Dividendos de ações ou de FIIs: qual é a melhor opção para colocar dinheiro no bolso?
Especialistas mostram os prós e contras de cada tipo de ativo
Muitos investidores brasileiros têm uma predileção por focar seus investimentos de olho nos dividendos. Para obter esses proventos, há alguns caminhos: investir em ações de empresas que costumam entregar bons lucros ou apostar nos rendimentos dos fundos imobiliários (FIIs).
Muitos se perguntam, diante do cenário econômico atual, com taxa de juros e inflação nas alturas e crescimento mais tímido do País, qual é a melhor alternativa entre eles para obter os melhores rendimentos.
De acordo com os especialistas entrevistados para essa reportagem, não existe uma resposta assertiva para isso. Tudo depende do perfil do investidor, do que ele espera e como quer receber esses proventos.
Eles também concordam com um fato: não adianta sair correndo atrás de fundos imobiliários ou ações que pagam proventos elevados. É preciso entender os fundamentos do mercado e da empresa.
Recorrência e previsibilidade
Um dos aspectos que diferem os dividendos gerados de ações de empresas e dos fundos imobiliários é a recorrência. Do montante geral de empresas listadas na Bolsa, são poucas as que distribuem lucros todos os meses, como é o caso dos bancos.
Outras, no entanto, fazem pagamentos pontuais, porém enchem o bolso do acionista com valores mais altos.
Já os FIIs entregam dividendos praticamente todos os meses, o que reforça a sua previsibilidade. Segundo a lei 8.688/93 da regulamentação de fundos imobiliários, eles têm que distribuir aos cotistas um valor de 95% dos lucros auferidos em caixa por semestre.
Para Pedro Lang, especialista da Valor Investimentos, quem tem interesse em geração de renda, os FIIs podem ser um instrumento adequado.
“Apesar dos desafios enfrentados pelo mercado de fundos imobiliários, por conta das condições econômicas do País, tem fundo dessa categoria pagando acima da Selic, principalmente os de crédito”.
Pedro Lang, da Valor Investimentos
No entanto, o especialista afirma que o potencial de valorização patrimonial (cotas) desses fundos é mais limitado do que para as ações. “As ações têm menor potencial de pagamento de dividendos, porém, podem valorizar com mais força do que os FIIs”, ressalta.
Já Lucas Carvalho, especialista em renda variável da Blue3, destaca que é preciso ter cautela na hora de escolher os FIIs com foco em renda.
“O valor das cotas tem sentido o impacto do aumento forte e rápido da Selic, o que acaba impactando na remuneração do fundo. Porém, é preciso ter atenção e visão de longo prazo para não ficar trocando de investimentos em busca dos melhores dividendos. O investidor pode perder dinheiro”.
Lucas Carvalho, da Blue3
Fundos de papel e tijolo
Algumas categorias de fundos imobiliários têm apresentado uma melhor performance, como é o caso dos fundos de papel. Maria Fernanda Violatti, analista de fundos imobiliários da XP, destaca o fato dos ativos ligados ao crédito terem um portfólio indexado ao IPCA+ ou CDI+.
“Com a alta da Selic e da inflação, os fundos de papel estão sendo beneficiados e acabam entregando dividendos mais robustos”, destaca.
Maria Fernanda Violatti, da XP
“Já os ligados a imóveis, principalmente a shopping centers, ainda estão vivendo um período desafiador, por conta dos reflexos da inadimplência, entrega de imóveis alugados, entre outros”, aponta Lang.
Mesmo assim, a especialista da XP ressalta que não viu grandes interrupções no pagamento de dividendos dos fundos de tijolo, com exceção dos shoppings, que começam a se recuperar dos efeitos da pandemia.
“Muita gente tinha contratos longos de aluguel e acabou optando por mantê-los por conta das multas elevadas para romper os compromissos”, enfatiza.
Ações de commodities
Ygor Altero, analista-chefe do setor de real state da XP, aponta que as ações passaram a ser atrativas sob o olhar não somente dos dividendos, mas também no ganho de capital – o que é chamado de total return.
“Hoje as ações estão muito baratas, porém, diferentemente dos FIIs, tem maior volatilidade e risco. Porém, estamos diante de empresas com lucros altos e muitas delas sem fazer investimentos”, reforça.
Ygor Altero, da XP
O analista lembra ainda que as empresas estão amparadas pela Lei das S/A, que coloca como determinação o pagamento mínimo de 25% dos lucros, enquanto os FIIs entregam 95%, como dito acima. Mas, na prática, muitas delas acabam pagando mais de 40% disso.
Carvalho, da Blue3, destaca que, atualmente, os grandes destaques em ações que pagam dividendos gordos são ligados a empresas do setor de commodities, que surfaram uma onda de alta nos preços de itens como petróleo e minério de ferro por conta da conjuntura global, marcada pelo desequilíbrio de oferta e demanda, guerra na Ucrânia e lockdowns na China.
“São companhias que estão obtendo fortes lucros, não tem mais para onde crescer e não estão fazendo investimentos com receio do momento no qual o País vive atualmente, com risco fiscal e eleições”.
Desde o ano passado, gigantes como Vale e Petrobras vêm pagando dividendos que brilham os olhos dos acionistas, porém, de forma pontual. Para se ter ideia, a Vale está entre as 10 maiores pagadoras de dividendos do mundo, segundo o relatório Janus Henderson Global Dividend Index.
Já o dividend yield projetado da Petrobras nos últimos 12 meses está na casa dos 39%, tanto das ações ON quanto PN, de acordo com um levantamento feito pela Economatica. Na sequência, estão as elétricas Copel e CPFL, com cerca de 19%.
O especialista da Blue 3 destaca que há grandes oportunidades em cenário de risco, o que torna tanto as ações quanto os FIIs boas oportunidades para a obtenção de proventos, a depender do perfil do investidor.
Carteira diversificada
Para os especialistas, não há uma melhor alternativa a ser escolhida. A recomendação, segundo eles, é criar uma carteira diversificada com ambos os ativos. “Além das ações e FIIs, o investidor pode incrementar com um pouco de renda fixa para deixá-la mais completa, mitigando riscos e maximizando retornos”, diz Altero, da XP.