Petrobras: com o fim da paridade internacional, investidores devem manter papel? Confira
Especialistas comentam sobre impacto da nova estratégia comercial da Petrobras nos resultados futuros e nos dividendos da companhia
Após ser alvo de muito debate, a política de paridade internacional para preços da Petrobras (o PPI) foi alterada no último dia 16 de maio.
Na prática, isso significa que reajustes não serão mais baseados no valor do combustível para importação, mas sim em outros requisitos descritos na nova "estratégia comercial" divulgada pela estatal.
Instituída em 2016, no Governo Temer, o PPI mantinha equivalência entre os valores praticados pela petrolífera para a importação de gasolina e diesel e a venda interna.
Para críticos, como o presidente Lula, a manutenção de reajuste "em dólar" não se justificaria, em especial considerando o impacto que os preços dos combustíveis têm na inflação (sendo um dos itens com maior expressão no IPCA).
Para defensores, a previsibilidade do valor dos combustíveis manteria estabilidade necessária tanto para comercialização internacional, impactando no lucro, quanto para investidores da própria Petrobras.
De acordo com o comunicado da estatal, a política anterior pressupunha: “a paridade com o mercado internacional - também conhecido como PPI e que inclui custos como frete de navios, custos internos de transporte e taxas portuárias – mais uma margem que será usada para remunerar riscos inerentes à operação, como, por exemplo, volatilidade da taxa de câmbio e dos preços sobre estadias em portos e lucro, além de tributos.”
Com a divulgação dos novos elementos que farão parte da estratégia comercial, as ações da Petrobras (PETR4) subiram 2,49%. Outras boas notícias que envolveram a estatal foram os fortes números na temporada de resultados do primeiro trimestre de 2023 e do anúncio do pagamento de dividendos bilionários na última sexta, 19.
Especialistas ouvidos pela Mais Retorno são unânimes ao afirmar que as mudanças não impactam a visão do papel, especialmente considerando o último balanço. Contudo, o clima é de cautela e de aguardo para os próximos passos da estatal.
Previsibilidade e transparência
A grande vantagem elencada pelos analistas ouvidos da manutenção do PPI era, justamente, a transparência e previsibilidade existente, uma vez que havia acompanhamento dos preços praticados no exterior.
“A PPI era mais transparente, mais direta, mais previsível. Era sim mais suscetível à volatilidade do mercado internacional, mas ainda assim era mais previsível sobre o que iria acontecer com os preços no mercado interno”, explica Paulo Albuquerque, analista de investimentos e sócio da Quantzed.
Na estratégia atual, o controle torna-se mais difícil, uma vez que depende de vários fatores, como custo do cliente e valor marginal para a empresa, por exemplo.
“Dá a impressão de que a empresa quer arbitrar os preços domésticos para um ‘valor justo’, que não sabemos qual é", afirma.
O analista ressalta que, embora seja válido considerar a função social da empresa, ainda não ficou claro qual é o “preço de estabilidade” que será oferecido. Albuquerque ressalta, também, que a estratégia é nova e que é necessário ainda aguardar para conferir, pois há muita “margem para subjetivismos” no momento.
“O fim da PPI não é o melhor para a companhia, pois tira previsibilidade e transparência das receitas, mas o mercado esperava algo pior”, pondera Leonardo Oliveira, analista da Lumi Research.
O principal risco, segundo Oliveira, é justamente se o valor do petróleo caminhar para direção oposta à atual.
“Enquanto o preço do petróleo se mantiver próximo aos patamares atuais entre U$ 70 e U$ 80 não esperamos grande impacto, com as margens se mantendo próximas às anteriores. O risco é o petróleo disparar, a pressão política crescer e a companhia começar a represar preços, assumindo prejuízos, como aconteceu no Governo Dilma”, destaca.
Impactos da mudança de política
Segundo Albuquerque, os números robustos apresentados ainda vão se manter, em sua visão, mesmo com a alteração na política de preços.
O analista entende, no entanto, que poderá haver diferença no resultado diretamente para o acionista.
“Agora, de fato, a mudança da política de preços dos combustíveis poderá afetar o resultado para o acionista. E digo “poderá” porque ainda é uma dúvida. Não sabemos exatamente como será feita essa nova política de preços, quais parâmetros, limites etc. A nova política de preços foi aprovada pela Diretoria Executiva, mas ainda é muito vaga", pontua.
A posição de Oliveira, é similar e, em seu entendimento, o estatuto da Petrobras e a própria Lei das Estatais protegem a empresa.
“As mudanças anunciadas nos preços não são profundas e tendem a manter um bom patamar de rentabilidade para a companhia, é natural que seu lucro recue este ano, pois o preço do petróleo está menor, por outro lado isto traz menor pressão política por uma intervenção”, destaca Oliveira.
Pelo que se espera da nova política, o nível de intervenção teria relação direta com a cotação do petróleo no mercado internacional, como ressalta Albuquerque. Se o valor subir muito, o subsídio no mercado doméstico pago pela estatal será maior e, por consequência, isso poderá impactar os acionistas.
“O que me parece claro é que a política de distribuição de dividendos vai mudar, independentemente do subsídio à gasolina. A atual gestão quer uma participação mais ativa da Petrobras no campo dos investimentos, o que reduz o resultado líquido para distribuir”, pondera o especialista da Quantzed.
Dividendos bilionários ficarão no passado?
De acordo com Albuquerque, “a era dos grandes dividendos pareceu ter ficado para trás”.
Se ainda vale ou não manter Petrobras na carteira, dependerá do objetivo do investidor, em sua visão. Caso o foco seja dividendos, pode ser que o nome não ofereça mais o que trouxe em rendimentos. Nesse caso, seria mais adequado a procura por outros nomes.
“Se o investidor busca valor, acho que vale ainda manter a empresa em carteira, por estar bastante descontada relativamente a seus pares internacionais, considerando que a empresa está investindo em transição energética etc. Parece ter muito valor a destravar no futuro”, explica.
Para Oliveira, o futuro do papel nas carteiras dependerá do desempenho da ação daqui para a frente. Até o momento, não houve nenhuma mudança significativa que sugerisse a alteração para o analista da Lumi Research.
“Estamos acompanhando as cotações e caso tenhamos uma alta mais forte, talvez encerraremos a posição realizando lucros”, ressalta o analista.
Leia mais
- Petrobras tem lucro de R$ 38,1 bi no 1º trimestre, queda de 14,4% ante 2022
- Inflação em queda? Itaú acredita que sim, pelo corte no preço dos combustíveis
- Petrobras vai absorver aumentos sem repassar ao consumidor, diz Prates
- Petrobras paga dividendos bilionários nesta sexta; veja o valor e quem recebe