Mercado Financeiro

Novo rali para o dólar? Passada a PEC Emergencial, próximo desafio será a Selic

A passagem da PEC Emergencial pela Câmara sem a exclusão de policiais e agentes de segurança do gatilho fiscal deu aparente trégua à escalada do dólar,…

Data de publicação:11/03/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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A passagem da PEC Emergencial pela Câmara sem a exclusão de policiais e agentes de segurança do gatilho fiscal deu aparente trégua à escalada do dólar, que flertou com R$ 5,80 no início da semana. As expectativas se voltam agora para o Copom que será novo teste para a definição de cotação do dólar.

Após o esticão de segunda-feira, as cotações tiveram correção para baixo, mais acentuada ontem. Nesta quarta-feira, o dólar recuou 2,50%, e ficou cotado a R$ 5,65.

Mercado espera por reunião do Copom, na quarta, para entender novo patamar do dólar

A trégua, contudo, é vista como momentânea pelos especialistas de mercado. O entendimento é que o Copom deve definir a continuidade ou não da trajetória do dólar para patamares mais altos.

Juro é divisor de águas

O divisor de águas, acreditam especialistas, seria a nova Selic que sairá da próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), nos dias 16 e 17. “A decisão sobre a Selic poderá ser a próxima pressão sobre o dólar”, afirma Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.

O mercado dá como certo uma retomada de alta do juro básico. A aposta majoritária é por uma elevação de 0,50 ponto porcentual, que levaria a   Selic de 2,00% ao ano para 2,50% ao ano. “Mas pode vir um aumento pouco maior ou pouco menor”, afirma Carla. “E é isso que tem causado frisson no mercado.”

As expectativas em torno da possível nova Selic já influenciam os mercados, sobretudo o de dólar. Investidores procuram antecipar-se à   decisão do Copom, afirma Carla.

Isso porque o nível das taxas de juro afeta o preço do dólar. Especialmente quando o juro é negativo na economia e o País enfrenta crise de muitas incertezas. A Selic, que roda em 2% ao ano, é menos da metade da inflação prevista ao redor de 4,50%.

Não só o mercado reage à proximidade do Copom. O próprio Banco Central estaria pavimentado o caminho para evitar eventuais turbulências no mercado de dólar na esteira da decisão Copom.

Uma indicação disso, aponta a economista, teria sido a antecipação de meia hora, de 10h para 9h30, do leilão de contratos de swap cambial realizado nesta quarta-feira.

BC pode frear alta

A antecipação da oferta de títulos que equivalem à venda futura de dólares teria sido uma sinalização ao mercado de que o BC pretende agir com firmeza para conter uma valorização mais forte do dólar, acredita.

Haveria para essa decisão um teto informal de preço, no intervalo entre R$ 5,80 e R$ 6, acima do qual o BC se sentiria desconfortável. “E o mercado parece ter comprado a sinalização que o Banco Central deu., explica a economista.

O tamanho da Selic

Especialistas acreditam, contudo, que não basta uma elevação de 0,50 ponto porcentual na Selic para conter uma escalada do dólar. Seria preciso uma paulada nos juros, muito maior que a alta prevista pelo mercado.

Para a economista-chefe da CM Capital, uma elevação em linha com as estimativas do mercado, de 0,50 ponto na Selic, serviria para acomodar o dólar. “Uma alta menor que isso poderia fazer o dólar disparar”, avalia, embora não acredite que possa chegar a R$ 6. “A menos que o risco aumente muito e o investidor corra para os títulos do Tesouro americano.”

A alta dos juros americanos atrai os investidores, especialmente em momentos de incertezas, sobretudo com a pandemia. Não só pela   rentabilidade, como pela segurança que os títulos de países de economias mais avançadas oferecem.  Uma certeza, diz Carla, é que os mercados, especialmente o de dólar, passarão por momentos de muita volatilidade.

O estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, está entre os analistas que acreditam que apenas uma alta mais forte dos juros poderá levar à valorização do real frente ao dólar.

Ele reconhece, no entanto, que uma decisão dessas esbarra em restrições. Por vários motivos. Principalmente pela difícil situação fiscal, economia estagnada, dificuldades econômicas da pandemia, entre outras limitações.

Cruz afirma que, se a pandemia se agravar em meio à falta de vacinas, a economia não conseguirá reagir. E a derrubada de atividade poderá manter o dólar pressionado, embora não aposte na disparada do dólar rumo a R$ 6. “A aprovação da PEC emergencial deve melhorar as condições da economia e as expectativas do mercado, em relação a novas medidas econômicas”, prevê. “A grande dúvida é com a pandemia.”

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.