Renda Variável

Troca de papeis: nos últimos dias, investidor vende ações de commodities e aplica em varejo; entenda o movimento

Enquanto Vale, Gerdau e Usiminas amargam perdas em junho, Gerdau, Magalu e Lojas Americanas são a bola da vez

Data de publicação:18/06/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Ações de empresas de dois setores vêm chamando a atenção de analistas e investidores na Bolsa de Valores. Enquanto as empresas exportadoras de commodities sofrem com uma correção no preço dos papeis, após um rali nos meses anteriores, as companhias de varejo vão se valorizando..

Esse movimento vem acontecendo desde o início de junho e, ontem, se repetiu. Empresas como B2W, Magazine Luiza e Lojas Americanas acumulam nos primeiros 16 dias de junho altas de 18,96%, 0,74% e 14,15%, respectivamente, as tradicionais Vale, Gerdau e Usiminas amargaram quedas de 5,78%, 8,44% e 6,34%, respectivamente e em igual período. Os dados foram compilados pela Economatica.

Fachada de uma das lojas da Lojas Americanas em Curitiba - Foto: Creative Commons

Especialistas dizem que esse movimento aponta para um balanceamento de portfólios, com grandes investidores pouco a pouco reduzindo o volume de ações mais voltadas ao exterior, com empresa que se beneficiam do super ciclo de commodities e, lentamente, se posicionando para uma possível retomada econômica, na medida em que avança o calendário de vacinação contra covid-19 por aqui.

No momento, os preços das commodities minerais passam por uma correção após um período de altas. Esse processo, no entanto, não significa que o ciclo positivo desses insumos está chegando ao fim. Jennie Li, estrategista de ações da XP, diz que algumas restrições adotadas pela China para evitar que a alta das commodities pressione a inflação têm segurado os preços do minério de ferro que mesmo assim, segundo ela, deverão permanecer em patamares elevados. “A demanda continua alta”, afirma a especialista.

Rotação de papeis no mercado

O recuo das ações de exportadoras, na contramão da valorização dos papeis das empresas de varejo representa, na opinião do chefe da área de renda variável da Valor Investimentos, Romero Oliveira, a volta do investidor ao setor de onde saiu no começo do ano.

Na época, a segunda onda de lockdown mais forte estimulou a procura por ações mais ligadas ao setor externo, de companhias exportadoras de commodities, com receitas em dólar, comenta Oliveira. “Agora, esse investidor começa a tirar o pé das empresas do setor de commodities, para assumir mais o risco interno, e vê oportunidades no segmento de varejo, à medida que o cenário interno começa a melhorar”, avalia.

Oliveira, assim como Jenni Li, não acredita, porém, em fim do ciclo de commodities. Ele afirma que, apesar da correção, os preços do minério continuarão elevados, pelo menos no curto prazo, e aponta que o que contribuiu para deprimir a receita das empresas exportadoras foi o recuo do dólar, de um patamar ao redor de R$ 5,80 para o nível atual em torno de R$ 5,00.

“O câmbio menos atraente, com a valorização do real, também prejudicou o faturamento das exportadoras”, concorda Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “Quem tem ações de exportadoras está colocando no bolso o lucro obtido com o boom recente das commodities e procurando oportunidades em outros setores que ficaram para trás, e o setor de varejo, que sofreu muito com a pandemia, é um deles”, aponta.

Varejo é bola da vez

Decididamente o setor de varejo é visto como a bola da vez no mercado de ações por especialistas, investidores e profissionais do mercado. O cenário básico que anima é a perspectiva de abertura da economia e a retomada mais consistente da atividade.

“Existe uma demanda reprimida e uma aposta na ‘compra por vingança’, afirma Felipe Leão, especialista em Renda Variável da Valor Investimentos, referindo-se ao consumidor que poupou na quarentena e está ávido para partir para as compras em um ambiente mais seguro.

Gustavo Cruz, da RB, diz que a atratividade das ações do setor de varejo vai além da perspectiva de aumento de consumo e faturamento das empresas. “Está havendo também um movimento muito forte de fusões e aquisições, com boas oportunidades em ações tanto na ponta compradora como na vendedora.”

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.