Economia

O que esperar do mercado para o segundo semestre

Se juros continuarem em alta mundo afora, existe pequena chance do Banco Central não baixar a Selic em agosto

Data de publicação:30/06/2023 às 08:00 - Atualizado 10 meses atrás
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Um dos principais pontos de atenção para o segundo semestre é o início do corte dos juros no País. Para alguns analistas é certo que isso aconteça em agosto, para outros, se os juros continuarem subindo no exterior, talvez não seja em sua próxima reunião que o Copom vai reduzir a Selic.

“Estamos esperando em agosto uma redução da taxa básica de juro no Brasil, da taxa Selic, que pode beneficiar o setor de crédito e consequentemente o consumo”, afirma Denis Medina, economista e professor da FAC-SP. 

Bolsa tem espaço para subir, mas dólar pode cair uma pouco mais - Foto: Reprodução

Mas somente uma redução dos juros não basta para uma recuperação mais consistente do consumo, porque o grande problema é a renda, aponta o professor. 

“Nos últimos 4 anos, a gente teve uma inflação de mais de 20% com a retração da renda média de 2%, então esse gap é que prejudica o nosso consumo, o nosso varejo, e aí nossa economia acaba não crescendo. A massa salarial continua estável”, indica o economista.

“Eu acho que vai ser difícil promover uma queda na Selic se todo o mundo está subindo juros”, considera Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira.

O especialista da Gava explica que nos Estados Unidos, os juros bateram recorde das últimas décadas, e talvez não parem de subir. O banco central americano deu uma pausa técnica no manejo da taxa, mas talvez ela continue subindo. 

A taxa de juros nos EUA está em 5,25% podendo ir para 5,50%, no Brasil, em 13,75%, mas Austrália e Canadá subiram os juros em junho, e Banco Central Europeu, embora com as taxas nas máximas, já anunciou que vai aumentar os juros na próxima reunião.

“Eu já acho que existe uma chance pequena de o Copom não baixar juros em agosto. Vai depender do mercado internacional. Se EUA subir os juros de novo eu não sei se no Brasil cai”, opina Brasil. 

É que com a taxa americana mais atraente, é natural que haja uma migração de recursos dos mercados emergentes para os títulos  dos Estados Unidos. A saída de recursos do País pode pressionar o dólar, o que aumenta a inflação.

Nessa mesma linha vai a análise de Dierson Richetti, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, sobre os juros no mercado internacional. “Os bancos centrais continuam sinalizando uma retomada de alta de juros para o controle da inflação mundial como um todo, ainda que tenha tido uma pausa, como no Estados Unidos”.

Richetti destaca ainda, no cenário externo, a guerra da Ucrânia, que mesmo sendo desidratada abrange questões muito importantes no que se refere aos transportes, via Mar Negro. Para ele, outro ponto crítico é a desaceleração chinesa, além de chamar a atenção para os primeiros movimentos das eleições americanas.

Dólar e bolsa

A expectativa do professor da FAC-SP é que o agronegócio continue surpreendendo, porque a demanda por alimentos no mundo vem subindo e o agro brasileiro já tem se beneficiado com esse contexto. 

Perspectiva que permite esperar também o dólar caindo um pouco mais como reflexo do bom desempenho da balança comercial do País, segundo Medina. 

“Provavelmente, a bolsa tem espaço para subir, alguns analistas projetam em 124 mil pontos, os mais otimistas em 130 mil pontos, até o fim do ano. Há um espaço para alta entre 2 e 10% no segundo semestre, o que é positivo”, afirma o economista. 

Ele explica que as ações estão baratas frente ao desempenho que as empresas estão apresentando. A retomada do crédito e do consumo podem melhorar a situação das empresas.

“O que tem prejudicado em vários aspectos tanto a política monetária quanto a perspectiva de investimento privado são as incertezas, os caminhos que não são claros nesse governo”. Medina se refere aos estímulos concedidos a setores isolados da indústria, como o automobilístico, enquanto outros setores continuam sem medida clara de estímulo. 

“Vamos esperar que venham incentivos através do BNDES ou de bancos públicos, que podem incentivar a habitação, a indústria, o comércio e o consumo. Isso é importante para a retomada da economia, com perspectivas de crescimento do PIB ainda maiores”, afirma o professor.

Richetti, da GT Capital, destaca as boas perspectivas com as commodities, que vem batendo recordes este ano e poderão contribuir para o fortalecimento da economia. “Mas é preciso ficar atento ao setor industrial, se o Brasil vai ter capacidade de voltar para uma produção mais efetiva, bem como a área de serviço”. 

Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.