 55,10, bem acima da linha d’água de 50 (abaixo; indica contração econômica; acima, sinaliza expansão econômica) e bem acima dos 50,10 do mês anterior.

    O PMI (prévia) do setor de serviços dos Estados Unidos veio forte e superou por pouco a marca de 70. O índice composto, que leva em consideração manufatura e serviços, ficou em 68, e aponta expansão para o PIB neste segundo trimestre em torno de 8%, conforme o gráfico abaixo.

A consequência disso é que, com a manutenção do discurso do Fed de que a inflação nos Estados Unidos é provavelmente provisória e com boa recuperação da zona do euro, o dollar index caiu, está abaixo de 90 e perto de sua menor cotação pós-covid.

Próximos eventos relevantes

  • 28/05 - sexta-feira: PCE, que é a inflação oficial do Fed
  • 01/06 - terça-feira: indicadores PMI da manufatura da zona do euro e dos Estados Unidos
  • 03/06 - quinta-feira: indicadores PMI de serviços da zona do euro e dos Estados Unidos
  • 04/06 - sexta-feira: Payroll (criação de emprego, taxa de desemprego e reajuste salarial) nos EUA
  • 10/06 - quinta-feira: CPI (inflação do consumidor e índice não oficial) nos Estados Unidos
  • 16/06 – quarta-feira: reunião do Fomc (teremos Copom também!). Além do comunicado e da entrevista para a imprensa, será publicado o famoso “gráfico de pontos” com as novas projeções para a economia. O que mais os investidores irão observar é a projeção para a taxa de juros.
  • Final de agosto: Simpósio anual de Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kanasas Citay, e que acontecerá em agosto. Em diversas ocasiões este evento foi palco de importantes discursos sobre política monetária. (https://www.kansascityfed.org/research/jackson-hole-economic-symposium/economic-symposium-conference-proceedings/)

O que esperar do dólar/real

Três países da América Latina estão com as suas moedas sob pressão neste momento:

  1. Chile. Ocorreu a eleição para a assembleia constituinte e os aliados do atual presidente Sebastian Pinera não conseguiram ter ao menos um terço dos votos. Por isso, não poderão bloquear a aprovação de artigos da nova constituição, fato que favorece as forças de esquerda que desejam mais Estado.
  2. Colômbia. A S&P cortou o rating da Colômbia para BB+, primeiro nível de junk, devido à crise política e os protestos em massa contra a proposta do governo de elevar os impostos para ajustar o problema fiscal. Com isso, o país deixa o seleto grupo de “investment grade”;
  3. México: em duas semanas haverá eleições para o congresso. O Morena, partido do atual presidente e que é considerado de esquerda, está na liderança.

A região sofreu e sofre com estas notícias e o Brasil não conseguiu passar incólume. A nossa moeda perdeu bastante correlação com o Dollar Index, conforme o gráfico abaixo.

As duas moedas foram normalizadas em base 100 no início de novembro. O dollar index voltou para a mínima do período (96), mas o real não - deveria estar em 90, o que equivale a R$ 5,00.

Porém, no Brasil temos boas notícias:

  1. A reforma administrativa foi aprovada na CCJ e há previsão de economia do Governo Federal e dos governos estaduais em torno de R$180 bilhões no prazo de 10 anos;
  2. A reforma tributária está caminhando. O Senado dará andamento à PEC para o “passaporte tributário” (novo Refis) e a Câmara irá tratar projetos envidados pelo governo sobre imposto de renda, Pis e Cofins;
  3. A arrecadação de impostos está surpreendendo e vindo acima do previsto;
  4. O ministro Tarcisio Freitas segue emplacando muito bem as concessões. Teremos algumas dezenas de bilhões de reais de investimento em infraestrutura nos próximos meses no País;
  5. A Câmara aprovou a privatização da Eletrobras, que segue para o Senado. Em breve deveremos ter também a autorização para privatizar os Correios;
  6. Além disto, os fundamentos seguem melhorando. O Banco BTG espera que a dívida pública bruta encerre este ano em, no máximo, 85% do PIB, contra temores de que a dívida ficasse perto de 100% do PIB.

A lista de notícias acima é favorável para o País e para a nossa moeda, assim como a alta da taxa Selic e a expectativa de superávit em conta corrente.

Do lado negativo, temos:

  1. A CPI da Covid, que na verdade gera mais “ruído” do que “sinal”. Ou seja, chama muita atenção, mas não faz preço no mercado financeiro, já que até o momento não tivemos nada fora do esperado;
  2. A situação da covid-19 está indefinida. Observamos pela média móvel de 7 dias uma queda de 40% nos óbitos - mas de apenas 10% nos casos. Alguns nowcastings (projeções) indicam aumento do número de casos da Síndrome Respiratória Aguda (SRAG). Toda covid é SRAG, mas nem toda SRAG é covid.
    E, além disto, há notícias de algumas cidades fazendo restrição na circulação, e a cepa da Índia está presente no País.
    O quadro é incerto. Precisaremos de mais dados para entender se a covid está retrocedendo ou se estamos no início de uma nova onda;
  3. Com a situação incerta da Covid, voltam os pedidos para a extensão do auxílio emergencial, algo que irá prejudicar as contas públicas. Porém, com a arrecadação acima do previsto, isto pode não ser um grande problema, mas gera pressão altista para o dólar e para os juros.

A grande pergunta que fica é: o real será capaz de conseguir de ficar abaixo de R$5,00, ou irá se depreciar de novo e ficar em torno de R$5,50 - ou mais - nos próximos meses?

Pelos fundamentos, a resposta seria que o real deveria se apreciar e se aproximar de R$4,00 / R$4,50. Mas, de verdade, eu não sei e ninguém sabe, simples assim.

Acredito que o melhor a fazer é aproveitar cotações perto de regiões mais consistentes para fazer operações, sempre ponderando os riscos. Fazer cenários com moeda, por exemplo, em R$4,80 – R$5,20 e R$5,60 e verificar o resultado da operação.

Uma sugestão é fazer de 40% a 60% da operação nos preços extremos e aguardar um período para analisar o cenário e tomar outra decisão.

Pelo modelo da Wagner Investimentos, compras perto de R$5,20 podem ser feitas com objetivo de fazer proteção (hedge) com preço médio interessante.

Vendas perto de R$5,35 a R$5,45 podem ser feitas com objetivo de fazer proteção (hedge) com preço médio interessante.

 A pessoa física que tem compromissos em dólares ou que pretende investir no exterior pode aproveitar a moeda perto de R$5,20 para comprar.

Mas, lembre-se: se esse patamar for rompido, a chance de uma nova rodada de queda do dólar (estava em R$5,70 e caiu para R$5,20) pode acontecer em magnitude equivalente.

Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!

*Este artigo não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.

Sobre o autor
Jose Faria JúniorJosé Raymundo de Faria Júnior é economista graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em Administração pela Fecap. Sócio desde 2006 da Wagner Investimentos, possui as certificações financeiras CFP®️, CNPI, CGA e é Consultor de Valores Mobiliários.