Economia

Petrobras: Dúvidas e temores do mercado com Prates à frente da empresa; o que esperar

Política de preços dos combustíveis e manutenção da paridade internacional, e distribuição de dividendos estão entre as principais preocupações de investidores

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Data de publicação:31/01/2023 às 08:00 - Atualizado 2 anos atrás
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A estatal de petróleo, que está sob novo comando, continua vulnerável a interferências políticas? A principal dúvida que ronda a Petrobras desde as gestões anteriores, a independência para a definição de preços dos combustíveis, persiste como a grande preocupação de investidores. 

Não sem motivos: nesta segunda-feira, sem dar mais detalhes, Jean Paul Prates, que assumiu o cargo de CEO da empresa, afirmou que a política de preços de combustíveis é assunto de governo.

Em sua posse, na quinta-feira, 26, Prates disse que sua gestão terá foco em política de preços e dividendos. Especialistas acreditam que retoques profundos na política de distribuição de dividendos é um dos principais pontos. Desde então, as ações da estatal fecharam os três últimos pregões em queda, até porque há outros temores.

Manutenção das políticas de governança é outro ponto de atenção na Petrobras - Foto: Reprodução

Existe à frente da agenda de trabalhos uma penca de tarefas aguardando por Prates, segundo especialistas do setor.

Uma das prioridades é a definição da política de preços de combustíveis. Outras são a política de investimentos e de pagamento de dividendos. Todas com potencial de gerar estresse e forte volatilidade no mercado financeiro, sobretudo na Bolsa.

Prates declarou neste mês, antes de assumir o cargo, que não vai interferir nos preços de mercado. O presidente Lula, no entanto, não esconde seu desejo de mudar a política de preços de combustíveis.

Outro ponto de atenção dos investidores é a governança, que, para os especialistas, pode passar por grande teste com a mudança no comando da estatal. O entendimento, contudo, é que a empresa ficou menos exposta a interferências políticas, pelo reforço das práticas de boa governança, após a avalanche de escândalos de corrupção.

Embora considere que a Petrobrás está mais protegida, o mercado financeiro está com atenção redobrada ao que poderá ocorrer com a estatal. E reagido mal, até agora, à troca na direção da estatal.

Na quinta-feira, dia da posse de Prates, as ações ordinárias da Petrobras (PETR3) caíram 2,79% e as preferenciais (PETR4) recuaram 2,75%. No dia seguinte, sexta-feira, novas quedas: as ordinárias (PETR3) caíram 2,00% e as preferenciais (PETR4), 1,83%. Nesta segunda-feira, 30, as ações tiveram ligeira reação e fecharam com +0,31% e +0,51%, respectivamente.

O novo governo tem dado sinais de que pretende mudar o sistema de preços dos combustíveis e aumentar os investimentos da estatal. E indica que parte dos recursos para essa expansão viria da redução da distribuição de dividendos aos acionistas.

O que esperam os profissionais do mercado

Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, prevê mudanças na política de dividendos pela nova gestão provavelmente com a adoção de critérios menos generosos de distribuição aos acionistas.

Ele diz que, em vez de pagamentos de proventos de acordo com sua capacidade de geração de caixa, a companhia deve a passar a seguir a regra de distribuição mínima estabelecida por lei, que corresponde a uma fatia de 25% do lucro líquido. 

Arbetman acredita também na possibilidade de outras mudanças na política de dividendos, como a troca na frequência de distribuição, atualmente feita a cada três meses. Em outra possível alteração, a estatal decidiria pela manutenção ou não do pagamento, hoje facultativo, de dividendos adicionais.

As alterações na política de distribuição de dividendos devem ser as primeiras sob gestão do novo presidente, calcula. Arbetman prevê, no entanto, que a distribuição de proventos do quarto trimestre de 2022 deverá ser feito de acordo com os critérios em vigor.

Para Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos, o mercado vê com preocupação a relação de Prates com a diretoria que toma posse mais adiante, provavelmente em abril. Há uma desconfiança de que o presidente Lula venha a fazer indicações políticas que interfiram na política de preços, atualmente atrelada à paridade internacional.

O líder da área de análise da Warren, Frederico Nobre, afirma que o que está em discussão seria uma forma de “abrasileirar” a política de combustíveis. Uma fórmula que mantém a paridade de preços com o mercado internacional, mas com um componente que considere mais as variáveis do mercado doméstico e menos os custos de importação.

Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos, aponta três pontos na agenda de tarefas do novo presidente da estatal: além de eventual mudança no sistema de preços, a regra de distribuição de dividendos e a política de investimentos, sobretudo em energia renovável, o que vai impactar a avaliação da estatal, prevê.

A “cereja do bolo”, aponta o operador, está no cenário micro da empresa e ligada à governança, é a Lei das Estatais. “É uma questão importante saber se vai haver modificação nessa lei, porque quem vai colocar seu patrimônio lá quer garantias de que algum diretor, nomeado por critério político, não venha a gerar prejuízos para a empresa.”

Sobre o autor
Tom Repórter da Mais Retorno