Economia

Líder da KPMG no Brasil fala das principais mudanças trazidas pela pandemia ao mundo dos negócios

“No atual contexto, marcado pela volatilidade de mercados, pelas incertezas, transformações e pelos relevantes desafios, algo se tornou ainda mais imprescindível: gerenciar riscos”, afirma Jean Paraskevopoulos,…

Data de publicação:17/05/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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"No atual contexto, marcado pela volatilidade de mercados, pelas incertezas, transformações e pelos relevantes desafios, algo se tornou ainda mais imprescindível: gerenciar riscos", afirma Jean Paraskevopoulos, líder de Clientes e Mercados da KPMG no Brasil e América do Sul. Coordenador do estudo “Tendências e nova realidade: 1 ano de covid-19”, ele fala nessa entrevista à Mais Retorno das principais mudanças trazidas pela pandemia e o que elas exigem dos empresários para a perenidade dos negócios.

Jean Paraskevopoulos: ter agilidade no gerenciamento à crise para reposicionar as empresas e conectar-se às necessidades dos clientes
1 - Entre as mudanças na pandemia, qual é o novo padrão de consumo?

KPMG - O varejo digital foi o grande protagonista. Temos o on-line como resposta ao fechamento das lojas, sendo que muitos incorporaram o canal digital em definitivo, ou passaram a servir seus clientes em um modelo híbrido.

Os consumidores por sua vez, mais digitais, descobriram as conveniências da compra on-line, podendo acessar produtos e serviços, em canais distintos e fora de sua região usual, diminuindo a fidelidade às lojas e aos canais tradicionais, e temos um consumidor mais exigente e impaciente. Este consumidor digital pesquisa mais as informações sobre os produtos, preços, disponibilidade imediata dos estoques e a agilidade e segurança na entrega. Questões relacionadas à real preocupação do consumidor com a reputação da marca e questões de sustentabilidade ganharam muita relevância.

2 - O que as empresas devem considerar no cenário de mudanças?

KPMG - Para atender a estes novos padrões de consumo, as empresas tiveram que se adaptar de forma muito rápida para que os canais digitais pudessem suportar os canais físicos e vice-versa, com uma arquitetura tecnológica viabilizando o varejo digital e com segurança cibernética. Prover um varejo seguro com foco na saúde de clientes e colaboradores e com uma preocupação legítima em prover uma melhor experiência para seus clientes independente da forma digital ou física de vendas.  

3 - Qual o maior aprendizado a ser tirado das mudanças?

KPMG - A pandemia trouxe uma situação emergencial para o qual não havia “Manual de Instruções”, em que as decisões tiveram que ser tomadas de forma muito rápida para proteger as pessoas e os negócios, nesta ordem.

A transformação digital e a transformação dos modelos de negócios foram aceleradas em anos, e juntamente com a crise da covid-19, observamos uma ênfase na necessidade de melhor entendimento e implementação da gestão de aspectos sociais, ambientas e de governança – ESG, que inclui os aspectos éticos e de transparência, em todos os setores da economia, e as empresa que melhor se adaptaram a estas questões se mostraram mais resilientes durante a pandemia.

4 - Por que ESG ficou mais em evidência com a pandemia?

KPMG - Os aspectos sociais, ambientas e de governança sempre foram relevantes, mas a crise sanitária demonstrou diversas vulnerabilidades sistêmicas e trouxe à tona uma ênfase da sociedade na necessidade de melhoria destes aspectos. Esta demanda vem, não somente através da crescente necessidade de toda a sociedade de solucionar problemas concretos que impactam o desenvolvimento socioeconômico do país, como a fome, desigualdade social, descriminação e sustentabilidade entre outros, mas também de investidores cada vez mais comprometidos em criar um modelo de desenvolvimento marcado pela economia circular, de baixo carbono, inclusiva e regenerativa.

5 - Qual o setor mais afetado e o mais beneficiado com a pandemia?

KPMG - Todos tiveram muitos desafios, mas aqueles que escalaram com o comportamento do consumidor, como tecnologia, telecom, varejo online, agropecuária, alimentos, bebidas e farmacêutico se mostraram em geral mais resilientes e até cresceram; enquanto aqueles que tiveram sua demanda afetada de forma quase que permanente e precisarão reiniciar sofrem mais, como os setores de aviação, aeroportos, lazer e entretenimento.

6 - O home office veio para ficar?

KPMG - A suspensão do uso dos escritórios pelos funcionários foi uma das primeiras medidas implementadas pelas empresas como forma de frear a disseminação do vírus da covid-19. Ficou claro que o sistema híbrido de trabalho (parte remota e parte residencial) é uma tendência que veio para ficar considerando que se mostrou ser viável e eficiente o trabalho remoto.

Mais uma vez, o uso de tecnologias de videoconferência, compartilhamento de arquivos, assinaturas com protocolos digitais de segurança trouxeram uma nova camada de eficiência aos funcionários, que passaram a dedicar menos tempo com deslocamentos internos, externos e viagens.

Após o retorno seguro aos escritórios, mesmo com a flexibilização das restrições e avanço da vacinação, entendemos que existe uma parcela dos funcionários e empregadores que não sentiu a necessidade da presença física que deverá ter um novo significado nesta nova realidade.

7 - Qual o recado para os empresários?

KPMG - Os impactos e mudanças da crise advindas da covid-19 são imensas e pervasivas em toda a sociedade com repercussão não só na saúde, mas nos aspectos econômicos, sociais, financeiros, estruturais de segurança e políticos. Ter um processo de gerenciamento e resposta à crise é fundamental para reposicionar as empresas de forma rápida, seja na gestão do caixa, busca de novos modelos de negócios e receitas, estabelecer parcerias e se conectar rapidamente com as necessidades de seus clientes.  

Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.