Com risco fiscal e inflação, juros futuros superam os 10% no longo prazo
Taxa de juro no mercado doméstico descolou do mercado internacional, com temor do risco fiscal
Se fosse seguir o comportamento dos mercados internacionais, as projeções para o DI (Depósito Interfinanceiro) deveriam ter caído nesta sexta-feira, 13. Afinal, tanto o dólar como os juros dos Treasuries estão em baixa lá fora. Só que no cenário doméstico a temperatura está cada dia mais alta em relação ao risco fiscal e, por isso, a curva de juros futuros imbicou para cima, e projeta um DI de dois dígitos no longo prazo.
No fechamento dos negócios, os contratos com vencimento em janeiro de 2031, o DI ficou estimado pelo mercado em 10,28%, e para 2029, em 10,07%. A alta também foi verificada nos contratos mais curtos: nos de vencimento em 2024 a 2029, as estimativas ficaram todas acima de 9%. Confira as cotações de fechamento em contratos com vencimento em janeiro de cada ano.
Vencimento Projeção
2031 10,28%
2029 10,07%
2028 9,94%
2027 9,80%
2026 9,60%
2025 9,54%
2024 9,06%
2023 8,35%
2022 6,65%
Nesse caldo de risco fiscal, o tamanho da dívida de precatórios (dívidas decorrentes de decisões judiciais), algo perto de R$ 90 bilhões, e que o governo terá de quitar no próximo ano, sob o risco de cometer crime de responsabilidade fiscal, lança desconfiança sobre a sua capacidade de pagamento sem estourar o teto de gastos. Não bastasse isso, a perspectiva de aumento do bolsa família, rebatizado de Auxílio Brasil, é outro e importante fator de pressão nas despesas, sem a contrapartida de receitas.
Diante desse quadro, as perspectivas são de aperto monetário, o que equivale dizer, aumento dos juros para conter a inflação, o que empurra os juros futuros para cima, e também para o financiamento da dívida pública.
Inflação em alta pressiona os juros futuros
Nesta sexta-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, repetiu que há diversos choques no Brasil que fizeram a inflação de curto prazo subir.
"Tivemos problema hídrico que gerou uma reprecificação de toda a cadeia energética no Brasil e parece que vai ter mais algum aumento de preço na bandeira 2 de energia", afirmou Campos Neto, em participação no 4º Encontro Folha Business, em Vitória (ES).
O presidente do BC admitiu que o movimento de subida da inflação de curto prazo teve "algum alastramento". "Por isso entendemos que era necessário um movimento de ajuste para que essa inflação não contamine o ambiente inflacionário e desancore as expectativas. Nossa missão número 1 é manter os preços sob controle, atingindo a meta de inflação que nos é delegada", enfatizou.
Campos Neto alertou também que a crise hídrica já impactou expectativas de inflação do mercado. "Quando temos bandeira vermelha 2 na conta de luz e em reprecificar as bandeiras, esse ajuste já foi feito. Para inflação, importa muito efeito em dezembro, que geralmente é um mês que chove muito e acaba baixando da bandeira", afirmou.
Ele destacou ainda que o cenário do BC já embute a maior parte da crise hídrica. "Pode piorar, porque estamos sujeitos a fatores climáticos. Mas olhando hoje, entendo que isso já está bastante precificado", completou.
O presidente do Banco Central salientou ainda que qualquer movimento abrupto de juros nos Estados Unidos gera reação em mercados emergentes, já que os juros americanos são um balizador de liquidez mundial.
"Mas é importante entender o fato gerador do movimento nos EUA. Se a alta de juros é porque o crescimento está muito forte e precisa de um novo equilíbrio macroeconômico, o impacto para emergentes é um. Mas se existe a percepção de que o BC americano está atrasado na política monetária e terá que subir mais os juros, esse processo pode gerar uma disfunção maior para os emergentes", afirmou.
Campos Neto considerou, no entanto, que apesar da maior inflação dos EUA, existe credibilidade suficiente e uma interpretação dos agentes de que o BC americano irá agir a tempo se for necessário.