Onde investir com queda na taxa de juros?
A partir da metade do ano de 2023, o Banco Central iniciou o processo de queda da taxa de juros — período no qual, de forma periódica e gradativa, vemos uma redução da Taxa Selic, que é a grande referência entre todas as taxas de juros do nosso país.
Ao mesmo tempo em que isso pode ser encarado como forma positiva na medida em que há maior controle da inflação e que o consumo se torna incentivado, há também o lado negativo para os investidores: uma queda nos rendimentos pagos pelos ativos de renda fixa.
Neste caso, qual é a melhor forma de investir em um cenário com queda da taxa de juros? É o que vamos responder no artigo de hoje.
Por que os juros estão caindo?
A economia funciona de forma cíclica. Ou seja, existem momentos de prosperidade econômica, em que há um grande consumo, bons níveis de empregabilidade e crescimento do PIB. Da mesma forma, existem momentos negativos, em que há aumento de desemprego e descontrole da inflação.
Se você gosta de economia, provavelmente sabe que esses eventos se relacionam diretamente e, por esse motivo, podemos dizer que a economia é e será sempre cíclica.
Depois de um período extremamente inesperado, como tivemos com a explosão de uma pandemia, o governo teve de lidar com um velho inimigo: o crescimento da inflação. Em parte, o índice inflacionário ficou sobrecarregado pelo aumento de consumo, um tanto estimulado com a redução da taxa de juros no período anterior.
Neste caso, tentando conter o aumento da inflação, uma das ferramentas de política monetária do Banco Central é elevar a taxa de juros, algo que foi feito entre agosto de 2020 e maio de 2022, quando a Taxa Selic subiu mais de dez pontos percentuais (de 2,0% ao ano para 12,75% ao ano).
Já na metade de 2023, esse aumento promoveu maior controle da inflação pela natural redução do consumo. Afinal, empréstimos e financiamentos ficaram mais caros. Esse é o momento que o Banco Central toma a postura oposta: começa a reduzir a Taxa Selic como forma a incentivar o consumo.
No gráfico abaixo, retirado da nossa ferramenta premium, fica mais fácil de entender esse comportamento. Note como, entre 2021 e 2022, a inflação (linha vermelha) ficou acima do CDI (linha verde). Em outras palavras, o aumento dos preços era superior aos ganhos de renda fixa. Com o aumento da Taxa Selic, veja como a inflação se torna mais estável.
Onde eu devo investir com a queda da taxa de juros?
Que a economia é cíclica e que agora é o momento de baixar as taxas de juros ficou mais claro, certo? Mas isso não resolve o nosso problema central: onde investir para seguir com bons rendimentos?
Se você tem um perfil mais “rentista”, isto é, tem preferência pelos ativos de renda fixa, então sabe que os ganhos mensais tendem a cair ao longo de 2024. Isso porque, afinal, o rendimento desses investimentos está diretamente relacionado com a própria taxa de juros.
Em seguida, nós vamos te apresentar algumas oportunidades em cada uma das principais classes de ativos do mercado financeiro. No entanto, lembre-se de respeitar sempre o seu perfil de investidor e os seus objetivos financeiros, ok?
Renda fixa
A renda fixa não morreu! Embora exista sim um impacto negativo nos rendimentos dos ativos mais “seguros”, não podemos nos esquecer de que ela ainda está com um rendimento anual atrativo. O consenso de mercado é de uma queda próxima a 9,75% ao ano até o final de 2024 — uma rentabilidade que segue interessante.
Portanto, os ativos de renda fixa continuam sendo uma boa opção e você não precisa se desfazer deles apenas pela queda nos seus ganhos mensais. No longo prazo, uma rentabilidade média acima de 8% ao ano com baixíssimo risco é muito compensadora.
Caso queira incrementar a rentabilidade da categoria, existem dois caminhos principais. O primeiro deles é buscar títulos bancários com um pouco mais de risco, mas sempre dentro da cobertura que oferece o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), protegendo-se assim de um eventual calote.
Outro caminho é buscar por títulos de renda fixa que sejam prefixados. Neste tipo de investimento, a definição do prêmio é feita no ato da compra, independente de mudanças econômicas. Desta forma, você consegue “travar” uma rentabilidade mesmo que a Taxa Selic siga em queda.
O risco aqui, claro, é uma reversão da tendência. Se o Banco Central voltar a elevar as taxas de juros, o seu investimento não terá esse aumento, pois a taxa prefixada já foi contratada.
Fundos multimercados
Apesar da renda fixa ainda ser uma boa opção, especialmente para um perfil de investimentos conservador, é possível também que você queira aumentar a sua rentabilidade neste período de queda da renda fixa. Neste caso, não há milagre: é preciso buscar um pouco mais de risco para a sua carteira.
A primeira opção para elevar os ganhos são os fundos multimercados. Neste tipo de investimento, o gestor tem a liberdade de trabalhar com diversas classes de ativos, incluindo renda fixa e renda variável no mesmo portfólio. É uma forma de aumentar os ganhos e vencer o CDI, mas sem elevar demais a sua volatilidade.
Aqui, os principais cuidados devem ser com a escolha do fundo. Como as decisões de investimentos são terceirizadas a um gestor profissional, é importante garantir um bom histórico para que você tenha confiança na estratégia.
Ações
O maior beneficiado com a queda das taxas de juros é o investidor de ações. A bolsa de valores tem um excelente histórico em períodos econômicos nos quais a Taxa Selic estava em baixa. Isso acontece por um fluxo natural: investidores que deixam a renda fixa neste cenário e buscam por ativos de maior risco.
Para investir em ações, você tem dois caminhos: abrir uma conta em uma corretora e comprar os papéis por conta própria ou utilizar dos fundos de investimentos dessa categoria, que são aqueles que possuem FIA (fundo de investimento em ações) na sua nomenclatura.
Importante ponderar que o potencial de ganho é superior à renda fixa, mas que ele se verifica no longo prazo e, em períodos curtos, podemos ter uma grande oscilação do dinheiro investido. Garanta que a sua exposição à renda variável esteja de acordo com o seu perfil de investidor.
Além disso, cada segmento tem uma relação diferente com as taxas de juros. A queda na Taxa Selic, por exemplo, é muito benéfica ao setor de varejo, mas nem tanto para o setor bancário, pois as empresas deixam de arrecadar tanto com juros.
Fundos imobiliários
Uma alternativa que fica no meio de campo entre renda fixa e renda variável são os fundos imobiliários (FII). Isso acontece porque, assim como as ações, as suas cotas estão na bolsa de valores e oscilam a cada minuto. Por outro lado, os FIIs possuem a característica de pagar rendimentos mensais aos seus cotistas.
Desde que você tenha consciência de que as cotas podem variar (inclusive de forma negativa, gerando perdas), essa pode ser mais uma oportunidade para a diversificação do seu patrimônio, gerando ganhos mensais e recorrentes.
Há também um outro atrativo dessa classe de ativos que é a sua correlação com os índices de inflação. Os imóveis, afinal, também são influenciados pela variação dos preços e isso impacta totalmente a sua precificação no mercado. Portanto, pode ser uma boa forma de equilibrar os diferentes ciclos econômicos.
Afinal, qual é a carteira perfeita para a baixa dos juros?
Diante de todas essas possibilidades, qual seria então o melhor investimento para o ciclo de cortes na Taxa Selic?
Pensando a curtíssimo prazo, isto é, nos próximos meses de 2024, podemos dizer que os ativos de risco estão em alta. A tendência é de valorização das ações e de outros investimentos de renda variável conforme os juros caem e afetam de forma negativa os ganhos da renda fixa.
Entretanto, esse exercício de adivinhação do futuro ou dos melhores investimentos dos próximos meses (o famoso “market timing”) é extremamente perigoso. Basta, afinal, uma piora dos índices de inflação que fatalmente teríamos uma revisão nos cortes dos juros, alterando todo cenário.
É por isso que sempre defendemos a criação de uma carteira de investimentos diversificada, com diversas classes de ativos. Essa é a melhor maneira de se posicionar aos bons ganhos que a renda variável oferece, mas sem abrir mão da estabilidade de boa parte dos ativos da renda fixa. Ademais, esse equilíbrio ajuda a evitar grandes perdas em algum evento inesperado, como aconteceu na pandemia.
Portanto, a dica para esse cenário de queda da Taxa Selic está na diversificação, abrindo um pouco a carteira aos ativos de risco (e maior prêmio), mas sem se desfazer da renda fixa. Afinal, ainda que esteja em queda, as nossas taxas de juros seguem em um patamar atrativo para os investimentos de baixo risco.